RAÍZES

ORFEU - FPAT 6016 - 1982

Face A

Malhão da Carvalhosa - Sapatinho - Flor de Chá - Tia e Sobrinho

Face B

Boiada - Música da Dança do Rei David - Fandango Minhoto - Se Fores À Erba

Não sabe quantas vezes ouviu este disco, mas sabe que há muito não o olhava e arrisca mesmo a dizer que quase dele se tinha esquecido.

Mas faz parte dos quotidianos andar à procura de umas coisas e, pelo caminho, outras lhe aparecerem.

Acontecem supresas agradáveis, outras nem por isso, mas é a vida, como dizia o engenheiro.

"Raízes" é o primeiro álbum de Raízes, grupo de acção cultural, gravado no outro século, mais concretamente em 21 de Novembro de 1981.

Na ficha técnica pode ler-se:

O Grupo de Acção Cultural fez a sua primeira aparição pública em 25 de Abril de 1980 em Vila Verde. A partir daí iniciou um esforçado trabalho de recolha e divulgação da música tradicional portuguesa dispersa pela várias regiões do país. Este disco é o registo de dois anos de trabalho e dedicação com todas as sua limitações e contudo um trabalho que nos orgulha de o ter feito.

Pôs o disco a rodar, e espantou-se como Raízes consegue manter a frescura, a simplicidade de quando o ouviu pela vez primeira.

Peça bis que nós repetimos, ouvia-se nos dias da rádio, num programa de que não lembra o nome.

A pensar nisso, ouviu Boiada mais de uma vez, e acabou por concluir que é fácil retomar alentos quando se descobrem prazeres, ou uma certa maneira de lidar com a melancolia que, amiúde, lhe invade os dias…

Faltando-lhe conhecimentos para ir além da chinela, googlou duas citações sobre o disco:

"Raízes" é uma aposta na "terra para pronunciar", na "terra escalavrada", nos cantos que são – que se querem – "presença e memória", num acto de intervenção culturalmente importante, urgente e tão necessária. De Vila Verde, do Minho, da memória do povo que somos no assumir total do nosso património cultural, o Grupo de Acção Cultural - "Raízes" traz-nos uma música que "diz muito mais às pessoas do que os discursos patriotas exaltados e manipuladores" falando sobre a identidade do povo, as suas culturas de raiz, genuínas-autênticas-diversificadas...

Mário Correia, "Música Popular Portuguesa: Um Ponto de Partida", Centelha/Mundo da Canção, 1984)

Apesar de ainda não revelarem a sofisticação que viriam a demonstrar no segundo e terceiro álbuns ["Diabo do Belho!" (1985) e "Caminhos d'Água" (1988)], a música deste curto mas intenso álbum de estreia revela uma aturada capacidade para, começando do chão, das raízes, se seguir em direcção ao alto, ao céu. Logo na abertura, "Malhão da Carvalhosa", os cavaquinhos e as braguesas erguem uma "parede de som", capaz de transformar a folk portuguesa em algo psicadélico. O mesmo se passa no insinuante instrumental "Música da Dança do Rei David" ou em "Boiada", canção em que a voz feminina se revela superior. Sem se notar comportamento desviante face à norma, os Raízes já deixavam expressa a intenção de personalizar a música de raiz tradicional.

M.F.C., no "Público": Suplemento Y, 8 de Julho de 2005

Colaboração de Gin-Tonic