PHILIPS - 431 922 PE - 1969
Flor de Laranjeira - Problema da Escolha - Menino - O Milhões
Este é o 1º EP da Filarmónica Fraude, editado no dia 19 de Março de 1969.
A produção é de João Martins, da "23ª Hora".
Da esquerda para a direita, António Antunes da Silva (guitarra), João Manuel Viegas Carvalho (guitarra, só participou nesta gravação, tendo abandonado o conjunto para prosseguir os estudos), João José Pinheiro Brito (voz), José João Parracho (baixo), Júlio Vital dos Santos Patrocínio (bateria) e António Luís Linhares Corvelo de Sousa (teclas).
Flor de Laranjeira - Problema da Escolha - Menino - O Milhões
Este é o 1º EP da Filarmónica Fraude, editado no dia 19 de Março de 1969.
A produção é de João Martins, da "23ª Hora".
Da esquerda para a direita, António Antunes da Silva (guitarra), João Manuel Viegas Carvalho (guitarra, só participou nesta gravação, tendo abandonado o conjunto para prosseguir os estudos), João José Pinheiro Brito (voz), José João Parracho (baixo), Júlio Vital dos Santos Patrocínio (bateria) e António Luís Linhares Corvelo de Sousa (teclas).
33 comentários:
A Filarmónica Fraude é um grupo curioso. Já não se enquadra no movimento Ié-Ié da 1ª metade da década, não tem nada que ver c/ o movimento de renovação da música ligeira centrado nos Festivais RTP e tb nada tem que ver com os impropriamente chamados "baladeiros", seja, com o nascimento de uma música popular da qual todos conhecemos os principais nomes. Na altura, despertou curiosidade principalmente pelos temas de crítica social, pouco habituais e que estranhávamos como a censura deixava passar. Em certa medida, um pouco à frente do seu tempo, pois talvez tenham sido já uma premonição do novo rock dos anos 80.
É exactamente por isso que a Filarmónica ( até o nome revela originalidade), foi o grupo pioneiro da mpp e cujo prolongamento na Banda do Casaco, é simplesmente notável.
António Pinho e Nuno Rodrigues há uns anos ( quando foi relançado do Amanhã há conquilhas) deram uma entrevista à rádio ( Antena Um de Edgar Canelas)) em que diziam que o grupo ainda hoje era pioneiro, porque mais ninguém fez igual.
Já agora, uma revelação: os três nomes possíveis eram: Filarmónica Fraude, Condição, Água Suja.
LT
De acordo com JC, mas ainda assim, encontro alguns pontos de contacto com o 1111.
LT
A Filarmónica Fraude e a Banda do Casaco, tipificam na música popular aquilo que eu tenho como visão elitista do nosso país: um lugar de tradição, aberto à modernidade. Mas ancorado na tradição, sempre.
É evidente que quem assim pensa, não pode ser um "facista" mas ao mesmo tempo também se afasta da "luta popular".
Pascoaes misturado com Marcello Caetano e António Sérgio.
Com uma pitada de Bordalo e Eça.
Exacto!!! Lembrei-me disso há pouco, quando escrevi o comentário. Mas a temática afasta-os: o 1111 procurou basear-se na "imagem" que tinhamos dos romanceiros medievais, na ideia contemporânea que fazíamos "cantigas de amigo". Tb acho era musicalmente mais evoluído. A Filarmónica quer ser mais contemporânea nos temas e nas formas musicais.
Quanto à "Banda do Casaco" sou mais céptico. Acho-os um grupo "pomposo", à procura de reconhecimento através de um certo tipo de "qualidade" um pouco "gongórica" e rebuscada. Confesso tenho deles um conhecimento algo superficial, mas, por vezes, pelo que disse, fazem-me lembrar o que de pior existiu nos MoodyBlues pós D. Laine.
Atenção: mas, como disse, conheço mal a "Banda do Casaco" e não sei mesmo se não estou a fazer confusão. Se estou, as minhas desculpas e corrijam-me sff.
JC:
Ouça o primeiro da banda. Ouça com atenção.
É dos discos que ando a cantarolar sempre, por causa das letras de uma qualidade impressionante e que nada ficam atrás das músicas.
"Senhora dona, tem um braço novo. E há quem diga que o braço é de prata, já goza a vida, já se instalou, em casas de novo...enquanto o povo..."
E por aí fora.
É o meu disco preferido de MPP depois do do Zeca Afonso.
E é por isso também que gosto do primeiro do José Almada. É um disco que o transcende na qualidade intrínseca dos temas e da música.
O imaginário que esses dois discos convocam, perfazem o pleno do Portugal que mitifico.
A música da banda do Casaco, bebe em várias fontes, mas é original na simbiose das letras com as melodias e instrumentação.
Tem raízes portuguesas ( Vizinho abra depressa credo que cara essa vomecê viu o diabo as galinhas degoladas paras de bode marcadas té parece que as almas penadas andaram no povoado) E no seguinte, Coisas do arco da velha há outras maravilhas ( Era uma vez uma velha...uma velha muito velha...que tinha debaixo da cama...).
Quanto à música,se formos ao estrangeiro, lembra os Gentle Giant e a sua invenção musical. Nada pomposo. Antes rigoroso no pormenor de junção de sons instrumentais. Lembra os italianos da Premiata Forneria Marconi e os Area.
Lembra por isso o rock progressivo, num cocktail perfeito entre a música de raiz portuguesa e o rock e jazz-folk.
Fantástico e como nunca mais houve em Portugal
"Imperador! A tua imperatriz é por umn triz que não se diz ser meretriz- e merecia!" Logo seguida de Henrique ser ou não enriquecer:
"emagrecer depois de amigo ser é dizer não.
Henrique ser ou não Hebrique ser é a questão.
Enriquecer depois de Henrique ser +e o perdão?"
Estas letras de A. Pinho e Nuno Rodrigues são geniais, no meu modesto entender.
São do primeiro disco da Banda do Casaco e todo o disco merecia uma análise exegética de um verdadeiro crítico.
Se tivesse talento e jeito, fá-lo-ia. E um dia talvez o faça.
OK, José, depois dessa prédica vou ouvir c/ atenção. Veremos se mudo de opinião. Mas, desde já, um aviso: odeio rock progressivo.
Gentle Giant, Van Der Graaf Generator, Kevin Ayers, King Crimson, Soft Machine: that´s my thing.
Ai, ai, que me afasto de JC. É verdade que os EPs da FF respiram contemporaneidade, mas o LP é tudo menos contemporâneo. É a elegia dos Descobrimentos. E mesmo nas formas musicais, tenho dúvidas, JC. O 1111 tem uma formação clássica com instrumentos clássicos, ou seja, pop music no seu valor mais puro, a FF vai mais ao tradicional português, ambos com elevada mestria.
Quanto à Banda, JC, estou consigo. Não a conheço muito bem, mas, para mim, há uma diferença que acho fundamental. É post-25 de Abril e isso aniquila uma parte importante da criativa.
Sempre me recusei a fazer uma ligação muito directa entre a FF e a BdC. Porque a fazem? Por causa de António Pinho e, numa fase muito inicial, de Luís Linhares? Não me parece suficiente para invalidar a "incontornabilidade" do 25 de Abril.
E, se assim fosse, o António Pinho e outros estiveram nos G-Men, um típico conjunto yé-yé.
Como quer que seja, também não conheço muito bem a Banda.
LT
A propósito de José Almada, há notícias do novo disco?
LT
Pois com tudo isto, ouvi agora outra vez o primeiro disco, Dos benefícios de um vendido no reino dos bonifácios que é de finais de 74, mas com letras que ainda soam a 73.
"A senhora dona tem um braço novo e há quem diga que o braço é de prata", lembra os apaniguados do antigo regime.
"televisão com o Vitorino", remete para A Música e o silêncio, do maestro e que passava na rtp nesse tempo.
Henrique ser...quem pode ser?
Novo disco? Há notícia de um novo concerto em Paredes. Em breve,já no dealbar da Primavera.
José, o "televisão com Vitorino" também pode ser Vitorino Nemésio. De facto, "Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Bonifácios" é um dos discos essenciais da música portuguesa. Pela originalidade musical de Nuno Rodrigues, pelo criatividade espantosa dos jogos linguísticos e semânticos de António Pinho, enfim, pela genialidade de ambos (os dois pilares da Banda) e também pelo imenso talento de todos os músicos que nessa altura estavam no colectivo: Luís Linhares, Carlos Zíngaro, Celso de Carvalho (o terceiro homem da Banda, por assim dizer), Helena Afonso, Judi Brennan, José Campos e Sousa e Nelson Portelinha. Concordo numa coisa com o Luís: não vejo, de facto, a Banda do Casaco como continuação da Filarmónica Fraude, apesar do talento-mor de António Pinho ao nível dos textos. De qualquer forma, o Pinho é um dos mais talentosos letristas da música portuguesa, ponto.
Curiosa a referência ao Nemésio, porque nunca me ocorreu. O Vitorino Nemésio apresentava a sua conversa em família ao Domingo à noite. Umas enfadonhas predicas sobre a modernidade que agora se revelam interessantes, com o recuo do tempo.
O Vitorino d´Almeida ( que agora lançou dois volumes imprescindíveis sobre a música que ele conhece, incluindo a música moderna, no 2º volume), era outro programa com muito sucesso e nunca me passou pela cabeça que a referência fosse aquela.
Mas pode ser. Quem sabe mesmo é o A. Pinho...
Assim que estiver com ele ( se o convite se mantiver e o encontro se efectuar) é uma das perguntas.
Estava a referir-me aos EPs, LT, e fundamentalmente a este. Conheço pior o LP. Mas de acordo: tb não acho que a "Banda" tenho mtº que ver com a "Filarmónica", c/ vantagem para esta: apenas referi a "Banda" por causa do comentário anterior do José. Como disse, acho a "Banda" um pouco "ora vejam lá que bons que nós somos", o que é prova de que não o serão tanto assim.Um pouco por "epater le bourgeois".
A Banda até poderia ter essa postura, mas estava completamente à altura. Quase nenhum outro grupo da música portuguesa chegou tão alto... Os primeiros cinco LP's da Banda são qualquer coisa que só ouvida mesmo - nunca se tinha feito nada antes cá com tanta solidez e segurança. A dupla Pinha-Rodrigues é, sem dúvida, uma das "vacas sagradas" da música portuguesa. Mas, dito isto, viva a Filarmónica Fraude!
Não sei se vou provocar nova polémica, mas até acho a Quinta do Bill mais próxima da Fraude do que a Banda. Será por causa da naturalidade?
Carlos Moisés fez um "upgrade" ao Fraude. OK, venham lá os cocos! Mas é o que eu penso.
LT
A Filarmónica é mais básica. Mas as canções ( também não são tantas assim), são boas e duas ou três, insuperáveis.
Os animais de estimação, estão entre os meus temas preferidos.Mas- lá está!- a letra corrosiva já anunciava as letras da BC.
Mas é um pop sem referências à música popular portuguesa, a meu ver.
A Quinta do Bill é um grupo muito bom. O álbum "Os Filhos da Nação" sofreu pela explosão mediática da faixa-título, já que "esconde" muitas outras faixas tão ou mais interessante, como "Senhora Maria do Olival" (com o João Aguardela, que ainda parece mentira que tenha morrido...), "A Libertação", "Basta" ou a leitura de "Menino", a partir do arranjo de Linhares de Sousa para a Filarmónica Fraude. Isto para não falar dos excelentes instrumentais: "Gualdim Pais, Umas Vezes a Trote Outras Vezes a Galope", "Goa, Damão e Dio" e "Aljubarrota", todos de primeira água, e que colocavam o grupo na frente de um folk rock que em Espanha era personalizado pelos Celtas Cortos. Mas o Carlos Moisés foi aluno do Linhares e já tinha trabalhado com ele em disco nos anos 80, pelo que não espantam as afinidades ;-)
José, as letras corrosivas são de facto uma das marcas de água de António Pinho. "Animais de Estimação" é um mimo, concordo. Não concordo é que no som do grupo não haja referências à música tradicional: então "Digo-Dai", por exemplo, além da própria "Flor de Laranjeira" e "O Problema da Escolha", ambas sobre melodia tradicional? O grupo era, aliás, exemplar na fusão do universo pop-rock com a música tradicional/folk e, de certa forma, pioneiro disso mesmo.
Ainda adolescente, "Natação Obrigatória", da Banda do Casaco, era uma das minha canções preferidas. Iconoclasta, tanto na letra como na sonoridade, remetia-me para alguns grupos Pop estrangeiros de que eu era fanático na época, como os B-52s ou os Devo.
Ou seja, sendo Portugal, nas suas maravilhas e misérias primordiais, o assunto narrativo da Banda do Casaco - bem como as raízes musicais tradicionais esquecidas -, Nuno Rodrigues e António Pinho nunca perderam o contacto com o momento.
Também eu acabei artisticamente beneficiado pela "história" F.Fraude-Banda do Casaco. Ou como às vezes os nossos sonhos se tornam reais... anos mais tarde, iniciei uma parceria criativa com António Pinho...
Entre livros e TV, escrevemos os dois inúmeras canções. Algumas editadas, outras, não.
De todas as canções que fizemos, aquela que mais me lembra o espírito corrosivo do António será sempre "Formigas em Férias".
O refrão não podia ser mais claro:
"Vejo a geração em festa
Entre shots e cerveja
Vejo a geração em festa
Sem saber o que festeja"
Aprendi muito com o António (Pinho), como podem imaginar!
Emenda de texto:
Na primeira frase do meu post anterior, ler, "Ainda adolescente, uma das minhas canções preferidas era "Natação Obrigatória" da Banda do Casaco".
Assim, fica melhor... eheheh...
filhote:
O Natação Obrigatória já é um derivado do produto genuíno que me atrai na Banda do Casaco ( e também na Filarmónica e aproveito para reconhecer que digo dai, é de facto uma revisita à música antiga portuguesa).
No entanto, o que me atrai na música dessas bandas é outra coisa: a simbiose entre algo indefinível e antigo que pressinto no modo como foram compostas as canções.
Quem escuta os três ou quatro primeiros álbuns do grupo Banda do Casaco percebe algo original e que não tem paralelo na MPP: a corrosão lírica com raízes profundas no nosso mal estar português e um retrato cínico e imediatamente reconhecível da nossa realidade de então e também imagens poéticas referidas à ruralidade e ao nosso viver profundo, de há séculos.
Não há internacionalismos, lutas operárias e camponesas copiadas de outros imaginários e raivas de classe contra os burgueses que não se sabe bem quem são.
Há apenas um retrato de um modo de vida português, sem conotações políticas a não ser por reflexo.
E isso agrada-me.
Por exemplo, os Animais de Estimação, com as suas referências à cambraia ao vison e ao astracã, remetem imediatamente para as velhas jarretas que ladeavam o velho Tomás, presidente do Estado Novo. E sem articulação com o imaginários dos "vampiros", por exemplo.
Bastava a crónica de costumes, ao António Pinho e aos outros, para fazer melhores cantigas de protesto que as dos baladeiros.
O segredo está na subtileza.
E foi esse o segredo por que Bob Dylan resistiu ao tempo: não se deixou apanhar pelo panfleto, mas fez reflectir nas músicas e letras os temas do mesmo.
Inteiramente de acordo, José! Esse era de facto um dos "segredos" da Banda!
iéié, não concordo nada: a FF não fez uma leitura passadista dos descobrimentos, pelo contrario, subtilmente desmente uma série de verdades oficiais e de mitos, um pouco com o cid fez em alguns textos do primeiro álbum dos 1111.
jpa
Ao ler referências aos instrumentais da Quinta do Bill não posso deixar de destacar a Sétima Legião que era muito superior, em canções e instrumentais, à Quinta do Bill
Concordo c/ o LT quanto às semelhanças "Filarmónica"/ "Quinta".
Sétima Legião = muito bom (para quando o regresso do pousio ?)
Quinta do Bill: ao início eram fraquitos, foram melhorando bastante mas nunca foram brilhantes
Totalmente de acordo, José!
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