terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

ADEUS ILUSÕES


Não, não me refiro ao mais que provável afastamento do meu clube dos dois primeiros lugares deste campeonato e, por consequência, da Liga dos Campeões, mas sim ao título que em português foi dado a "The Sandpiper", filme que Vincente Minnelli realizou em 1965.

Fraquíssimo filme, diga-se desde já... Mais um daqueles que se espalharam ao comprido à pala das "diabrites" do casal Elizabeth Taylor/Richard Burton...

Nunca mais me esqueci que vi esse filme em reposição no antigo Cinema Alvalade. Chovia a potes e acho que havia um jogo qualquer importante na Televisão, porque o cinema estava deserto.

Não me poderei jamais esquecer, também, da forma como fiquei "colado à cadeira" ao ver a beleza daquelas imagens iniciais, captadas de helicóptero sobre a costa do Big Sur, que fica umas milhas abaixo de Monterey, na Califórnia.

A existência do Big Sur não me era desconhecida, pois já tinha visto referências a essa região a propósito da vida e da obra do Henry Miller e sabia que Jack Kerouac também tinha um livro que se chamava exactamente assim, "Big Sur". Mas, que me lembrasse, nunca antes tinha visto dele imagem nenhuma...

Durante a exibição do filme dei comigo a desligar-me da desinteressante "história" (as angústias existenciais de um professor/padre, preso às suas convicções e à sua família, e de uma pintora, alma livre, moderna e descontraída...) e a "beber" sofregamente cada pedaço de paisagem: as montanhas, os rochedos, a praia, as gaivotas que esvoaçavam pelo ar, e o mar, sempre o mar com aquelas magníficas ondas esfuziantes que se diria filmadas em câmara lenta...

Cinéfilo que já era há muitos anos e detractor das imagens "turisticas" e "bonitinhas" no Cinema, nunca antes me havia sentido assim tão preso à paisagem de um filme, como nesse "Sandpiper".

À saída do cinema fiz para comigo próprio uma jura, com um desejo e uma convicção tão firmes como nunca antes me lembrava de ter tido àcerca de uma viagem: "eu hei-de ir ali e há-de ser muito rápidamente...!"

Tenho ideia de que menos de um ano depois já lá estava...

Ao chegar ao Big Sur, senti-me em casa, de tanto que havia sonhado com aquelas paragens... Já conhecia aquela estrada, aquelas pontes, aquelas montanhas e aquele mar. Os meus olhos não tinham os filtros especiais das lentes do Milton Krasner (director de fotografia do filme) nem o meu olhar era em câmara lenta, mas pouco importava, tamanha era a beleza que se me oferecia.

Robert Louis Stevenson, que tão bem conhecia outras terras e outros mares, considerava este lugar "the greatest meeting of land and sea in the World"... Na altura era um fiel praticante do "Super 8" e fiz para mim próprio uma bonita reportagem, que nunca cheguei a "montar" convenientemente....

Desta vez, é claro que não pude deixar de lá voltar. Continua magnífico! E não consigo fazer essa estrada sem me sentir filmado bem lá do alto, com a orquestra a tocar, suavemente, "The Shadow Of Your Smile"....

Quando um dia me reformar, espero não dizer adeus à ilusão de aqui poder passar, tranquilamente, uma longa temporada...

Colaboração de Luís Mira

12 comentários:

josé disse...

Big Sur remete logo,na minha imaginação, para os...Beach Boys e o tema de Holland, California Saga/ Big Sur, de Mike Love, em 1972.

filhote disse...

Subscrevo, caro José.

Quanto ao seu clube, Luís Mira, o tal que talvez esteja fora da discussão do título e do apuramento para a Champions, presumo que seja o Sporting Clube de Portugal.

Calma, calma, ainda tudo é possível. Neste próximo fim-de-semana as coisas começam a definir-se...

E não pense que sou dos seus. Da minha garganta/coração só sai Benfica! Benfica! Benfica!

Rato disse...

Pelos vistos o filme não era assim tão fraquito, Luís. Pelo menos tinha uma bela canção e uma fotografia capaz de te dar alento para te pores a caminho. Há muitos que de tal não se podem gabar. E o casal Burton fez coisas muito piores, convenhamos...

Anónimo disse...

Bom dia!

Vou tentar responder aos três comentários.

Ao José, dir-lhe-ei que gosto muito dos Beach Boys dos primeiros tempos (com risco de ser excomungado deste blogue, dir-lhe-ei até que considero "Pet Sounds" perfeitamente ao nível do "Sgt. Pepper's"...), mas depois fui-me afastando, porque surgiram outras prioridades. Estou a ver, perfeitamente, a capa do "Holland", mas não me consigo lembrar, de cor, de nenhuma das músicas que lá estão dentro.
Mas voltei aos "rapazes" por ocasião do lançamento do "Smile" e também estou à espera de uma oportunidade para ouvir o disco do Dennis Wilson.

Voltando-me agora para o Filhote, tenho de lhe explicar que raramente tenho tempo para escrever os textos de uma assentada. Começo, ponho de lado, retomo e alguma vez a coisa há-de acabar... Sucede que comecei este texto na ressaca do jogo com o Braga. Se tivesse começado depois da "extraordinária exibição de 10 minutos" do Restelo, outro galo cantaria no meu texto.
Quanto a vocé ser do Benfica,..... "nobody's perfect"! Quase todos os meus melhores amigos são do Benfica e, nestes tempos de crise, eu quero é ver a rapaziada contente e bem disposta. Não me importa nada que ganhem a Taça das Cervejas! Mas cuide bem dessa garganta porque, depois do que se viu com o Paços de Ferreira, parece-me que ainda vai precisar muito dela...

Finalmente, Caro Rato, tenho de lhe dar razão, desta vez... Um filme que muda assim a nossa vida, não pode ser mau de todo. Mas a verdade é que aquela parelha me complica com o sistema nervoso... E também há realizadores que não sabem quando é que devem parar... Em minha opinião, é o caso do Minnelli...

Um Abraço!

josé disse...

Sobre os Beach Boys há sempre tempo para a descoberta.

Por mim, já foi nos anos noventa ( ou mesmo nos dois mil), com a reedição em cd ( duplo e com inéditos), dos seus álbuns.
No entanto, conhecia bem a canção da California Saga/ Big Sur, por causa de a ter ouvido, mais a sequência em trio, logo em 72.

FOi essa uma das canções que me ficou presa na memória, quando nem dava atenção especial aos Beach Boys e nem localizara essa música com essa referência. Era uma das tais músicas que de vez em quando assoma ao assobio e cantoria interior.

Logo que ouvi o disco Holland que não conhecia na integralidade ( só conhecia essa canção e nem sequer a relacionava com os Beach Boys) foi uma maravilha.
ALém disso, descobrir depois e em catadupa, na mesma altura, Sunflower, Friends, Surf´s Up, etc etc, foi das melhores coisas que experimentei na música popular.

Durante meses, só ouvia Beach Boys. Até a colectânea Good Vibrations arranjei. E fiz um best of que gravei em cassete.

Outra canção que ouvi na época e perdi referências depois, é a dos Pink Floyd, Free FOur, também da mesma época ( 72). Só há poucos anos voltei a ouvir e fiquei embasbacado: então era dos Pink FLoyd, isto?!

Estas descobertas são uma maravilha. E há mais.

Num programa de rádio com o actual apresentador da Antena 1 ( o meu rádio habitual), António Macedo, nos anos noventa, o indicativo soava-me a pequena maravilha.
Andei algum tempo para perceber que o indicativo era de Pat Metheny. Mas não sabia de que disco. Então, às cegas, comprei o que me parecia adequado ao som. Nesse caso, o grande disco As falls Wichita so falls Wichita falls ( grande título) . Só que...não era o que tinha o tal indicativo.
Tentei ainda o American Garage e talvez o Offramp. Também não.
Só depois acertei: New Chautauqua.

Gosto destas descobertas. Ando sempre à cata delas.

Rato disse...

Ainda a propósito do Minnelli, foi de facto um realizador de altos e baixos. No entanto conseguiu presentear-me (e a muitos outros, espero eu) com um dos "filmes da minha vida": "Some Came Running / Deus Sabe Quanto Amei" (1958) com uma deslumbrante Shirley MacLaine. Não me lembro de outro filme em que o amor tout court, sem adornos ou justificações, fosse tratado daquele modo sublime. E o pequeno (grande) pormenor na cena final, em que o Dean Martin tira o chapéu, faz-me vir lágrimas aos olhos todas as vezes que vejo o filme. E já foram umas largas dezenas...

filhote disse...

Caro Luís Mira, não tenha receio. Para mim, "Pet Sounds" é muito melhor que "Sgt. Pepper's".

Melhor, nas canções, nos arranjos, mas sobretudo na emoção colocada em cada som do disco. Nunca ouvi, em toda a minha vida, música Pop tão profunda e desarmante. Infantil e, simultaneamente, transcendente. Como foi capaz um jovem de 22 anos apenas produzir tal obra-prima? "God Only Knows"...

Dos Beatles, prefiro, de longe, "Rubber Soul".

filhote disse...

E, Luís, não existem outras prioridades - descontando o exagero - que não sejam conhecer "Surf's Up", "Sunflower" e "Holland". "Holland" é, aliás, o último grande disco dos Beach Boys. O último que vale realmente a pena ouvir.

Já não falando dos LPs pré-Pet Sounds, quase todos eles magistrais!

Quanto ao LP "Pacific Ocean Blue" de Dennis Wilson, não perca tempo Luís. Trata-se do melhor disco solo dos Beach Boys. Neste caso, sem ponta de exagero.

ié-ié disse...

E para o Mundo não ser todo amarelo, nunca percebi a excitação pelo "Pet Sounds". Não lhe acho graça alguma. Para mim, é "Surf's Up".

LT

Anónimo disse...

Bem me parecia que, ao falar no "Sgt. Peppers", estava a tocar em "vacas sagradas"...

De resto, mais algumas conclusões:

1)Terei de tratar de ouvir o "Holland" com urgência...;

2)Estou 200% de acordo com o Rato! Não é só o tirar o chapeu, ele que não o tirava por nada deste Mundo... É todo o espantoso plano final no cemitério, com aquele longo "travelling" a acabar nas águas do rio. Minnelli ficará, para sempre, ligado ao "Musical", mas tem autênticas "obras-primas" fora do género, como é o caso desse "Some Came Running";

3) Não é difícil, Filhote, apresentar-lhe "outras prioridades" nesses inícios dos anos 70. Mas ficará para outra oportunidade, quando o Rato se lembrar se escolher os "Melhores" desses anos...;

4) É pura coinicidência mas comprei recentemente mais dois discos do Pat Metheny, aproveitando uma campanha de descontos da editora. Mas nenhum deles é o "New Chautaqua". Tinha jurado a mim próprio não comprar mais nada depois de ter ouvido o "Song X", mas abro excepções para discos anteriores. É que eu, que tanto vos massacro (via Hugo...!) com as minhas "visões" da América, considero as capas dos discos do PM quase melhores que os próprios discos. Espantosas fotografias de estradas, de parques de estacionamento, de casas dos subúrbios... Um regalo para a vista! É impossível vê-las e não sentir logo a bichinho puxar-nos para "on the road again"...!

ié-ié disse...

É também de Pat Metheny ("A Map Of The World") o indicativo das entrevistas de Carlos Vaz Marques na TSF ao fim da tarde.

LT

josé disse...

Não sabia essa do Map of the world. E tenho muitos discos do Pat Metheny.

Outra que gostaria de saber, deve ser bem portuguesa e talvez de Rão Kiao ou de Júlio Pereira pós-Cavaquinho. É a música que acompanhava o anúncio a um azeite nacional, há uns anos.

Música fantástica e no tom de Pat Metheny: ligeiramente destoado, com influência árabe mas tão escondida que parece folclore nacional.

Pura e simplesmente uma música fantástica.