quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

CONCERTO DE COLÓNIA


ECM - 1064

Side 1
Koln, January 24, 1975 Part I 26:15

Side 2

Koln January 24, 1975 Part II a 15:00

Side 3

Koln, January 24, 1975 Part II b 19:19

Side 4

Koln, January 24, 1975 Part II c 6:59

Gravado ao vivo na Ópera de Colónia em 24 de Janeiro de 1975

Na antologia “Poezz”, o jazz na poesia portuguesa, organizada por José Duarte e Ricardo António Alves, Keith Jarrett tem direito a três poemas que são acompanhados por igual número de comentários do sr.cinco-minutos-jazz.

Um: "Jarrett tocou pela segunda vez em Portugal, em 1971, no 1º Festival Internacional de Jazz de Cascais e espantou por levantar o rabo do banco enquanto pianava, pelos murmúrios, quase estertores, que da garganta lhe saíam, enfim, tocando tanto como tantos tinham ouvisto tão pouco".

Dois: “quem se lembra de Jarrett na RTP a branco e preto num 4teto com Lloyd em 66 no Cascais 71 com camisola interior – branca – com Miles. Nas ruas de Cascais de mão dada – hábito africano – com Haden hoje adoentado, com melhoras, doente, com pioras, com cansaço crónico".

Três: “KJ tem discurso pessoal, personalizado é pianista para todas as gerações inventor com tantos discípulos todos o ouviram fala com ele próprio sofre ao piano é tradição improvisador não toca calado gemidos, queixumes são parte do artista e artista somos nós todos".

Para acompanhar a capa do disco, dos três poemas, escolheu “Koln Concert no Indico”, um longo poema de Ana Mafalda Leite.

Mas o editor acaba de ser babado-avô e o escriba receou que o tamanho do post lhe estragasse a festa (não estragou, é um prazer - nota do editor).

Não sendo poeticamente correcto, optou por desenhar o princípio e o fim do poema, mas deixa a notícia que o podem ler na íntegra no blogue da portuguesa Mafalda Leite, filóloga, nascida em Portugal, mas a viver em Moçambique.

Quanto a Jarrett, sabia-o de nome mas, musicalmente, conheceu-o através deste disco, pertença do Luís Mira. Ainda em não tempo de CDs, gravou uma cassette que o acompanhou pela vida. A cassette sumiu-se o gosto por Jarrett não. Mas gostaria de adiantar que ainda hoje não o entende. Tão pouco está interessado em que isso venha acontecer. Assim um pouco como os filmes de David Lynch: não percebe, mas são-lhe fundamentais.

O concerto de Colónia espalha-se pela baía
até ao limite das nuvens
ao tremer das águas sucessivo segue o altear do piano
em seu espasmo infinito
esqueço-me do rumor das casuarinas
esqueço-me de todos os sons
apenas o crescendo desse revolver do piano
no interior das águas

e chove tanto de súbito no mar
chove essa chuva quente e boa
que se dilui água na água

(...)

aqui neste sossego sem qualquer memória em que apenas
o concerto de colónia se entranha
num tempo agora ouvido
junto ao coração em jazz estribado a horizontes perdidos
por ti keith jarrett no meu mar índico agora cor de azul
meia-noite em mim navegando com barcos fosforescentes
que singram altos
em acordes longe e longamente soprados
em soltos panos de lua

Colaboração de Gin-Tonic

3 comentários:

filhote disse...

Disco incontornável e obrigatório em qualquer coleção que se preze.

Anónimo disse...

Extraordinário álbum de um génio.

Fernando Correia de Oliveira disse...

Belo post, carregado de memórias nonoras. O Concerto de Colónia acompanha-me nas viagens pela Europa, desde há muitos anos - no alinhamento, habitualmente, começa a soar a meio de Espanha e... quando o alinhamento se repete, à entrada da Suíça. Um dos jogos com a "pendura" é tentar adivinhar quando é que os gemidos aparecem, e se são "ais" ou "uis". Um dos discos da minha vida. (e estava no primeiro Cascais Jazz)