sábado, 28 de fevereiro de 2009

PIROLITO COM BOLA


Apreciem um texto de Galopim de Carvalho.

13 comentários:

Anónimo disse...

Estes produtos já deveriam ter direito a uma etiqueta própria

daniel bacelar disse...

Extraordinário!!!!
Quem quer que seja o dono desta reliquia que a trate com todo o carinho!!!!
ISTO É QUE É VERDADEIRA HISTÓRIA,o resto é a tristeza das nossa vidas para felicidade de meia dúzia...

filhote disse...

Ihhhhh! Eu desvairava com o pirolito!!!

josé disse...

Eu sou do Norte e lembro-me das garrafas de pirolito um pouco diferentes destas.


Pode ser impressão minha, acentuada pelo tempo de mais de trinta anos, mas as garrafas que conhecia era de tonalidade verde e com outro feitio.

Ou seria da cor do pirolito propriamente dito, um pouco rugoso e opaco nessa cor esverdeada.

Nós, na altura usavamo-lo para jogar aos bugalhos. Havia bugalhos a dar com um pau,mas os carolos maiores eram mais procurados...

E havia as esferas de rolamentos de carros. Esferas maiores, mais pequenas e uma pequena maravilha, porque com o peso ideal para arrastar os bugalhos para o interior do triângulo fatal e dar-lhes de chofre.

Gostava de revê-las.

JC disse...

O que é isso de bugalhos e carolos, José? Agradeço tradução para "alfacinha", sff.

josé disse...

JC:

Nasci e fui educado no mundo rural de uma freguesia a poucos quilómetros de uma cidade pequena. Tudo, mas mesmo tudo o que diz respeito a esse mundo rural me dizia respeito: as pessoas, os costumes ( dignos de serem mostrados aos "urbanos", porque de uma elevação cultural que pouco tem a ver com os costumes importados.

Daí o meu conservadorismo, religioso e tudo.

Assim, nesse tempo da minha infância, de há quarenta anos, na escola primária, havia jogos sazonais. O dos bugalhos era um dos jogos preferidos. Um bugalho é uma excrescência em modo de fruto seco, de um carvalho. Bolinhas de dimensão de centímetro ou menos ainda, e por aí, até aos carolos que são bugalhos de maior dimensão, com dois a três centímetros.

O jogo dos bugalhos, fazia-se com a colocação de um pequeno pecúlio desse material que cada um tinha numa saca. Cinco, dez, por aí fora, juntos no interior de um triângulo desenhado na terra.

A meia dúzia de passos e na transversal da hipotenusa, um risco, para situar a posição dos jogadores. Estes, cada um por sua vez, lançavam um carolo ( ou uma esfera metálica) de reserva e com dimensão suficiente para tal, para ver se acertavam no maior número de bugalhos que se encontravam no interior do triângulo , de modo a retirá-los dessa prisão imaginária.

Quantos tirasse, tantos guardaria, se a seguir, ao jogar tal carolo ou esfera, conseguisse acertar em cada bugalho fora do triângulo.
Ao falhar um, entrava outro jogador. Com uma particularidade: se acertasse com o carolo ou esfera, no carolo ou esfera do outro, "matava-o" e este tinha que repor no lugar original o que tinha ganho.
No final, o jogo era ganho por quem vencesse os outros desse modo simples mas de destreza no uso do lançamento do carolo ou esfera.

Esta isto, essencialmente, o jogo do bugalho de que tenho imensas saudades, por serem de um tempo irrecuperável.

Os pirolitos, eram um sucedãneo dos carolos e esferas.

JC disse...

Apesar de ter finalmente descoberto não ser "culturalmente elevado", por mor dos meus "costumes importados" de Madrid, Cassis e La Valetta reciclados em Lisboa (o José que me desculpe, mas a sua lição de moral parece-me do tipo "A Superioridade Moral dos Comunistas") a explicação do José s/ bugalhos e carolos deixou-me esclarecido, o que raramente acontece com as suas dissertações políticas. Enfim, cada um fala do que sabe...
Mtº obrigado.

josé disse...

JC:

Estamo sempre na mesma! Então a minha referência ao ambiente rural como de "elevação cultural", poderá ser entendido como modo de ataque ao ambiente urbano, em modo de o diminuir por comparação?

Meu caro: essa referência à elevação cultural tem apenas a ver com o facto de os rurais terem originariamente ( antes da tv e das telenovelas, por exemplo), um modo de vida culturalmente diverso. E que eu apreciava, pelo modo de falar, de contar histórias, de vivências várias.

Longe de mim, no entanto, dizer que a cultura urbana de Lisboa ou de La Valetta é coisa inferior...

Será que não há modo de a gente se entender no que escreve?

PS politicamente considero-me um social democrata conservador....ahahah!

JC disse...

José: leia lá bem o que escreveu: "os costumes (dignos de serem mostrados aos "urbanos", porque de uma elevação cultural que pouco tem a ver com os costumes importados.")...
Serei eu que interpreto mal?
Eu sei que gosto de polemizar, mas no que escreveu v. claramente põe os 2 tipos de costumes em confronto afirmando a superioridade de um deles... Confrontando-me!
Mas conto-lhe uma história. Sou de tal modo urbano, de facto, que um dia ia sozinho numa estrada do norte, de carro, perto de Mondim, e vi-me obrigado a perguntar o caminho. Alguém me explicou que teria de chegar a um cruzamento onde havia um enorme carvalho. Agora imagine v. a minha aflição para identificar um carvalho! Só o consegui pq tinha estado na tropa e lembrei-me das folhas de carvalho das insígnias militares!
"Custos da urbanidade"....
Cumprimentos

josé disse...

Interpreta mal ao pensar que foi escrito como arma de arremesso para os urbanos.

Quando escrevi que os costumes rurais são dignos de serem mostrados aos "urbanos", pretendo dizer que estes só teriam a ganhar em conhecê-los, porque são dignos de apreço. Não são costumes importados e que cada vez mais são a base das referências nos media.

O mal é que até esses costumes rurais foram contaminados pela cultura estrangeira: brasileira e americana, ainda por cima.

Quer um exemplo?

Cátias, Vanessas, Marcos ( do personagem da Gabriela),etc etc.

Dantes havia Raimundos, Ezequiéis, Rolandos e outros que tal vindos de outras paragens.

Mas os originais Jerónimos, Bonifácios, Ermelindas, Deolindas etc etc. eram costumeiros.
Quem é que hoje em dia chama Ermelinda à filha se tem uma Tânia á espera?

É só isso.

JC disse...

Que quer que lhe diga? A minha geração é a 1ª na minha família paterna a ter nomes próprios portugueses. Por isso, é assunto a que não ligo mtº, excepto irritar-me quando não acertam com os meus apelidos, o que acontece quase sempre.
Mas percebo essa sua preocupação, claro. É uma cultura que começa a perder-se, embora, como deva calcular, nada tenha contra as misturas culturais. Os meus netos (os dois que já falam)expressam-se igualmente em duas línguas, misturam tudo na mesma frase e a mais crescida já vai falando uma terceira. Mas, devo dizer-lhe, tb não gosto mtº de uma certa subserviência que já existe em Portugal face à cultura brasileira, consubstanciada nas Tânias e Vanessas. É uma tendência terceiro-mundista que potencia o atraso português.
Cumprimentos

Caínhas disse...

Sem querer entrar em questões de ordem politica ou outras vou só meter o bedelho no que ainda me lembro sobre este tema.
As garrafas dos pirolitos, pelo menos aqui nos arredores de Lisboa, eram de vidro verde muito claro quase branco e lisas como na foto. O jogo que falam dos carolos e dos bugalhos, nós cá em baixo jogávamos ao berlinde, (ou bilas) e se bem entendi o jogo explicado era a rodinha bota-fora, que nós usávamos mais no jogo do pião. No jogo bilas era ao abafa, às covas, e também à roda bota fora. Cada terra com o seu uso cada roca com o seu fuso!
Mas conheço muito bem o que é um bugalho, nos arredores de Lisboa também há disso!
Já lá dizia o poeta:
-Em Lisboa há de tudo!
-Diz o cego ao mudo!...

Anónimo disse...

Berlindes, bugalhos e Carolos… (respectivamente chamados em Lisboa (berlindes), Setúbal (bugalhos), Algarve e Alentejo (carolos) também lhe chamavam Bilas e outros nomes, claro que há zonas que adoptaram estes nomes ou talvez sejam a seguir origem..