Kampuchea.
sábado, 29 de dezembro de 2018
quarta-feira, 26 de dezembro de 2018
RED ROSE SPEEDWAY
Belíssima reedição com um CD Bonus: Mary Had A Little Lamb, Little Woman Love, Hi, Hi, Hi, C Moon, The Mass (live at The Hague), Live And Let Die, I Lie Around, Night Out, Country Dreamer, Seaside Woman, Best Friend (live in Antwerp), Mama's Little Girl, I Would Only Smile, Tragedy, Tank You Darling, 1882 (live in Berlin), Jazz Street e Live And Let Die (group only, take 10).
BEATLES EM POSTERS
"The Beatles In Posters", Tony Booth, The History Press, 2018, 192 págs., 9,38 £.
Muito interessante.
terça-feira, 25 de dezembro de 2018
HAPPY XMAS
POLYDOR - 6792528 - 2018
White Christmas - Away in a Manger (Once in Royal David's City) - For Love On Christmas Day (Eric Clapton) - Everyday Will Be Like a Holiday - Christmas Tears - Home for the Holidays - Jingle Bells (In Memory of Avicii) - Christmas in My Hometown - It's Christmas - Sentimental Moments - Lonesome Christmas - Silent Night - Merry Christmas Baby - Have Yourself a Merry Little Christmas
MARY HAD A BABY
REGAL-ZONOPHONE - RZ 3070 - 1972
Mary Had A Baby - Cherry Tree Carol (tradicionais)
Produção de Tony Visconti.
MERRY CHRISTMAS
BRUNSWICK - OE 9069 - edição britânica
Silent Night, Holy Night - Adeste Fidelis - White Christmas - God Rest Ye Merry, Gentlemen
NATAL MAIS UMA VEZ
Só agora descobri este disco, que é de 2014, e porque estava a 5 €...
Tem uma canção original de Natal, "Natal Mais Uma Vez", da própria Luísa Sobral.
ATÉ FADISTAS
SONY MUSIC - 2018
Estamos Quase No Natal - White Christmas - É Natal - Nasceu O Amor (Cuca Roseta) - Oh Noite Santa - Toca O Sino - Adeste Fideles - Have Yourself A Merry Little Christmas - Vai Chegar O Grande Dia (Cuca Roseta) - Noite Sagrada - Gloria In Excelsis - Ave Maria - The Christmas Song - Vou Tentar (Cuca Roseta) - Silver Bells - Pinheiro Verde De Natal (Cuca Roseta) - I'll Be Home For Christmas - Avé Maria - Pinheiro Da Vida
NATAL COM TRIO ODEMIRA
ORFEU - 6758
Quando O Menino Nasceu - Salvé Menino Jesus O Redentor - Noite de Paz, Noite Silente (sic)
Capa de Fernando Aroso
É NATAL
ORFEU - ATEP 6682
É Natal - Natal da minha Mãe - Natal dos Pobres - É Natal Em Todo O Mundo
Capa de Fernando Aroso, colaboração de Quim Barreiros.
NAVIDAD
HISPAVOX 477-11 - edição espanhola (1968)
El Cant Dels Ocells (popular) - Silent Night (Gruber) - The Little Drummer Boy (Onorati) - Cantique de Noel (Adam)
OS PEQUENOS CANTORES DA GUANABARA
PUILIPS - 425.661 - edição portuguesa
Silent Night - Adeste Fidelis - O Tannenbaum - Jingle Bells
Capa de Fernando Aroso.
segunda-feira, 24 de dezembro de 2018
NATAL TRANQUILO
The Christmas Song, Christmas Time, Jingle Bells, Have Yourself A Merry Little Christmas, Silent Night, Santa Claus Is Coming To Town, White Christmas...
domingo, 23 de dezembro de 2018
VISUALIZING THE BEATLES
Visualizing The Beatles, John Pring and Rob Thomas, Dey St., 2018, 276 págs.
Original, excelente, excelente!
Cortesia de PPBEAT
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
quarta-feira, 19 de dezembro de 2018
OS MELHORES ÁLBUNS A SOLO DOS BEATLES
Esta edição de Natal da Record Collector deu-se ao jogo "perigoso" de eleger os melhores álbuns a solo dos Beatles (não percebi se a ordem é aleatória, cronológica ou outra):
McCartney I - Paul McCartney (1970)
All Things Must Pass - George Harrison (1970)
John Lennon/Plastic Ono Band - John Lennon/Plastic Ono Band (1970)
Ram - Paul McCartney (1971)
Imagine - John Lennon (1971)
Living In The Material World - George Harrison (1973)
Ringo - Ringo Starr (1973)
Band On The Run - Paul McCartney & Wings (1973)
Walls and Bridges - John Lennon (1974)
McCartney II - Paul McCartney (1980).
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
O ROSTO DE EMMETT TILL
Os assassinos de Emmett Chegaram sem avisar Mascando cacos de vidro Com suas caras de cal
Vinicius de Moraes – Blues para Emmett Louis Till
Andar por uma estrada secundária e deserta no Mississippi profundo, numa tarde feia, cinzenta e chuvosa, é como caminhar por um cenário fantasmagórico onde, a todo o momento, um qualquer zombie se pode atravessar no nosso caminho e acenar com os braços, como quem nos pede ajuda…
Numa clareira à beira da estrada, na curva de um rio ou no arvoredo lá ao fundo, um negro pode ter sido espancado, deitado às águas ou pendurado no ramo mais alto de uma árvore…
Era bom que estivesse a exagerar, mas não estou…
Basta ouvir ou ler as declarações de quem viveu nestes sítios, há muitos anos atrás.
Toda a gente conhece alguém que um dia partiu de casa para não mais voltar… E os que tiveram a sorte de regressar vieram com as costas abertas a chicote, pernas e braços partidos e a cara feita num bolo…
Poucas dessas histórias viram a luz do dia.
Por vergonha ou medo de represálias, ficaram encerradas no interior da humilhação de quem sofreu na pele, ou na dor de quem viu partir, para sempre, os seus ente-queridos.
Mas a história que hoje vos vou contar viu a luz do dia. Muitos desejaram que não tivesse visto, mas viu…
Corria o ano de 1955 e Emmet Till era um rapaz de Chicago, de 14 anos e órfão de pai, que, como quase todos os anos, tinha vindo passar uns dias de férias em Agosto a casa do seu tio-avô Reverendo Moses Wright, no lugarejo de Money, no Mississippi.
Como todos os rapazes da cidade que gostam de se exibir na província, Emmett era extrovertido e gabarolas. Uma tarde, após terem andado na apanha do algodão, ele e mais uns quantos amigos dirigiram-se a uma mercearia local (a Bryant’s Grocery) para comprarem alguns doces e beberem refrescos. À saída, num ato de pura exibição para os amigos, Emmett terá assobiado à empregada de serviço na mercearia, uma tal Carolyn Bryant, de 21 anos, mulher do proprietário da loja.
Assustados com o que viram e conhecedores das regras locais em que um negro não deve tomar a iniciativa de se dirigir a uma mulher branca que esteja sozinha, e muito menos enviar-lhe um piropo através de um assobio, os amigos de Emmett desataram a fugir para as suas casas, enquanto que este se dirigiu, calmamente, para casa do seu tio-avô, como se nada fosse.
Durante uns dias nada se passou, mas Carolyn Bryant fizera, entretanto, queixa do miúdo ao seu marido e este havia-lhe garantido que lhe iria dar uma lição de boas maneiras…
Quatro dias após o sucedido, o marido, Roy Bryant, e o seu meio-irmão, J. W. Milam, irromperam pela casa do tio-avô de Emmett e levaram o miúdo à força, dizendo que lhe iriam dar apenas umas quantas vergastadas, para ele aprender como é que se deve tratar uma mulher branca…
E agora vou abreviar, porque a história está bem contada em vários sítios na Internet e quero poupá-los aos pormenores mais horrorosos…
Dir-vos-ei, apenas, que o perigoso Emmet Till, de 14 anos, foi levado para um celeiro em Glendora e aí morto à pancada. O seu crânio foi esmagado, o seu rosto foi desfigurado a murro e com o tiro de uma caçadeira, e o que restou do seu corpo foi enfiado num saco, enrolado com arame farpado a um velho ventilador de 35 kg dum moinho de algodão, para fazer peso, e deitado ao rio Tallahatchie, vindo a ser descoberto por um pescador vários dias mais tarde.
O corpo do miúdo ficou irreconhecível e só pôde ser identificado porque ainda tinha num dedo um velho anel do seu pai, com as suas iniciais, que a mãe lhe tinha dado antes de partir para casa do seu tio-avô.
As autoridades locais fizeram pressão para o corpo fosse enterrado no Mississippi, o mais rapidamente possível, mas a mãe de Emmett opôs-se e conseguiu que ele fosse transferido para Chicago.
E mais…
Contrariando todos os conselhos que lhe tinham sido dados, bem como todas as pressões que tinha sofrido, mandou abrir o caixão para que todos pudessem ver bem o corpo despedaçado e o rosto desfigurado do seu filho. Jornalistas vieram, como vieram, também, milhares de pessoas durante quatro dias, para prestar ao rapaz uma última homenagem.
E Emmet Till tornou-se uma questão nacional.
Mas a história, infelizmente, não acaba aqui.
Os dois suspeitos foram presos e acusados.
E houve julgamento, claro está…
E rápido…
Naqueles tempos, nos Estados Unidos, havia sempre julgamento…
Uma palhaçada de julgamento!
Contrariando todas as provas irrefutáveis que foram apresentadas pela acusação, um júri constituído apenas por brancos considerou os acusados “not guilty” dos crimes de rapto e assassinato. Foram necessários apenas 67 minutos para chegarem a essa conclusão.
Em boa verdade, o que é que esperavam…? De que valia a vida de um pobre rapaz de 14 anos, no Mississippi…? Como já não bastasse o incómodo de terem de simular um julgamento, ainda queriam que dois puros homens de raça branca fossem acusados e aprisionados…?
Mas, desculpem-me, a história ainda não acaba aqui…
Como nos EUA, após ter sido julgado e ilibado, ninguém pode ser acusado duas vezes pelo mesmo crime, quatro meses depois do julgamento os acusados venderam a sua história à revista “Look” por quatro mil dólares (mil e quinhentos para cada um mais mil para o advogado…) e contaram, despudoradamente e com todos os pormenores, a forma como tinham efetuado o rapto e o assassinato do miúdo. O título do artigo – “The Shocking Story of an Approved Killing” – diz tudo…
Mas a história ainda não vai acabar aqui…
Após o funeral, a mãe de Emmet Till, Mamie Bradley, enviou um telegrama ao presidente Eisenhower solicitando a sua intervenção no sentido de repor a justiça no assassinato do seu filho.
Não obteve qualquer resposta…
50 anos mais tarde alguns documentos do processo foram divulgados pelo FBI. Entre eles encontra-se uma Circular da Casa Branca redigida por um tal Max Rabb, Conselheiro de Eisenhower para as minorias, na qual se dizia que a mãe de Emmett Till era um mero instrumento dos comunistas e que “qualquer reconhecimento perante ela poderia ser utilizado em prol da causa comunista neste país…”.
Era necessário, portanto, que o caso fosse esquecido o mais depressa possível, como chegou a pedir um jornal do Mississippi, o Jackson Daily News.
Mas o caso não foi esquecido…
William Faulkner, pouco avezo a manifestações públicas em situações desta natureza, escreveu um artigo violento e acusador num jornal local…
Um escritor negro do Mississippi, Jerry W. ward Jr., dedicou-lhe um poema, “Don’t Be Fourteen in Mississipi”, que pode ser lido na Net.
Vinicius de Moraes dedicou-lhe, também, um poema em 1962, “Blues para Emmett Louis Till”, que Toquinho musicou.
Para terminar em beleza, a virgem ofendida, Carolyn Bryant, acabou por confessar em 2007 que tudo o que havia dito em tribunal acerca do comportamento de Emmet Till era mentira, e a única ofensa que o miúdo lhe tinha feito fora, efetivamente, o assobio…
Não só no âmbito da população negra, mas também junto de um público branco mais esclarecido, o “affaire” Emmet Till foi um escândalo que ajudou a perceber como era a vida e a justiça no Sul profundo, e gerou um movimento de condenação e solidariedade de grandes proporções, a nível nacional.
Poucos meses depois, a 1 de Dezembro de 1955, na cidade de Montgomery, Alabama, Rosa Parks recusou-se a ceder o seu lugar num autocarro a um branco, tendo sido presa. Com Emmet Till ainda na memória de todos, a reação a este ato iria marcar, para sempre, a história da luta pelos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, mas isso é história que vos contarei noutra oportunidade.
Como vos disse, o dia estava feio, chuvoso e cinzento quando cheguei a Money, no Mississippi, que é um lugarejo no meio de nenhures com meia-dúzia de casas nas redondezas.
O letreiro do “Mississippi Freedom Trail” não deixava qualquer dúvida. Era ali que se situava a Bryant’s Grocery e fora ali que tudo tinha começado.
Mas olhava-se à volta e não se via nada, a não ser uma velha bomba de gasolina que eu sabia muito bem que não era a mercearia que procurava, porque já a tinha visto em fotografias.
Bryan’s Grocery, nem vê-la…
Paul Theroux, no seu livro “Sul Profundo” que aqui há tempos mencionei, já nos tinha alertado. A Bryant’s Grocery estava no topo da lista dos “Dez Mais Ameaçados Locais Históricos do Mississippi”, por duas razões: primeiro, porque do edifício inicial mais não restava do que algumas paredes em estado periclitante, cobertas por ervas e arbustos, naquilo a que ele próprio chamou “a estrutura mais fantasmagórica que vira em todas as minhas viagens pelo Sul”; em segundo, porque talvez que aos próprios habitantes locais interessasse mais deixar cair o que restava, para que essa má memória desaparecesse, para sempre, das suas vidas…
Lá muito perto, também as águas do rio Tallahatchie, para onde há sessenta e três anos atrás fora lançado o corpo de Emmett Till, corriam feias, tristes e silenciosas, como se também elas sentissem vergonha por se terem visto envolvidas nesta triste história…
Este texto já vai longo e peço-vos desculpa pelo incómodo.
Mas não vos quero deixar sem vos convidar ao visionamento de um pequeno filme de sete minutos que encontrei no YouTube.
Dir-me-ão que não há muita diferença entre aquilo que lá está dito e o que vos acabei de contar…
Mas existe uma diferença muito importante: é que lá se vê o rosto de Emmet Till.
Também eu, tal como a sua mãe há 63 anos, fiz questão que vissem e fixassem bem esse rosto…
Num Mundo em geral, e numa Europa em particular, em que a xenofobia, a intolerância e o racismo avançam a passos de gigante, é cada vez mais importante vermos e não esquecermos o rosto de Emmett Till.
PS:
Como vos referi no texto, a história de Emmett Till está profusamente documentada na Net. O livro de Paul Theroux (págs 245 a 258) contém informações importantes, nomeadamente no que respeita ao Relatório do FBI de 2004, que não me lembro de ter visto em mais lado nenhum.
Texto e imagens de Luís Mira
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
"PENINA" TEM 50 ANOS
Paul McCartney compôs "Penina" há 50 anos, no Algarve, depois de uma noite de copos.
Esta imagem é da primeira página do "Diário Popular" de 13 de Dezembro de 1968, uma sexta-feira, durante as férias do Beatle na Praia da Luz (Algarve), altura em que compôs, mas nunca gravou, a canção.
"Penina" foi editada em primeiro lugar pelos Jotta Herre, em Março de 1969 e, a 4 de Julho, por Carlos Mendes. Ambos os discos tiveram edições no estrangeiro. Sempre era um inédito de McCartney.
O vocalista dos Sheiks regravaria "Penina" este ano, 2018, em tom jazzístico, com a ajuda do autor deste blogue, a quem Carlos Mendes recorreu.
Esta imagem é da primeira página do "Diário Popular" de 13 de Dezembro de 1968, uma sexta-feira, durante as férias do Beatle na Praia da Luz (Algarve), altura em que compôs, mas nunca gravou, a canção.
"Penina" foi editada em primeiro lugar pelos Jotta Herre, em Março de 1969 e, a 4 de Julho, por Carlos Mendes. Ambos os discos tiveram edições no estrangeiro. Sempre era um inédito de McCartney.
O vocalista dos Sheiks regravaria "Penina" este ano, 2018, em tom jazzístico, com a ajuda do autor deste blogue, a quem Carlos Mendes recorreu.
sábado, 8 de dezembro de 2018
sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
SONNY BOY WILLIAMSON
He is gone, Sonny Boy is dead and gone
He is gone, Sonny Boy is dead and gone
Can’t nobody play harp the way he done
He is dead, he’s dead, I ain’t crying but I’m sad
He is dead, he’s dead, I ain’t crying but I’m sad
He made you feel good when he played and me feel sad
I’m so glad, I’m so glad, that is music is going on
I’m so glad, I’m so glad thar is music is going on
But I’m so sad, so sad, the greatest one is gone
Sonny Boy Williamson - Jack Bruce e Paul Jones
Aí pelos meus 15/16 anos, quando não tinha aulas passava as tardes em casa do meu amigo João Pedro a jogar às cartas ou aos matraquilhos e a ouvir música.
Por vezes apareciam por lá outros colegas dele da Escola Alemã. Lembro-me do Eduardo, do Guimarães e até o Herman José por lá passou…
Por essa altura, em que a nossa Religião era a chamada música popular de expressão britânica e a nossa Igreja o “Em Órbita”, o meu amigo João tinha em sua casa algumas preciosidades (Simon & Garfunkel, Tim Buckley, Leonard Cohen, Tim Hardin, Donovan, Fairport Convention…) que tornavam essas tardes de lazer uma verdadeira delícia.
Mas quando os amigalhaços do João lá estavam, a música era outra e, quase sempre, bastante mais “pesada”… Ten Years After, Canned Heat, Led Zeppelin e outras coisas do mesmo estilo que, na sua generalidade, eu já pouco apreciava.
No final dos anos 60 coincidiram por lá dois discos que eram ouvidos em permanência: “Super Session”, de Mike Bloomfield, Steve Stills e Al Kooper e “The Life Adventures of Mike Bloomfield & Al Kooper”. Que estes dois últimos não eram flor que se cheirasse vim eu a saber mais tarde, porque foram precisamente eles os comparsas de Bob Dylan naquela célebre noite de Newport em Julho de 1965, de que ainda no outro dia vos falei.
Como vos disse, as músicas desses dois discos eram ouvidas em sessões contínuas, sobretudo “Season of the Witch”, do primeiro, que durava mais de 10 minutos e cujos solos de guitarra de Mike Bloomfield e de orgão de Al Kooper me deixavam os cabelos em pé (na altura tinha muitos…). Se “Season” já não fazia parte das minhas músicas favoritas do Donovan, esta versão era pura e simplesmente intragável para os meus ouvidos de então.
Mas o segundo disco tinha uma música com uma batida muito agradável, que se chamava “Sonny Boy Williamson”, de que conseguia gostar. O problema era que a tal batida era de muito curta duração em comparação com os intermináveis solos a que aqueles dois, mais o Carlinhos Santana, invariavelmente se dedicavam. Em todo o caso, bem melhor do que a versão original de Paul Jones, que só vim a conhecer alguns anos mais tarde.
Durante tardes a fio aqueles “Fritzs” da Escola Alemã estendiam-se ao comprido no sofá, fumavam uma reles imitação de charro com erva plantada na “marquise” das traseiras e fingiam que partiam numa longa viagem…! E por cada três “Season of the Witch” eu só tinha direito a um “Sonny Boy Williamson”, injustiça que aguentei com grande espírito de compreensão e de camaradagem. E quanto a charros, estou como o outro: fumei mas não inalei…!
Dava para perceber que era um músico, mas eu estava então longe de saber quem era esse tal de Sonny Boy Williamson.
Naquele tempo não havia Net nem livros à mão de semear. O stock das discotecas era muito limitado, e o acesso à informação demorado e complicado. Já se podia mandar vir livros e discos do estrangeiro (a saudosa “Tandy’s Records”…!) mas demorava uma eternidade e, que diabo, conhecer Sonny Boy Williamson não era, para mim, uma prioridade…!
E só muitos anos mais tarde vim a saber quem ele era. E mais: que não havia apenas um, mas dois Sonny Boys Williamsons…
O primeiro, John Lee Williamson de seu nome verdadeiro, era oriundo do Tennessee, fez quase toda a sua carreira em Chicago e era um exímio tocador de harmónica. Morreu assassinado em 1948 e ficou na História por ser o autor de “Good Morning Little School Girl”, que muito anos mais tarde chegaria a ser gravada pelos Grateful Dead e pelos Ten Years After.
O segundo rapinou o nome ao primeiro ainda em vida dele, e era um malandro de Glendora, no Mississippi, de nome Alex “Rice” Miller que aprendeu a tocar harmónica muito cedo e também muito cedo se meteu à estrada, tocando onde calhava e com quem calhava (chegou a tocar com Robert Johnson, Big Joe Williams e Elmore James …..), inicialmente com o nome de “Little Boy Blue”.
A partir de 1941 teve um programa de rádio em Helena, no Arkansas, onde se começou a apresentar sob o nome de Sonny Boy Williamson. No final dessa década viveu em West Memphis com a irmã e o cunhado, o célebre Howlin’ Wolf, que depois acompanhou para Chicago em meados dos anos 50, vindo a alcançar aí grande popularidade como vocalista e tocador de harmónica, junto de uma população maioritariamente negra.
Mas o seu pico de celebridade teve-o nos anos 60, quando passou largas temporadas na Europa e se tornou, juntamente com Muddy Waters, B. B. King, John Lee Hooker e tantos outros, um dos grandes ídolos da geração de músicos ingleses que haveria de estar na origem do Rock-Blues e que incluía nomes como Eric Clapton, John Mayall, Steve Winwood, Eric Burdon, Jack Bruce, Ginger Baker, Long John Baldry, Jimmy Page, Jeff Beck, Georgie Fame, Chris Farlowe, Manfred Mann, Paul Jones ou Alexis Korner, para já não falar em Brian Jones, Keith Richards e Mick Jagger, na altura também totalmente devotados ao Blues (como se sabe, o próprio nome “Rolling Stones” foi retirado de uma música de Muddy Waters).
Essa gente veio a estar na origem de bandas famosas (Yardbirds, Spencer Davis Group, Cream, The Blues Incorported, Manfred Mann, The Bluesbreakers, Rolling Stones, Led Zeppelin, etc). E essas bandas não só divulgavam, através de novas interpretações, os velhos blues do antigamente, como convidavam esses bluesmen para tocarem com elas e, muitas vezes, abrirem os concertos onde eram a principal atracção. Ainda hoje Bill Wyman afirma (vd. documentário “The Life of Riley”, sobre B. B. King, que tem vindo a passar nos Telecines) que a tournée que os Stones fizeram com B. B. em 1969 terá sido a melhor de sempre da banda.
Essas bandas britânicas tiveram, por outro lado, um sucesso muito grande no outro lado do Atlântico junto de um público jovem branco (a british invasion não foram apenas os Beatles…), que em grande parte desconhecia a existência dessa música e desses músicos negros.
No documentário de Richard Pearce “The Road to Memphis” (desculpem-me o excesso de citações, mas não posso estar aqui a dar palpites sem citar as minhas fontes…), é comovente ver B.B. King a contar como ele e a sua banda, que raramente tocavam para brancos, chegaram ao Fillmore (East ou West, já não me lembro…) para dar um espetáculo e viram bichas enormes de malta branca e ficaram a olhar uns para os outros, convencidos que se tinham enganado no local…
A divida desses velhos bluesmen para com esta geração inglesa é enorme, tal como o próprio B. B. King, uma vez mais, o reconheceu noutra ocasião:
“Se não tivessem sido os músicos britânicos, muitos de nós, músicos negros da América, continuaríamos a passar muito mal, tal como passávamos antes. Graças a eles abriram-se portas que nunca imaginei que se abrissem na minha vida” (B. B. King in documentário “Red, White and Blues”, de Mike Figgis).
Tudo isto faz parte da História do Blues e Sony Boy cavalgou essa onda de popularidade.
Gravou com os Yardbirds e com os Animals, fez diversas “tournées” pela Europa com os “American Folk Blues Festival”, que era um conjunto de músicos de blues, folk blues e rhythm & blues que punham em cena a sua música em espetáculos ao vivo.
Sonny Boy Williamson II, como agora é conhecido, era um figurão (ou, se preferirem, a “colorfull character”, como lhe chama a placa do “Blues Trail” na sua terra natal…) e pode ser visto no YouTube, apresentando-se em palco impecavelmente vestido, de chapéu de coco na cabeça e chapéu de chuva na mão, para além da mala onde transportava todos os seus instrumentos. Era um verdadeiro “one man show” e uma das suas especialidades era engolir meia harmónica e tocá-la assim mesmo, sem a ajuda das mãos.
Mas era conflituoso e com tendência para se meter em alhadas, o que terá apressado o seu regresso à Pátria em finais de 1964. Retomou em Helena, no Arkansas, ao seu antigo trabalho de animador radiofónico, para pouco depois, em 1965, morrer de um ataque cardíaco em pleno sono.
Em Helena não me lembro de ter visto nada que guardasse a sua memória.
Mas Glendora, sua terra natal, não se esqueceu dele… Acolhe o visitante com um bonito cartaz de boas-vindas em seu nome e dedica um pequeno museu à sua memória, paredes meias com o de Emmett Till. Bem pobre e feinho, por sinal, como feio é quase tudo o que vi em Glendora, um dos lugares mais miseráveis que visitei em todo o Mississippi.
Saí de Glendora em direção a Money, localidade onde foi barbaramente assassinado Emmett Till, como vos contarei no próximo texto. Mas tive saudades do meu amigo João e dos nossos tempos de adolescência, e também muita pena de não ter no carro nem “Season of the Witch” nem “Sonny Boy Williamson”, que naquele preciso momento me teriam sabido muito bem ir a ouvir pelo caminho…
PS:
Não o disse na altura própria e agora não quero sobrecarregar o texto, mas “Sonny Boy Williamson” foi uma homenagem ao músico por ocasião da sua morte, composta por Jack Bruce e Paul Jones e interpretada por este último em 1967, como B-Side de “I’ve Been a Bad, Bad Boy”, música do filme “Privilege”, de Peter Watkins.
Paul Jones passa, aliás, por ser o maior “otário” da História da Música Rock, porque parece ter recusado ser o vocalista da banda que viria a dar origem aos “Stones”. Mick Jagger agradeceu…
PS2:
Não obstante o meu tom jocoso, Mike Bloomfield e Al Kooper foram figuras muito importantes do blues revival americano dos anos 60/70, na esteia dos seus colegas ingleses. De Kooper guardo um excelente disco na minha coleção: “Easy Does It”, que tem a melhor cover que conheço de “I Got a Woman”, do Ray Charles.
Texto e imagens de Luís Mira
terça-feira, 4 de dezembro de 2018
NÃO SE DEIXEM ENGANAR!
BDA - CD111 - 2018
Não se trata de um disco de Bob Dylan, mas sim dos "standards" originais (Tony Bennett, Frank Sinatra, Patti Page, Sarah Vaughan, Bing Crosby, Dean Martin e outros) que o Prémio Nobel gravou.
Para desenjoar é bom!
segunda-feira, 3 de dezembro de 2018
CILLA BLACK
PARLOPHONE - 9029556092 - 2018
Step Inside Love (Paul McCartney) - Anyone Who Had A Heart (Burt Bacharach/Hal David) com Rebecca Ferguson - Don't Answer Me (Ti Vedo Uscire) (Bruno Zambrini/Luis Enriquez/Peter Callander) - Surround Yourself With Sorrow (Bill Martin/Phil Coulter) - You're My World (Il Mio Mondo) (Carl Sigman/Gino Paoli/Umberto Bindi) com Cliff Richard - Both Sides Now (Joni Mitchell) - Conversations (Jerry Lordan/Roger Greenaway/Roger Cook) - Alfie (Hal David/Burt Bacharach) com Sheridan Smith - Something Tells Me (Something's Going To Happen Tonight) (Roger Greenaway/Roger Cook) - Your Song (Bernie Taupin/Elton John) - Love Of The Loved (Paul McCartney/John Lennon) - Love's Just A Broken Heart (L'Amour Est Ce Qu'il Est) (Michele Vendome/Mort Shuman) - Have I Told You Lately (Van Morrison) - It's For You (PaulMcCartney/John Lennon)
Paul McCartney toca guitarra em "Step Inside Love", de sua autoria.
Uma bela surpresa!
Etiquetas:
Cilla Black,
Cliff Richard,
Paul McCartney
NOVA CASA DOS LEITÕES
Estrada Nacional nº 1, Peneireiro, Aguim, Anadia - 966 733 411.
Muito bom, o vinho local, da Quinta da Mata Fidalga também se recomenda.
O restaurante tem uma lotação de 300 pessoas.
sábado, 1 de dezembro de 2018
I WISH I WAS IN NEW ORLEANS...
And I wish I was in New Orleans, ‘cause I can see it in my dreams
Arm-in-arm down Burgundy, a bottle and my friends and me
New Orleans, I’ll be there
Tom Waits
Os restaurantes e cafés de New Orleans são espantosamente bonitos.
Mesmo quando parecem ser demasiado grandes, têm sempre um balcão ou um cantinho onde nos podemos recolher confortavelmente e em tranquilidade.
Este que vos mostro, na Bourbon Street, atraiu-me pela enorme exposição que tinha de garrafas de whiskey, cognac e brandy, numa variedade que não me lembro de ter visto em mais lado nenhum. E tudo bem arrumado em bonitas estantes e armários de madeira, a que a má qualidade das fotografias não permite fazer jus.
Lembrei-me de o dedicar a Tom Waits, que gostava de se imaginar em New Orleans com uma garrafa na mão…
Para ele e para o piano, daria certamente para alguns (poucos…) dias…
Texto e imagens de Luís Mira
sexta-feira, 30 de novembro de 2018
SUL PROFUNDO
Sabendo que me encontrava a preparar uma viagem prolongada pelo Sul dos Estados Unidos, o meu amigo e vizinho Jorge Barata Preto aconselhou-me a leitura deste Sul Profundo”, de Paul Theroux.
Agradeci a sugestão, dizendo-lhe que desconhecia o autor, o que pouco depois vim a verificar não ser verdade, já que tinha lido anteriormente o seu “A Arte da Viagem”, também editado em Portugal pela Quetzal, embora não tivesse fixado o nome do autor.
Foi-me muito útil a leitura deste livro, embora ele nada tenha a ver com qualquer tipo de “leitura de viagens” tradicional, como inicialmente pensei. Theroux tem uma abordagem algures a meio caminho entre a de um sociólogo, um antropólogo e a de um economista social.
Afasta claramente tudo quanto seja “turístico” ou “cultural” e chega a ser exasperante vê-lo chegar a um determinado lugar e dizer, como o faz por diversas vezes, qualquer coisa deste tipo: “Abundam nesta cidade casas e lugares muito interessantes para se verem, mas a mim não é isso que me interessa…”
Paul Theroux efetuou três viagens ao “Deep South”, cada uma com cerca de três meses de duração.
Chegava a um lugar com um ou dois nomes que lhe haviam sido indicados como referências, e cada um desses contactos lhe passava, por sua vez, mais dois ou três, e assim sucessivamente até possuir uma rede já bastante alargada de pessoas com quem falar, algumas das quais voltava a visitar em viagens ulteriores.
Por norma chegava a um sítio e instalava-se durante vários dias. Falava com gerentes de motel, barbeiros, empregados dos correios, empregados de bar e de restaurantes, representantes das Igrejas locais e membros de associações não governamentais de apoio às comunidades. Gostava, particularmente, de visitar feiras de vendas de armamento pois, dizia, é um dos melhores sítios para nos apercebermos das características de personalidade do americano médio do Sul.
Quando acabei de ler o livro registei de imediato, no próprio livro, as principais conclusões que dele tinha retirado. Como ando há já uns tempos a falar convosco acerca desta região, pareceu-me útil passar-vos também estas “sínteses de leitura”, no preciso estado em que se encontram, isto é, sem qualquer reformulação ou desenvolvimento posterior.
Aqui vai, então:
1) 20% da população sulista vive abaixo do patamar da pobreza. Há zonas mais pobres do que as piores regiões encontradas pelo autor em Africa ou na Ásia;
2) O Governo Federal tem demonstrado pouca preocupação pelo Sul. Apoia mais facilmente outras regiões carenciadas por esse Mundo fora. O mesmo se diga de Organizações não Governamentais tipo Fundação Bill Clinton, oriundo do Sul e pelo qual o autor não parece nutrir grande simpatia;
3) Como principais motivos da pobreza do Sul o autor indica a mecanização da agricultura, que atira a mão-de-obra agrícola para o desemprego, e a fuga de muitas empresas industriais para outras regiões do Globo de MDO mais barata e menores impostos (Ex: Médio Oriente, México, etc);
4) Existem muitas ONGs de carácter não lucrativo que ajudam as populações a suprir algumas necessidades básicas, nomeadamente no que respeita à Saúde e à Alimentação (Ex: recuperação de casas degradadas, construção de novas casas, etc;
5) Ao contrário da ideia que muitas vezes se tem de que o americano é individualista e autocentrado, parecem existir fortes laços de solidariedade social na sociedade sulista;
6) A Religião continua a ser muito importante e a Igreja constitui um forte fator de integração e coesão social;
7) Continuam a existir muitas formas de segregação na sociedade sulista e, em muitos lugares, o Ku Klux Klan permanece ativo e bem visível…;
8) Os relatos do autor ajudam a perceber a vitória de Trump nas eleições de 2017;
9) Curiosamente, nada é dito nem comentado no que respeita à governação de Obama, tendo o livro sido escrito nas vésperas da sua reeleição.
Et voilá! O livro não me deu espaço para mais…
Acabei por não registar três coisas que achei curiosas e que agora vos conto.
Uma é que Paul Theroux faz no início do livro uma citação das “Viagens na Minha Terra”, de Almeida Garrett, o que me parece interessantíssimo para um autor americano a escrever na América.
Outra é que o autor realça a extrema simpatia e disponibilidade da maior parte das pessoas que encontrou, as quais muitas vezes tomavam a iniciativa de se dirigiam a ele para o ajudarem sem que nada lhes tivesse sido pedido. Isso posso corroborar, porque passei por essa boa experiência várias vezes, nesta e em anteriores viagens.
A última, mais ao estilo de fait-divers, é que o autor conta que quase todos os motéis de estrada que encontrou ao longo da sua viagem são propriedades de indianos de nome Patel…
Mas isso não tive a possibilidade de comprovar.
Moteis de estrada, verdadeiros moteis de estrada é coisa que a minha Querida Companheira de viagem certamente se recusaria a frequentar, com medo de ser violada por um índio das cavernas, disfarçado de Donadl Trump…! Comigo a assistir em primeira fila, amordaçado e atado a uma cadeira…!
É o que acontece quando se abusa da Netflix…
Texto e imagem de Luís Mira
quinta-feira, 29 de novembro de 2018
PÈCHE SEAFOOD - NEW ORLEANS
“The Beguiled” (2017), remake do filme do mesmo nome que Don Siegel havia realizado em 1971, é o último filme de Sofia Coppola.
Os dois filmes são muito semelhantes na sua estrutura, ambos baseados num livro de Thomas Cullinan.
Mais estilizado e contido o de Sofia. Mais frenético o de Siegel, que aqui e além deixa transparecer alguns dos “tiques” característicos do cinema americano dos anos 70 (o excesso de “zooms”, por exemplo…). E Clint Eastwood não é Colin Farrel, …… nem Geraldine Page Nicole Kidman.
Ambos os filmes foram realizados em diferentes Plantações do Louisiana.
Li numa entrevista que, enquanto se encontrava em filmagens, Sofia Coppola ficou instalada em New Orleans e um dos restaurantes que gostava de frequentar era “Pêche Seafood Grill”, em Magazine Street.
Como sei que Sofia foi ensinada a comer bem e a beber ainda melhor, fiquei logo com vontade de ir lá meter o bedelho… E não tardou que a reserva fosse confirmada: 15 de Agosto, 20h30…
O restaurante é pertença do Chef Donald Link, que parece ser muito conceituado por aquelas bandas.
Mas é um espaço simples e informal, nada pretensioso e com uma relação qualidade/preço muito simpática.
A especialidade é o peixe e o marisco, tal como se esperava, e a lista era interminável mas dificilmente decifrável…
Ambos comemos, de entrada, “bisque” de camarão, que estava delicioso. Depois ela optou por “catfish”, uma das grandes especialidade dos estados do Sul, e eu por um “capellini”, que mais não era do que um excelente preparado de peixe e marisco, capeado por uma camada de massa folhada.
Como sempre, a pobre ficou com inveja do meu prato…
Texto e imagens de Luís Mira
terça-feira, 27 de novembro de 2018
CAFÉ DU MONDE - NEW ORLEANS
Agora que moro em Algés acontece-me passar, frequentemente, defronte dos Pasteis de Belém, e de cada vez que por lá passo não me canso de rir e de me espantar com as intermináveis bichas que vejo à sua porta, maioritariamente constituídas por turistas estrangeiros.
Os pobres vão atrás daquilo que lhes impingem os livros, os sites de viagens, os guias turísticos, eu sei lá, e mal sonham que a Galp de Oeiras vende, nos seus bons dias, pasteis de nata bem mais saborosos do que os de Belém. Isto é o que me diz a minha experiência mais ou menos recente…
Mas, como eu bem sei por longa experiência própria, em viagens pelo estrangeiro o chapeuzinho de saloio está à nossa espera na primeira oportunidade…
O Café du Monde, em New Orleans, na Decatur Street bem próximo de Jackson Square, é uma instituição mais que centenária, assim uma espécie de Pasteis de Belém local. Nenhum turista passa por New Orleans sem lá entrar…
Abriu ao público em 1862 e é um dos mais antigos cafés do Frenck Market ainda em funcionamento nos dias de hoje, 24 horas por dia nos 7 dias da semana. Tem uma particularidade: só serve beignets, normalmente acompanhados por uma chávena de café com leite.
A Cristina, que adora beignets de maçã, salivava só de pensar neles enquanto andávamos às voltas pelo Mississippi no steamboat Natchez, outra das saloiices indispensáveis em New Orleans.
Quando chegámos ao Café du Monde a bicha não era, felizmente, comparável às dos Pasteis de Belém e sentámo-nos sem grande dificuldade. Beignets para os dois e cafezinho com leite para ela, mas não para mim que não vim a New Orleans beber copinhos de leite…
E então o espantoso aconteceu… Os beignets eram …… de beignet!! Só a massa polvilhada com açucar em pó… Sem mais…. Mas bastou para a fotografia!
Hoje, quando passo defronte dos Pasteis de Belém, rio-me ainda com mais vontade…
De mim próprio, claro está…!
Texto e imagens de Luís Mira
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