segunda-feira, 24 de novembro de 2014

REGRESSO AO LOCAL DO CRIME 41


O fumo é sagrado.

Ele concorda.

Os índios comunicavam por sinais de fumo.

Na peugada de uma velha canção da Rita Lee, amiúde dizia que um dia havia de ser índio.

Tanto o disse, que a filha Sara, por um Natal, lhe trouxe de Bruges, um machado índio.

Volta e meia olha-o na parede e, com alguma ponta de melancolia, constata que não sabe muito bem por que raio queria ser índio e a Rita Lee, que pedia para bailarem com ela, também nunca lhe explicou, bem explicadinho, esse tal porquê.

Na vida que até agora vai correndo, os dedos das mãos chegam para contar os cigarros, mais um menos um, que fumou.

O prazer-vício-abençoada-maldição, desdobra-o por charutos, cigarrilhas e cachimbos.

Publica hoje a última caixa de cigarrilhas.

Amanhã, encetará caminhos de cachimbadas.

Juntamente com os charutos, a parte nobre da fumarada sagrada.

«Fumo Sagrado» é o título de um livro do cubano Guillermo Cabrera, que o tem acompanhado nestas andanças.

Aproveita para o citar:

Confesso, contudo, estar convencido de que fumar não é o mesmo que escrever.
Os charutos, em especial, são como o cinema: uma arte que é indústria, uma indústria que faz arte. Como os filmes, os charutos são o material de que são feitos os sonhos. A minha ideia de felicidade é estar sentado sozinho no vestíbulo de um velho hotel depois de um jantar tardio, quando já se apagaram as luzes da entrada. É então que, na obscuridade, fumo em paz o meu charuto: aquilo que no passado foi uma fogueira primitiva na floresta, é agora uma brasa civilizada que reluz na noite como um farol para a alma.

Colaboração de Gin-Tonic

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