terça-feira, 17 de junho de 2008

CONCERT FOR GEORGE (02)


O Royal Albert Hall, de Londres, viveu sexta-feira uma noite única de celebração da vida e da música de George Harrison, no primeiro aniversário da morte do ex-Beatle, vítima de vários cancros aos 58 anos.

A noite permitiu, pela primeira vez desde a separação dos Beatles em 1970, a reunião em palco dos dois membros sobreviventes, Paul McCartney e Ringo Starr, que faziam os dois a secção rítmica da mais famosa banda pop de sempre.

Mas se a reunião dos dois Beatles constituiu ponto alto, não menor foi o espectáculo em si, inteiramente preenchido com canções de George Harrison, interpretadas por uma verdadeira chuva de estrelas que só um espírito como o de George Harrison conseguiria reunir: além dos Beatles ainda vivos, Ravi Shankar e a sua filha Anoushka, Eric Clapton, Tom Petty, Billy Preston, Jim Keltner, Jim Capaldi, Ray Cooper, Monty Python, Jeff Lynne, Joe Brown e sua filha Sam, Gary Brooker, Klaus Voorman, Jools Holland, para não falar das que se espalharam entre a assistência, como George Martin, Bob Geldof, Mike Rutherford, Dave Grohl, entre outros.

O palco estava sobriamente encenado com apenas uma fotografia de George Harrison e o símbolo do Hare Krishna, mantendo-se as luzes da sala acesas durante todo o concerto, cujo ambiente cheirava a incenso.

A primeira parte foi preenchida com música indiana que George Harrison deu a conhecer ao Mundo, terminando com uma obra composta propositadamente por Ravi Shankar para esta noite, dedicada ao seu "filho".

Arpan, dirigida por Anoushka, acabou num crescendo arrepiante em que pontuou a guitarra acústica de Eric Clapton.

Depois de dois dos mais famosos sketches dos Monty Python, sucederam-se as canções de George Harrison repartidas pelos amigos.

Jeff Lynne cantou I Want To Tell You, uma das primeiras canções indianas dos Beatles, Eric Clapton abordou If I Needed Someone e Gray Brooker, teclista dos Procol Harum, Old Brown Shoe, após o que Jeff Lynne e Eric Clapton revisitaram a carreira a solo do ex-Beatle, respectivamente com Give Me Love, Give Me Peace On Earth e Beware Of Darkness.

Joe Brown, músico pouco conhecido, mas grande amigo de George Harrison, que já tinha participado no álbum All Things Must Pass, apresentou-se em palco para Here Comes The Sun, uma das belas canções de Harrison nos Beatles, e That's The Way It Goes, do álbum a solo Gone Troppo.

Sucedeu-lhe a filha, Sam, também colaboradora musical do ex-Beatle, que, juntamente com Jools Holland, trouxe Horse To The Water, a última canção composta e gravada por George Harrison.

Composto maioritariamente por quarentões e cinquentões com chorudas contas bancárias, mas que não pagaram os mais de 250 euros pelas confortáveis cadeiras da sala, por terem sido convidados, o público só começou verdadeiramente a agitar-se quando Tom Petty e os Heartbreakers entraram em palco para Taxman, I Need You, numa releitura que fez soltar lágrimas, e uma vibrante interpretação de Handle With Care, dos Traveling Wilburys.

Billy Preston, no órgão, e Eric Clapton, na guitarra, brilharam depois em Isn't It A Pity? e o Royal Albert Hall veio abaixo quando Ringo Starr entrou para cantar Photograph, que compôs com George Harrison, e Honey Don't, de Carl Perkins, um dos ídolos de Harrison.

Coube a Ringo Starr apresentar Paul McCartney, vestido de negro, e o delírio geriátrico fez-se ouvir de novo.

Mais humilde do que lhe está na massa do sangue, McCartney integrou-se sem dificuldade e fez dueto com Eric Clapton em For You Blue, sempre com gestos carinhosos para Ringo Starr, já sentado na sua habitual bateria alta, e para o filho de George Harrison, Dhani, atrás de si com uma guitarra acústica.

Something foi outro momento alto da noite, com Paul McCartney no cavaquinho, como tem feito na sua actual digressão mundial, mas progredindo a canção para um pungente solo de guitarra eléctrica de Eric Clapton, como só ele sabe fazer.

Com nove guitarristas em palco, três baterias, três teclados, dois percussionistas e dois saxofonistas, seguiu-se uma das surpresas da noite, com Paul McCartney a cantar All Things Must Pass, abrindo caminho para o final das quase três horas de concerto, com Eric Clapton em mais um vigoroso solo em While My Guitar Gently Weeps, Billy Preston num emocionante My Sweet lord e todos em palco num imprevisto Wah-Wah.

Quando se julgava terminada a homenagem, organizada por Eric Clapton, a pedido da viúva de George Harrison, Olivia, que também esteve em palco, mas não falou, Joe Brown regressou para o clássico See You In My Dreams, enfatizando assim a presença espiritual de George Harrison entre os seus amigos.

Dhani agradeceu.

Fãs e jornalistas de todo o Mundo assistiram ao concerto, cujos bilhetes, no mercado negro, ultrapassaram os 1.500 euros.

O espectáculo foi gravado e filmado, prevendo-se um DVD no próximo ano.

Luís Pinheiro de Almeida, em Londres

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