quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

FLOR DE LARANJEIRA


PHILIPS - 431 922 PE - 1969

Flor de Laranjeira - Problema da Escolha - Menino - O Milhões

Este é o 1º EP da Filarmónica Fraude, editado no dia 19 de Março de 1969.

A produção é de João Martins, da "23ª Hora".

Da esquerda para a direita, António Antunes da Silva (guitarra), João Manuel Viegas Carvalho (guitarra, só participou nesta gravação, tendo abandonado o conjunto para prosseguir os estudos), João José Pinheiro Brito (voz), José João Parracho (baixo), Júlio Vital dos Santos Patrocínio (bateria) e António Luís Linhares Corvelo de Sousa (teclas).

33 comentários:

JC disse...

A Filarmónica Fraude é um grupo curioso. Já não se enquadra no movimento Ié-Ié da 1ª metade da década, não tem nada que ver c/ o movimento de renovação da música ligeira centrado nos Festivais RTP e tb nada tem que ver com os impropriamente chamados "baladeiros", seja, com o nascimento de uma música popular da qual todos conhecemos os principais nomes. Na altura, despertou curiosidade principalmente pelos temas de crítica social, pouco habituais e que estranhávamos como a censura deixava passar. Em certa medida, um pouco à frente do seu tempo, pois talvez tenham sido já uma premonição do novo rock dos anos 80.

josé disse...

É exactamente por isso que a Filarmónica ( até o nome revela originalidade), foi o grupo pioneiro da mpp e cujo prolongamento na Banda do Casaco, é simplesmente notável.

António Pinho e Nuno Rodrigues há uns anos ( quando foi relançado do Amanhã há conquilhas) deram uma entrevista à rádio ( Antena Um de Edgar Canelas)) em que diziam que o grupo ainda hoje era pioneiro, porque mais ninguém fez igual.

ié-ié disse...

Já agora, uma revelação: os três nomes possíveis eram: Filarmónica Fraude, Condição, Água Suja.

LT

ié-ié disse...

De acordo com JC, mas ainda assim, encontro alguns pontos de contacto com o 1111.

LT

josé disse...

A Filarmónica Fraude e a Banda do Casaco, tipificam na música popular aquilo que eu tenho como visão elitista do nosso país: um lugar de tradição, aberto à modernidade. Mas ancorado na tradição, sempre.

É evidente que quem assim pensa, não pode ser um "facista" mas ao mesmo tempo também se afasta da "luta popular".

Pascoaes misturado com Marcello Caetano e António Sérgio.
Com uma pitada de Bordalo e Eça.

JC disse...

Exacto!!! Lembrei-me disso há pouco, quando escrevi o comentário. Mas a temática afasta-os: o 1111 procurou basear-se na "imagem" que tinhamos dos romanceiros medievais, na ideia contemporânea que fazíamos "cantigas de amigo". Tb acho era musicalmente mais evoluído. A Filarmónica quer ser mais contemporânea nos temas e nas formas musicais.
Quanto à "Banda do Casaco" sou mais céptico. Acho-os um grupo "pomposo", à procura de reconhecimento através de um certo tipo de "qualidade" um pouco "gongórica" e rebuscada. Confesso tenho deles um conhecimento algo superficial, mas, por vezes, pelo que disse, fazem-me lembrar o que de pior existiu nos MoodyBlues pós D. Laine.

JC disse...

Atenção: mas, como disse, conheço mal a "Banda do Casaco" e não sei mesmo se não estou a fazer confusão. Se estou, as minhas desculpas e corrijam-me sff.

josé disse...

JC:

Ouça o primeiro da banda. Ouça com atenção.

É dos discos que ando a cantarolar sempre, por causa das letras de uma qualidade impressionante e que nada ficam atrás das músicas.

"Senhora dona, tem um braço novo. E há quem diga que o braço é de prata, já goza a vida, já se instalou, em casas de novo...enquanto o povo..."

E por aí fora.

É o meu disco preferido de MPP depois do do Zeca Afonso.

E é por isso também que gosto do primeiro do José Almada. É um disco que o transcende na qualidade intrínseca dos temas e da música.

O imaginário que esses dois discos convocam, perfazem o pleno do Portugal que mitifico.

josé disse...

A música da banda do Casaco, bebe em várias fontes, mas é original na simbiose das letras com as melodias e instrumentação.

Tem raízes portuguesas ( Vizinho abra depressa credo que cara essa vomecê viu o diabo as galinhas degoladas paras de bode marcadas té parece que as almas penadas andaram no povoado) E no seguinte, Coisas do arco da velha há outras maravilhas ( Era uma vez uma velha...uma velha muito velha...que tinha debaixo da cama...).

Quanto à música,se formos ao estrangeiro, lembra os Gentle Giant e a sua invenção musical. Nada pomposo. Antes rigoroso no pormenor de junção de sons instrumentais. Lembra os italianos da Premiata Forneria Marconi e os Area.
Lembra por isso o rock progressivo, num cocktail perfeito entre a música de raiz portuguesa e o rock e jazz-folk.

Fantástico e como nunca mais houve em Portugal

josé disse...

"Imperador! A tua imperatriz é por umn triz que não se diz ser meretriz- e merecia!" Logo seguida de Henrique ser ou não enriquecer:
"emagrecer depois de amigo ser é dizer não.
Henrique ser ou não Hebrique ser é a questão.
Enriquecer depois de Henrique ser +e o perdão?"

Estas letras de A. Pinho e Nuno Rodrigues são geniais, no meu modesto entender.

São do primeiro disco da Banda do Casaco e todo o disco merecia uma análise exegética de um verdadeiro crítico.

Se tivesse talento e jeito, fá-lo-ia. E um dia talvez o faça.

JC disse...

OK, José, depois dessa prédica vou ouvir c/ atenção. Veremos se mudo de opinião. Mas, desde já, um aviso: odeio rock progressivo.

josé disse...

Gentle Giant, Van Der Graaf Generator, Kevin Ayers, King Crimson, Soft Machine: that´s my thing.

ié-ié disse...

Ai, ai, que me afasto de JC. É verdade que os EPs da FF respiram contemporaneidade, mas o LP é tudo menos contemporâneo. É a elegia dos Descobrimentos. E mesmo nas formas musicais, tenho dúvidas, JC. O 1111 tem uma formação clássica com instrumentos clássicos, ou seja, pop music no seu valor mais puro, a FF vai mais ao tradicional português, ambos com elevada mestria.

Quanto à Banda, JC, estou consigo. Não a conheço muito bem, mas, para mim, há uma diferença que acho fundamental. É post-25 de Abril e isso aniquila uma parte importante da criativa.

Sempre me recusei a fazer uma ligação muito directa entre a FF e a BdC. Porque a fazem? Por causa de António Pinho e, numa fase muito inicial, de Luís Linhares? Não me parece suficiente para invalidar a "incontornabilidade" do 25 de Abril.

E, se assim fosse, o António Pinho e outros estiveram nos G-Men, um típico conjunto yé-yé.

Como quer que seja, também não conheço muito bem a Banda.

LT

ié-ié disse...

A propósito de José Almada, há notícias do novo disco?

LT

josé disse...

Pois com tudo isto, ouvi agora outra vez o primeiro disco, Dos benefícios de um vendido no reino dos bonifácios que é de finais de 74, mas com letras que ainda soam a 73.

"A senhora dona tem um braço novo e há quem diga que o braço é de prata", lembra os apaniguados do antigo regime.

"televisão com o Vitorino", remete para A Música e o silêncio, do maestro e que passava na rtp nesse tempo.

Henrique ser...quem pode ser?

josé disse...

Novo disco? Há notícia de um novo concerto em Paredes. Em breve,já no dealbar da Primavera.

Anónimo disse...

José, o "televisão com Vitorino" também pode ser Vitorino Nemésio. De facto, "Dos Benefícios dum Vendido no Reino dos Bonifácios" é um dos discos essenciais da música portuguesa. Pela originalidade musical de Nuno Rodrigues, pelo criatividade espantosa dos jogos linguísticos e semânticos de António Pinho, enfim, pela genialidade de ambos (os dois pilares da Banda) e também pelo imenso talento de todos os músicos que nessa altura estavam no colectivo: Luís Linhares, Carlos Zíngaro, Celso de Carvalho (o terceiro homem da Banda, por assim dizer), Helena Afonso, Judi Brennan, José Campos e Sousa e Nelson Portelinha. Concordo numa coisa com o Luís: não vejo, de facto, a Banda do Casaco como continuação da Filarmónica Fraude, apesar do talento-mor de António Pinho ao nível dos textos. De qualquer forma, o Pinho é um dos mais talentosos letristas da música portuguesa, ponto.

josé disse...

Curiosa a referência ao Nemésio, porque nunca me ocorreu. O Vitorino Nemésio apresentava a sua conversa em família ao Domingo à noite. Umas enfadonhas predicas sobre a modernidade que agora se revelam interessantes, com o recuo do tempo.

O Vitorino d´Almeida ( que agora lançou dois volumes imprescindíveis sobre a música que ele conhece, incluindo a música moderna, no 2º volume), era outro programa com muito sucesso e nunca me passou pela cabeça que a referência fosse aquela.

Mas pode ser. Quem sabe mesmo é o A. Pinho...

Assim que estiver com ele ( se o convite se mantiver e o encontro se efectuar) é uma das perguntas.

JC disse...

Estava a referir-me aos EPs, LT, e fundamentalmente a este. Conheço pior o LP. Mas de acordo: tb não acho que a "Banda" tenho mtº que ver com a "Filarmónica", c/ vantagem para esta: apenas referi a "Banda" por causa do comentário anterior do José. Como disse, acho a "Banda" um pouco "ora vejam lá que bons que nós somos", o que é prova de que não o serão tanto assim.Um pouco por "epater le bourgeois".

Anónimo disse...

A Banda até poderia ter essa postura, mas estava completamente à altura. Quase nenhum outro grupo da música portuguesa chegou tão alto... Os primeiros cinco LP's da Banda são qualquer coisa que só ouvida mesmo - nunca se tinha feito nada antes cá com tanta solidez e segurança. A dupla Pinha-Rodrigues é, sem dúvida, uma das "vacas sagradas" da música portuguesa. Mas, dito isto, viva a Filarmónica Fraude!

ié-ié disse...

Não sei se vou provocar nova polémica, mas até acho a Quinta do Bill mais próxima da Fraude do que a Banda. Será por causa da naturalidade?

Carlos Moisés fez um "upgrade" ao Fraude. OK, venham lá os cocos! Mas é o que eu penso.

LT

josé disse...

A Filarmónica é mais básica. Mas as canções ( também não são tantas assim), são boas e duas ou três, insuperáveis.
Os animais de estimação, estão entre os meus temas preferidos.Mas- lá está!- a letra corrosiva já anunciava as letras da BC.

Mas é um pop sem referências à música popular portuguesa, a meu ver.

Anónimo disse...

A Quinta do Bill é um grupo muito bom. O álbum "Os Filhos da Nação" sofreu pela explosão mediática da faixa-título, já que "esconde" muitas outras faixas tão ou mais interessante, como "Senhora Maria do Olival" (com o João Aguardela, que ainda parece mentira que tenha morrido...), "A Libertação", "Basta" ou a leitura de "Menino", a partir do arranjo de Linhares de Sousa para a Filarmónica Fraude. Isto para não falar dos excelentes instrumentais: "Gualdim Pais, Umas Vezes a Trote Outras Vezes a Galope", "Goa, Damão e Dio" e "Aljubarrota", todos de primeira água, e que colocavam o grupo na frente de um folk rock que em Espanha era personalizado pelos Celtas Cortos. Mas o Carlos Moisés foi aluno do Linhares e já tinha trabalhado com ele em disco nos anos 80, pelo que não espantam as afinidades ;-)

José, as letras corrosivas são de facto uma das marcas de água de António Pinho. "Animais de Estimação" é um mimo, concordo. Não concordo é que no som do grupo não haja referências à música tradicional: então "Digo-Dai", por exemplo, além da própria "Flor de Laranjeira" e "O Problema da Escolha", ambas sobre melodia tradicional? O grupo era, aliás, exemplar na fusão do universo pop-rock com a música tradicional/folk e, de certa forma, pioneiro disso mesmo.

filhote disse...

Ainda adolescente, "Natação Obrigatória", da Banda do Casaco, era uma das minha canções preferidas. Iconoclasta, tanto na letra como na sonoridade, remetia-me para alguns grupos Pop estrangeiros de que eu era fanático na época, como os B-52s ou os Devo.

Ou seja, sendo Portugal, nas suas maravilhas e misérias primordiais, o assunto narrativo da Banda do Casaco - bem como as raízes musicais tradicionais esquecidas -, Nuno Rodrigues e António Pinho nunca perderam o contacto com o momento.

Também eu acabei artisticamente beneficiado pela "história" F.Fraude-Banda do Casaco. Ou como às vezes os nossos sonhos se tornam reais... anos mais tarde, iniciei uma parceria criativa com António Pinho...

Entre livros e TV, escrevemos os dois inúmeras canções. Algumas editadas, outras, não.

De todas as canções que fizemos, aquela que mais me lembra o espírito corrosivo do António será sempre "Formigas em Férias".

O refrão não podia ser mais claro:

"Vejo a geração em festa
Entre shots e cerveja
Vejo a geração em festa
Sem saber o que festeja"

Aprendi muito com o António (Pinho), como podem imaginar!

filhote disse...

Emenda de texto:

Na primeira frase do meu post anterior, ler, "Ainda adolescente, uma das minhas canções preferidas era "Natação Obrigatória" da Banda do Casaco".

Assim, fica melhor... eheheh...

josé disse...

filhote:

O Natação Obrigatória já é um derivado do produto genuíno que me atrai na Banda do Casaco ( e também na Filarmónica e aproveito para reconhecer que digo dai, é de facto uma revisita à música antiga portuguesa).

No entanto, o que me atrai na música dessas bandas é outra coisa: a simbiose entre algo indefinível e antigo que pressinto no modo como foram compostas as canções.

Quem escuta os três ou quatro primeiros álbuns do grupo Banda do Casaco percebe algo original e que não tem paralelo na MPP: a corrosão lírica com raízes profundas no nosso mal estar português e um retrato cínico e imediatamente reconhecível da nossa realidade de então e também imagens poéticas referidas à ruralidade e ao nosso viver profundo, de há séculos.

Não há internacionalismos, lutas operárias e camponesas copiadas de outros imaginários e raivas de classe contra os burgueses que não se sabe bem quem são.
Há apenas um retrato de um modo de vida português, sem conotações políticas a não ser por reflexo.
E isso agrada-me.

Por exemplo, os Animais de Estimação, com as suas referências à cambraia ao vison e ao astracã, remetem imediatamente para as velhas jarretas que ladeavam o velho Tomás, presidente do Estado Novo. E sem articulação com o imaginários dos "vampiros", por exemplo.
Bastava a crónica de costumes, ao António Pinho e aos outros, para fazer melhores cantigas de protesto que as dos baladeiros.

O segredo está na subtileza.

E foi esse o segredo por que Bob Dylan resistiu ao tempo: não se deixou apanhar pelo panfleto, mas fez reflectir nas músicas e letras os temas do mesmo.

Anónimo disse...

Inteiramente de acordo, José! Esse era de facto um dos "segredos" da Banda!

Anónimo disse...

iéié, não concordo nada: a FF não fez uma leitura passadista dos descobrimentos, pelo contrario, subtilmente desmente uma série de verdades oficiais e de mitos, um pouco com o cid fez em alguns textos do primeiro álbum dos 1111.

jpa

Anónimo disse...

Ao ler referências aos instrumentais da Quinta do Bill não posso deixar de destacar a Sétima Legião que era muito superior, em canções e instrumentais, à Quinta do Bill

JC disse...

Concordo c/ o LT quanto às semelhanças "Filarmónica"/ "Quinta".

Anónimo disse...

Sétima Legião = muito bom (para quando o regresso do pousio ?)

Quinta do Bill: ao início eram fraquitos, foram melhorando bastante mas nunca foram brilhantes

filhote disse...

Totalmente de acordo, José!

dlt disse...

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