quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

GARY SHEARSTON


A propósito da "Great Rock Discography", José trouxe à liça Gary Shearston. Julguei que ninguém o conhecia, mesmo lá fora. Foi um castigo para arranjar esta versão de "I Get A Kick" em CD. E só o consegui, precisamente no eBay no dia 12 de Outubro de 2006 num vendedor na Austrália.

E mesmo assim tive de lhe perguntar se era a versão original ou uma regravação, ao que amavelmente me garantiu que se tratava mesmo da original.

Experimente o José fazer uma busca no eBay ou na Amazon ou na Gemm à procura de Gary Shearston e analise os resultados. O inusitado seria, ao invés, que Martin C. Strong o tivesse incluído. Aliás ele explica bem as entradas, as omissões e as alterações.

Já agora deixem-me transcrever o que anotei no single que foi comprado no dia 11 de Março de 1975 na Valentim de Carvalho do Castil:

Quando comprei este disco, cerca do meio-dia, vi o avião que metralhou o RAL 1. Na altura não liguei ao aparelho. Para mim, era normal. Depois é que soube da tentativa de golpe de Estado.

O meu Rato não poderia ter hoje este tipo de memória escrita.

12 comentários:

josé disse...

Ora bem. O disco Dingo, Lp original, já cá canta. Venderam-mo na ebay.

A canção I get a kick, tenho-a gravada em cassete, porque em tempos apanhei-a numa emissão de rádio, espanhola.
Como tinha sempre o gravador em posição de gravar, apanhei a música, cheia de um suave ruído de fundo ( parece contraditório mas é assim, aquele ssshhhhh, do rádio).

A música, ouvi-a pela primeira vez, na Página Um, apresentada por Luís Filipe Martins ( hoje da agência LPM) e fiquei sempre com a memória musical bem marcada.

Acontece o mesmo com outro pouco falado e que em tempos veio a Portugal: Clifford T. Ward. Um fenómeno de composição musical, com vários discos fantásticos e que morreu com esclerose já há alguns anos.

Quanto ao Shearston, como é australiano, não há notícia de o mesmo ser muito célebre por cá.

Mas o I get a kick é fenomenal.

josé disse...

Tenho uma alinhamento escrito do programa Página Um, de finais de 74 e início de 75.

E gravei uma cassete com as músicas de determinados dias e que me lembram sempre a Página Um, de cada vez que as oiço.
Tempo fantástico, dos meus 18-19 anos.

A primeira, é precisamente I get a kick que regravei de outra cassete para fazer o alinhamento de acordo com o programa de rádio apresentado por LFM.
A seguir, vem I´ll play for you, dos Seals and Crofts ( este disco, também andei anos à procura e julgo que o comprei na Itália, há uns anos).
Depois, vem Prairie Rose, uma das canções mas espectaculares dos Roxy Music, do LP Country Life que trazia aquelas duas desavergonhadas na capa...

E depois, Kashmir, dos Led Zeppelin. O Página Um passava-o constantemente, nessa época e a progressão de sonoridades guitarrísticas e com teclados misturados, é imparável.

Depois, apontei Shooting Star dos Bad Company, com uma som acústico misturado com uma bateria e uma rítmica de ferro.

Logo depois, os Sparks. Um dos grupos preferidos dessa época. This Town is big enough for the both of us. Quantas vezes ouvi esta música!
Os Sparks em 74 eram um dos meus grupos preferidos e KImono my house, o disco de referência. Ouvi-o ( e ouço-o ainda) vezes sem conta.

Depois destes estrangeiros, Fausto e P´ro que der e vier e depois a Banda do Casaco, na sua primeira gravação e numa das suas primeiras apresentações na Página Um, com Dos benefícios de um vendidod.
Os Chicago e Harry Truman, do V álbum.
Santana e a Promessa de um pescador ( era assim apresentado por LFM) do álbum Borboleta, salvo o erro.
Sérgio Godinho a seguir com O meu compadre ( uma boa canção revolucionária).
Depois disso, a música francesa de um grande, grande cantor-autor:
Maxime Le Forestier, com Février de cette année la ( o Fevereiro de 1949, quando o tipo nasceu).
E o reggae de Ken Boothe, numa primeira abordagem desse ritmo. antes dos Wailers serem conhecidos, com uma magnífica canção dos Bread: Everything i Own.

A seguir, os Rolling Stones, com a música exhilarating It´s only rock n´roll ( but i like it).
Bryan Ferry depois disso, com um tema do disco a solo, Smoke gets in your eyes. Muito gostava de ouvir este clássico.
Os Sparks outra vez, num tema do disco seguinte, Propaganda ( no caso, Never turn your back on mother earth).
A Banda do Casaco, outra vez com a Morgadinha que é de 76, mas que me apeteceu porque sim, porque foi a Página Um que a passava.
E por fim, o disco de Dylan, Blood on the tracks e o tema farol , Lily Rosemary and the jack of hearts.

O Página Um insistiu tanto neste disco que ainda hoje o tenho como o melhor de Dylan e um dos melhores discos de sempre da música popular de expressão anglo saxónica.

TYhat´s all folks.

bissaide disse...

Clifford T. Ward, que bela lembrança! Tenho três excelentes discos dele - "Singer • Songwriter", "Mantle Pieces" e "Escalator" - e é de facto um autor que importa descobrir. Aquele talento para a melodia é coisa rara - oiça-se "I'm Not Waving, I'm Drowning" ou "Scullery", apenas duas que me vêm agora à cabeça. Não sabia era de ele ter vindo cá! Quando foi isso?

josé disse...

E também me lembro da história do avião. Através do relato de Adelino Gomes, em directo e numa reportagem que hoje não se faz.

E Adelino Gomes, também apresentou a Página Um.

Adelino GOmes, nunca foi aluno da Judite de SOusa...ahahahah!

josé disse...

Lembro-me de ouvir na rádio e deve ter sido por volta de 74. 73, talvez.

Na altura de Jane.

A voz de Clifford T. Ward é um espanto de melodia.

Waving and drowning, nem consigo ouvir na maior parte das vezes, porque é tão intensa que me incomoda. Razão?
Uma grande, grande paixão, nessa época.
É uma canção que me incomoda ouvir, por isso.

Outra, é a versão de Sandy Denny, da canção de Dylan TOmorrow is a long time.

ié-ié disse...

José:

Interessante esse seu relato do Página Um. Ouvia-o pouco, porque na altura andava na Revolução. Mas tenho cá em casa muitos discos que eram da discoteca do programa. Estão devidamente assinalados na contracapa. Qualquer dia vejo quais são. É que eu era amigo de quema fazia o programa.

Deixe-me dizer-lhe que a foto dessa capa da Roxy Music com as "desavergonhadas" foi tirada em Portugal, no Algarve. Eu até sabia a história, mas já não sei.

LT

josé disse...

Ora esses discos, do Página Um, para mim, são míticos.

Muita da música que ainda hoje aprecio, veio da Página Um, de 74-75. Mesmo com as interrupções por causa das greves e do fecho da RR, no período revolucionário. Um dia, ouvi uma entrevista, no programa, de alguém que se pronunciava contra os produtores independentes, na rádio, como era o caso.

mas prafraseando Milton Nascimento, na canção Saudades dos aviões ( da Pan Air), alguma música que tomo hoje, é apenas em memória, dos tempos da Página Um.

Por isso, a apresentação dessas curiosidades, seria um benefício público, em favor de um leitor interessado.
Mas quem sabe se não haverá mais?

E ainda me lembro da apresentação do programa que para mim teve o impacto que para outros teve o Em Órbita: "apresentação de Luis Filipe Martins e na parte técnica, José Videira". Era assim ou coisa que o valha.

Rato disse...

Ah, mas tenho a memória tout court desse dia. E precisamente àquela hora, meio-dia, encontrava-me a almoçar no refeitório do Técnico. Dessa vez não tiveram lugar as habituais escaramuças entre uecs e mrpps (volta e meia lá nos tínhamos de esquivar de um ou outro tabuleiro esvoaçante), mas o almoço foi à mesma interrompido e saltámos todos para o terraço do refeitório à procura dos aviões (na altura ainda não se sabiam pormenores, pelo que a imaginação não tinha limites).
Hoje em dia sabemos a conotação negativa que o período revolucionário tem. Mas quem viveu o PREC (qualquer que fosse a "barricada" em que se encontrasse) não o vai esquecer nunca! A vida, naqueles meses, era como a caixinha de chocolates do Forrest Gump: nunca se sabia o que de lá ia sair. Como diria o Springsteen, GLORY DAYS!

Vítor Soares disse...

O comentário do José sobre o impacto que, para ele, tinha, nos anos 70, a apresentação do Página 1("apresentação de Luis Filipe Martins e na parte técnica, José Videira") fez-me evocar a linguagem sofisticada e plasticamente muito mais requintada do Em Órbita dos anos 60:"Feito por nós e dito por mim", era o slogan com que a voz de Cândido Mota pontuava cada emissão.

Pessoalmente, fui moldado através dessa colheita pelo que, quando o Página 1 começou, em Janeiro de 1968, ainda com o José Manuel Nunes, não conseguiu obnubilar a exigência estética adquirida com a escuta do Em Órbita, se bem que o Página 1 tivesse outras mais valias como as crónicas parlamentares do Viriato Dias (uma novidade absoluta para a época) ou as reportagens do Adelino Gomes.

A partir de 1973, por estar em Angola, deixei de acompanhar a fase do Página 1 com o LFM (que agora é conhecido por Luís Paixão Martins). Quanto ao José Videira, com quem trabalhei ainda durante muito tempo, deixou-nos há cerca de um ano.

josé disse...

Pois continuando a memória dos tempos aventureiros ( nada disso,mas a expressão é jeitosa) da rádio, tenho a acrescentar que a apresentação do Página Um primava pela sobriedade, num modo de dizer em rádio que sempre me agradou. Cheguei a ouvir o José Manuel Nunes ( depois até em reportagens da Alemanha, na Deutsche Welle), o Adelino Gomes e o Luís Filipe Martins.
Dos três, o que acompanhei mais foi o LFM e confesso que gostei. Aliás, já lho disse por escrito, no blog.

Ainda hoje tenho saudades desse modo de fazer rádio: com sobriedade e gosto.

O Em Órbita seria outra coisa, com qualidade diferente, mas muito alta
também.
Tal como no programa À Sombra de Edison, dos anos oitenta. Este sim, um programa farol da rádio portuguesa. Superior, a meu ver, a esses dois que mencionei.

Fantástico até. Aparecia aos Domingos, de manhã, salvo o erro e era um regalo escutar tal programa por causa dos textos e das músicas com critério pessoal de algumas figuras de então e que pouco ou nada tinham a ver com critérios comerciais das editoras.

Uma das primeiras músicas que me lembro de ouvir na Página Um, com insistência viciante, foi Midnight at the oasis, de Maria Muldaur, de finais de 1973.

Tenho aliás, o disco que é uma maravilha.

josé disse...

Nisso, na atomosfera ambiente da época, concordo contigo, caro rato.

Também eu vivi o PREC à minha maneira: a combater ideologimente comunistas, com argumentos verbais e escritos, apenas, em assembleias de grupo de acção cultural e desportiva.

No sítio onde vivia e que era a minha terra de sempre, vi surgir do nada, colegas de escola, com a escola do partido e outros com escolas mais extremadas.
Nesse tempo, passei horas, serões e ensaios de teatro ( no grupo de acção cultural e desportiva) a tentar contrariar as ideias do comunismo científico e do marxismo-leninismo mais arreigado em indivíduos cuja doutrinação, vinha exclusivamente das sessões de lavagem ao ´cérebro no partido.

Era impressionante o modo como apresentavam as maravilhas dos países socialistas e quão inútil era sempre que lhes contrapunha as ideias que ia lendo no L´Express, de Raymond Aron ou Jean-François Revel. Reaccionários, era o qualificativo. Fascistas, no limite.

Por isso, em 11 de Março de 75, fiquei também especado à espera que os aviões do Ralis, fizessem algo mais do que matar um inocente que estava retirado.

Não fizeram e no dia seguinte, foi o começo da nossa desgraça económica.
Estamos ainda a pagar essa aventura, com as distorções de mercado que se estabeleceram entretanto.

ié-ié disse...

Podes crer, companheiro! Eu vivi intensamente o PREC, por dentro e por fora.

LT