No dia 27 de Novembro de 1975 cumpria serviço militar obrigatório, como alferes miliciano, no Estado-Maior do COPCON, sito no Forte do Alto do Duque, em Lisboa.
Desempenhava funções no gabinete de Otelo Saraiva de Carvalho, como oficial de Imprensa.
Vivia transitoriamente em Carcavelos, perto da esquadra da PSP, numa casa nova ainda sem telefone, mas armado, desde 24 de Novembro, com uma pistola Walther e 3 carregadores com 24 balas, debaixo do travesseiro.
Como previamente acordado, um agente da PSP bateu-me à porta, convocando-me para uma reunião urgente no COPCON. Não voltara ao Alto do Duque, desde os acontecimentos da noite de 25 de Novembro.
Um parêntesis para contar um episódio caricato, revelador da situação de então: o meu Pai fazia anos a 25 de Novembro, pelo que me armei e pedi a um furriel que me conduzisse a casa de meus Pais. "Pai, parabéns, desculpe, mas não posso ficar, estou em guerra".
Chegado ao COPCON e na sequência do seu desmantelamento, foi-me entregue uma guia de marcha para me apresentar no Regimento de Infantaria Operacional de Queluz (RIOQ), unidade a que pertencia.
Enquanto arrumava papéis, chegavam mais oficiais ao COPCON, os que aí prestavam serviço e outros.
Perto da hora do almoço, o
bunker do COPCON foi tomado de assalto pelos Comandos da Amadora, mas sem qualquer violência. Apenas o capitão da Força Aérea Lourenço Marques esboçou alguma resistência, mas sem sucesso.
Se bem me lembro, o grupo de Comandos que entrou no COPCON era comandado pelo major Coimbra que se encontrava armado com uma Kalashnikov.
Vasco Lourenço e Sousa e Castro, que estavam com o grupo
assaltante, explicaram então a Otelo que tinham recebido uma informação A1 (a mais credível no sistema militar), segundo a qual os oficiais do COPCON estariam reunidos para preparar uma resposta.
A informação A1 baseava-se no número inusitado de refeições que o COPCON requerera à Manutenção Militar (o COPCON não tinha cozinha) para almoço.
É preciso não esquecer que eram (são) todos camaradas de armas e que estiveram juntos no mesmo lado da barricada no 25 de Abril, pelo que tudo se passou em ambiente de caserna.
É então que aparece um militar de camuflado, ar carregado, patilhas compridas, óculos escuros, quico, galões dissimulados e uma pequena pistola à cintura.
Sem mostrar os dentes, puxa de um papel e lê uma série de nomes (não o meu, nem o de Otelo), após o que sentenciou: "estes senhores oficiais têm 10 minutos para se apresentar na parada", que era no exterior, à superfície, onde viriam a ser detidos.
Munido da minha guia de marcha, deixaram-me sair tranquilamente, não sem que antes tivesse assistido ao abraço fraterno entre Eanes, o tal militar de ar carregado, patilhas compridas e óculos escuros, e Otelo:
"Otelo, vou-te deixar sozinho nos próximos 10 minutos, depois apresenta-te também na parada. Tem coragem!".
"Terei", foi a resposta de Otelo.
LPA