O inacreditável em 1964, segundo relato do "Diário Popular", de 12 de Janeiro:
"A história relata-se num jornal de província e merece, quanto a nós, toda a publicidade que se lhe possa dar. Neste caso, porém, não lhe fica atrás a referida notícia e é para ambas que chamamos a atenção, como exemplos de cegueira capaz de resistir a toda a evolução e de arbitrária prepotência que não recua sequer perante o ridículo.
"Em certa terra do Alentejo - o jornal em questão não lhe refere o nome - inauguraram-se melhoramentos, com a presença do governador civil do distrito. Houve festejos para comemorar as inaugurações e, a certa altura, começou o baile no terreiro.
"Deixamos aqui a palavra ao moralizante (!) articulista que descreve assim o que então se passou:
"Um par mais exímio na arte começou a exibir-se em trejeitos tão disparatados e indecorosos que logo se identificou essa macabra dança moderna chamada twist".
"Identificada a "macabra dança", que se passou então? Eis o que nos diz, em termos escandalizados, o jornal:
"Acto contínuo, um agente da GNR que estava presente e de serviço dirigiu-se àquele par de bailarinos e terminou-lhe com a brincadeira: proibiu terminantemente a continuação daquela dança".
"E, a extrair o indispensável fundo moral, a notícia conclui assim:
"Houve o natural protesto e uns discordaram e outros apoiaram, mas a lição foi frutuosa. O "twist" foi ali proibido. Que esta lição possa servir a outras autoridades, para que tão diabólica dança, que estonteia as juventudes de hoje, passe a letra morta e recolha aos aposentos do "Index"".
"E, contente por dar esta lição aos dançarinos do twist de todo O Mundo e de mandar a popular dança para os "aposentos do Index", o articulista aplaude, assim, a enérgica intervenção do agente da GNR.
"São desnecessários quaisquer comentários a este triste epidódio, que documenta uma mentalidade que já devia ter o seu lugar numa museu.
Uma referência nos parece, contudo, oportuna: não nos consta que seja necessária a licença da GNR para espectáculos em que se dance o twist ou para os jovens que lhe dediquem a preferência se exibirem à vontade.
O certo, porém, é que tais procedimentos não a farão passar de moda mais depressa, como passaram todos os ritmos que o antecederam".
Aqui, o "Diário Popular" até se portou bem nesta denúncia.
E com este pedido para que o tempo não volte para trás, despeço-me de 2007.
Bom Ano Novo!
"A história relata-se num jornal de província e merece, quanto a nós, toda a publicidade que se lhe possa dar. Neste caso, porém, não lhe fica atrás a referida notícia e é para ambas que chamamos a atenção, como exemplos de cegueira capaz de resistir a toda a evolução e de arbitrária prepotência que não recua sequer perante o ridículo.
"Em certa terra do Alentejo - o jornal em questão não lhe refere o nome - inauguraram-se melhoramentos, com a presença do governador civil do distrito. Houve festejos para comemorar as inaugurações e, a certa altura, começou o baile no terreiro.
"Deixamos aqui a palavra ao moralizante (!) articulista que descreve assim o que então se passou:
"Um par mais exímio na arte começou a exibir-se em trejeitos tão disparatados e indecorosos que logo se identificou essa macabra dança moderna chamada twist".
"Identificada a "macabra dança", que se passou então? Eis o que nos diz, em termos escandalizados, o jornal:
"Acto contínuo, um agente da GNR que estava presente e de serviço dirigiu-se àquele par de bailarinos e terminou-lhe com a brincadeira: proibiu terminantemente a continuação daquela dança".
"E, a extrair o indispensável fundo moral, a notícia conclui assim:
"Houve o natural protesto e uns discordaram e outros apoiaram, mas a lição foi frutuosa. O "twist" foi ali proibido. Que esta lição possa servir a outras autoridades, para que tão diabólica dança, que estonteia as juventudes de hoje, passe a letra morta e recolha aos aposentos do "Index"".
"E, contente por dar esta lição aos dançarinos do twist de todo O Mundo e de mandar a popular dança para os "aposentos do Index", o articulista aplaude, assim, a enérgica intervenção do agente da GNR.
"São desnecessários quaisquer comentários a este triste epidódio, que documenta uma mentalidade que já devia ter o seu lugar numa museu.
Uma referência nos parece, contudo, oportuna: não nos consta que seja necessária a licença da GNR para espectáculos em que se dance o twist ou para os jovens que lhe dediquem a preferência se exibirem à vontade.
O certo, porém, é que tais procedimentos não a farão passar de moda mais depressa, como passaram todos os ritmos que o antecederam".
Aqui, o "Diário Popular" até se portou bem nesta denúncia.
E com este pedido para que o tempo não volte para trás, despeço-me de 2007.
Bom Ano Novo!