quinta-feira, 30 de abril de 2009

RANCHO FOLCLÓRICO TAMAR


A VOZ DO DONO - 7LEM 3.088 - 1963

Camisinha Riscadinha - Marcha da Nazaré - Vira das Chitas - Corridinho Mar e Vento

Não era uma das bandeiras do Estado Novo?

4 comentários:

Edward Soja disse...

Mas, a propósito dessa pergunta,... era assim tão habitual (ou é) os ranchos folclóricos a dançar na areia da praia?

Que mania, que o SNI, ou lá o que era, tinha...

Anónimo disse...

Nao nao e habitual apenas o Rancho Ta-mar dançava descalso na arei porque quando os pescadores saiam das embarcaçoes acabadas de chegar da pesca, para festejar o seu regreso dançavam na praia

ié-ié disse...

Obrigado pela informação.

LT

Miguel Catarino disse...

Efectivamente, o Folclore era uma das bandeiras mais importantes do Estado Novo. A investigadora Susana Sardo chama-lhe o 4º efe.

Segundo ela, o nosso Folclore, «omitido deste tríptico, provavelmente pelo seu estatuto de subalternidade em relação ao protagonismo cosmopolita e internacional dos outros três, adquiriu porém uma importância central como leitmotiv da política de António Ferro. Digamos que o folclore tinha um estatuto diferente dos outros três efes, estes mais centrados em instituições, em personalidades, em heróis, enquanto o folclore dava conta de um lastro impessoal, sem voz própria, sempre visível apenas através de intermediários. Mas este era, justamente, o ingrediente que Ferro procurava: uma voz neutra e transversal, quase invisível, capaz de oferecer aos Portugueses um sentimento de comunhão nacional, de uma outra religiosidade na qual eles eram também protagonistas, contribuindo para a sua construção e consolidação».

Assim, graças a essa estratégia do regime, ao trabalho exaustivo do folclorista Armando Leça, fomentador principal desta política, que foi até ao povo e falou imenso sobre uma «música nacional», através da linguagem à qual, por natureza, a música está conotada: a
emocional, o Folclore passou a ser uma das marcas do antigo regime.

As editoras e as telefonias aderiram desde cedo a esta tendência, e daí a difusão abusada de trechos como o "Baile Mandado" do Grupo Folclórico de ALte (Cuidado rapariguinhas, não batam com o cu no chão), o "Vira de Santa Marta" do Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo ou "Não Vás ao Mar Toino" por este magnífico rancho, e outras canções derivadas.

Hoje, como diz Sardo, «depois de 1974, e passados que são os momentos sempre instáveis de reconstrução pós-ditatorial, a análise do estatuto do fado e do folclore na vida musical portuguesa, surpreendentemente, mostra poucas diferenças em relação ao passado. Apesar de não existirem discursos institucionais explícitos, nem directivas ou normativas políticas para a definição do estatuto destes dois universos musicais, é um facto que o folclore tem hoje uma vitalidade inaudita, tendo o número de agrupamentos folclóricos triplicado durante a década de 1980, perfazendo hoje um total de cerca de 2000 ranchos. Saltaram, entretanto, as fronteiras da ruralidade e são hoje um fenómeno igualmente urbano. O repertório cristalizou-se e assiste-se hoje a uma tentativa de revitalização da performance, adequando os materiais musicais e coreográficos à re produção de qua dros rurais encenados, para os quais o final do século XIX constitui uma espécie de universo mítico de enunciação.

Agora, o principal valor destas fonografias, a meu ver, além da autenticidade dos grupos e das suas interpretações, é o facto de terem sido muitas delas feitas em situações adversas, no alto de uma serra, ao pé de uma praia ou no topo de uma colina, e no final, o resultado ser quasi perfeito. Cápsulas que aprisionaram uma geração, uma época, um sentimento, coisas que o tempo não apagou, mas quase esqueceu.

Parabéns pelo artigo, "Ié-Ié", e espero ter sido útil.

Camisinha, Riscadinha - «https://www.youtube.com/watch?v=vpC1bjpXGpk»
Marcha da Nazaré - «https://www.youtube.com/watch?v=d3e_JcWQJXw»
Vira das Chitas - «https://www.youtube.com/watch?v=0Gik08lMJ9Q»
Corridinho Mar e Vento - «https://www.youtube.com/watch?v=-7I3hVjKrMM»