sábado, 11 de julho de 2015

JESUS AND MARY NO NOS ALIVE


Não deixou de ser uma experiência peculiar assistir ao concerto dos Jesus and Mary Chain esta noite no NOS Alive, no Passeio Marítimo de Algés (Lisboa).

Mas antes de entrar nesse campo, deixem-me sublinhar à cabeça que se tratou de um valente concerto com uma barragem de electricidade nas guitarras em contraponto à voz serena e elegante (como a postura) de Jim Reid como já não é usual em concertos rock.

Das cinco vezes que já consegui ver os Jesus and Mary Chain ao vivo, esta terá sido a mais conseguida, a mais consistente, provavelmente porque a banda já não está na crista da onda. Em linguagem futebolística, a pressão já não está no seu campo.

O álbum de estreia, o excelente "Psychocandy", data de 1985, há 30 anos!!!

E está aí a primeira singularidade do concerto.

A banda tocou sob um pano de fundo de uma imagem da época de "Psychocandy", onde os músicos se apresentam de cabelo negro e espesso no alto do cocuruto!

Agora, há menos cabelo negro, com excepção da trunfa à Art Garfunkel de William Reid, e do penteado compostinho de Jim Reid. Os restantes músicos ostentam um tom grisalho de fazer inveja.

Outra particularidade: não deixa de ser estimulante ver cinquentões, idade média do grupo, arrancar torrentes de electricidade, quais putos em início de carreira, daqueles instrumentos que fazem jus à sua designação: guitarras eléctricas.

Tudo isto envolto em fumarada intensa que faz valorizar a forma diligente como aqueles dedos ágeis acertam nas cordas.

Sinal eloquente do post-punk dos anos 80, é o negro da indumentária. Sempre!

E o único sinal rebelde dos tempos antigos é o atirar ao chão do pé de microfone, mesmo assim levantado rapidamente.

Por uns momentos, ainda acreditei num dos postulados antigos dos Jesus and Mary Chain: um concerto que não fosse para além dos 30 minutos.

Na tenda que lhes foi reservada no NOS Alive (não já no palco principal), a banda despediu-se aos 45 minutos, mas perante a reacção - moderada mesmo assim - do público lá condescendeu e foi até à uma hora.

Pela primeira vez em 45 anos de concertos, estou tentado a ajuramentar que, finalmente, gostei mais de um concerto do que de um disco!

Teria muitas estórias a contar a propósito dos Jesus and Mary Chain, desde uma entrevista falhada em 1988 à ousadia de convencer o saudoso José Ramos a passar algumas das suas canções nas manhãs calmas que fazia na Rádio Comercial, passando pela rejeição do seu primeiro álbum na fábrica da Valentim de Carvalho em Paço de Arcos.

E a propósito de feedback, é claro que deixaram a guitarra sozinha em palco a gemer e foram-se embora.

Belíssimo concerto, sim senhor!

Texto de Luis Pinheiro de Almeida
Imagem de Teresa Lage

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