Alexandre O’ Neill em “Já Cá Não está Quem Falou”, Assírio & Alvim, Abril 2008.
Nota do escriba: Se forem ao “You Tube”, chamarem por Morte e Vida Severina – Chico Buarque de Holanda, encontrarão vídeos da representação da peça.
Julgava eu que tinha voado altíssimo no show de Domingo, quando descubro, apenas 24 horas mais tarde, o quanto falta para chegar ao céu.
A distância extra não é assim tão nítida - talvez uns meros degraus acima -, porém, fica exemplarmente resumida na exclamação de Paul McCartney, no melhor português possível: "De mais!"
Terá sido mesmo de mais? Sim e não. Sim, se lembrarmos como o público transbordou de emoção. Não, pela simples razão de que, para mim, nunca será demasiado Paul.
E quais as condições essenciais para que o segundo show do Macca no Rio tenha sido o cume do Everest?
Primeiro, uma plateia esquentada pela celebração da véspera. Segundo, um Paul em regime full power, sem poupanças para o dia seguinte. Terceiro, um ingresso Pista Prime na mão! Ouvir "Back In the USSR" na cara do gol é outro papo!
Tudo esteve ainda mais afinado. O som, a banda, e o imenso coro no refrão final de "Ob-La-Di-Ob-La-Da", e no inesperado recomeço de "Mrs. Vandebilt" em que a multidão lançou-se numa interminável onda sonora de Ho Hey Ho!
O alinhamento das canções também mudou de um dia para o outro. Ou seja, Paul não se esqueceu do fã-grau-camisa-de-forças que jamais deixaria de estar presente nas duas noites - como eu!
"Magical Mistery Tour" substituiu "Hello Goodbye"; "Coming Up" (grande versão) entrou no lugar de "Letting Go"; "Got To Get You Into My Life" desalojou "Drive My Car"; "I'm Looking Through You" destronou "I've Just Seen A Face"; "I Saw Her Standing There" (surpresa!) fez a vez de "Get Back".
Algumas fãs adolescentes ainda tiveram direito a subir ao palco para autógrafos, abraços e gritos histéricos, e todos nós fomos brindados com um inesperado momento musical mesmo antes de "Lady Madonna"... no seu famoso piano psicadélico, Paul, improvisou um tema meio jazzy, baseado na palavra Rio...
Depois de uma noite destas, nunca mais conseguirei ouvir, da mesma forma, Bob Geldof cantar "I Don't Like Mondays"! Que venham mais segundas-feiras assim!
E tudo indica que isto não fica por aqui! Aos 68 anos, Paul McCartney despediu-se do Brasil, novamente no melhor português possível, com a instigante sugestão: "Até à próxima!"
Colaboração de Pedro de Freitas Branco, no Rio de Janeiro