A foto, de José Veloso, regista o momento em que Alberto Martins, presidente da Associação Académica de Coimbra e actual líder parlamentar do PS, pede a palavra ao Presidente da República Américo Tomás, no dia 17 de Abril de 1969, na inauguração do edifício das Matemáticas da Universidade de Coimbra.
Tal momento, o da ousada decisão de um jovem de 20 anos, acompanhado por centenas de estudantes, é certo, mas rodeado de polícias, militares e autoridades da ditadura por todos os lados, é algo de esteticamente inestimável.
Há fotografias do momento, mas, obviamente, não captam o dilema interior de quem tem de se erguer e pedir a palavra em nome da Academia, segundo uma fórmula previamente estudada. Se há minutos esteticamente inolvidáveis, Alberto Martins interpretou-os e eu presenciei-os segundo a segundo.
No momento combinado, um jovem trajando o negro da capa e batina, rosto inundado pela palidez dos grandes momentos a contrastar com o negrume das suas barbas, ergueu-se como que em câmara lenta, levantou ligeiramente o braço direito, colocou a voz e disse em nome de gente de 20 anos o que os títeres da ditadura nunca sonharam ouvir.
Reclamou a palavra para os estudantes. Foi aí nesse momento de coragem, que guardo em imagens seriadas, que começou a crise de Coimbra. Aos 20 anos, um de nós, aquele a quem havíamos distribuído o papel mais difícil, qual actor em grande peça, arrebatava as palmas dos estudantes presentes e recebia a vaia dos adeptos do regime.
Foi iniludivelmente a estética da coragem na beleza de uma atitude. Esse foi o momento dos estudantes.
Osvaldo Castro, in "Coimbra 69", Biblioteca Museu República e Resistência, 1999
Tal momento, o da ousada decisão de um jovem de 20 anos, acompanhado por centenas de estudantes, é certo, mas rodeado de polícias, militares e autoridades da ditadura por todos os lados, é algo de esteticamente inestimável.
Há fotografias do momento, mas, obviamente, não captam o dilema interior de quem tem de se erguer e pedir a palavra em nome da Academia, segundo uma fórmula previamente estudada. Se há minutos esteticamente inolvidáveis, Alberto Martins interpretou-os e eu presenciei-os segundo a segundo.
No momento combinado, um jovem trajando o negro da capa e batina, rosto inundado pela palidez dos grandes momentos a contrastar com o negrume das suas barbas, ergueu-se como que em câmara lenta, levantou ligeiramente o braço direito, colocou a voz e disse em nome de gente de 20 anos o que os títeres da ditadura nunca sonharam ouvir.
Reclamou a palavra para os estudantes. Foi aí nesse momento de coragem, que guardo em imagens seriadas, que começou a crise de Coimbra. Aos 20 anos, um de nós, aquele a quem havíamos distribuído o papel mais difícil, qual actor em grande peça, arrebatava as palmas dos estudantes presentes e recebia a vaia dos adeptos do regime.
Foi iniludivelmente a estética da coragem na beleza de uma atitude. Esse foi o momento dos estudantes.
Osvaldo Castro, in "Coimbra 69", Biblioteca Museu República e Resistência, 1999
4 comentários:
Não vejo ali o Vital Moreira...
Estaria amordaçado, como o bardo do Astérix?
Se bem sei, Vital Moreira já era licenciado em Direito e foi mesmo quem se encarregou da defesa jurídica dos estudantes suspensos, presos, etc.
LT
Não foi bem assim, mas acabei de descobrir agora uma coisa na net que vou publicar- em honra do mesmo.
Sou adversário do tipo, mas sei reconhecer o valor quando o vejo.
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