sexta-feira, 28 de novembro de 2008

THE HOUSE THAT NAT BUILT


Da última vez falei-vos de Nat King Cole e hoje vou ter de "voltar à carga" a propósito deste edifício. Trata-se da Capitol Tower, que durante algumas décadas, foi sede e estúdio de gravação da Capitol Records, situada em Los Angeles, no quarteirão de "HollyWood and Vine".

Construído em 1956, quando a Capitol foi adquirida pela EMI, este edifício tem a particularidade de ser redondo, isto é, deliberadamente em forma de disco...! E consta que, no seu tempo, foi o primeiro edifício desta dimensão completamente redondo a ser construido neste planeta.

Mas o que é que o Nat King Cole tem a ver com tudo isto? Vamos lá, devagar...

Segundo leio no livro "Nat King Cole - An Intimate Biography", de Maria Cole e Louie Robinson, a Capitol Records terá sido criada na Primavera de 1942 por Glenn Wallichs, proprietário de uma das principais lojas de discos de LA, Johnny Mercer (esse mesmo, o co-autor de "Laura" e de tantos outros "standards" da música popular americana) e o produtor cinematográfico Buddy DeSylvia, que terá entrado com a "massa". Glenn era "Business Manager" e Mercer o responsável pela angariação dos"Artistas" e dos "Repertórios".

Ora um dos primeiros a ser "angariado" para a nova companhia foi Nat King Cole, que aí gravou , em Outubro de 1943, o primeiro grande sucesso com o seu Trio: "Straighten Up and Fly Right".
Foi, simultâneamente, o primeiro grande sucesso de vendas da Capitol, que iria ter em Nat o seu "abono de família" durante muitos anos. Outros sucessos se seguiriam com o Trio ("Sweet Lorraine", "It's Only a Paper Moon", "Route 66", ...), antes dos mega-sucessos a solo como "Christmas Song", "Nature Boy", "Mona Lisa", "Unforgettable" e tantos outros.

Em anos sucessivos, Nat King Cole deu a ganhar à Capitol largos milhões, ao ponto de se dizer que este edifício só pode ser construido à custa desses lucros. Por isso mesmo, o edifício passou a ser conhecido, no meio musical norte-americano, como sendo "The House That Nat Built"...!

Claro que a Capitol Records (uma das "majors" daquele tempo, juntamente com a RCA-Victor, a CBS e a Decca) não foi só Nat King Cole. Quase toda a nata dos grandes intérpretes americanos dos anos 40 e 50 por lá passou: Frank Sinatra (as suas célebres "Capitol Series"...), Dean Martin, Peggy Lee, Judy Garland, Andrew Sisters, Tenessee Ernie Ford, acompanhados pelas grandes orquestrações de Gordon Jenkins, Billy May ouNelson Riddle ...

Nos primeiros tempos do hi-fi, Jackie Gleason teve também um imenso sucesso na Capitol com os seus instrumentais "delicodoces". Já nos finais dos anos 50 uma nova "mina de oiro" surgiria com o "boom" da folk music, através dos Kingston Trio.

Já no início dos anos 60 vamos encontrar na Capitol os Journeymen, supergrupo folk de que faziam parte o futuro "Papa" John Philips, Scott McKenzie (ainda sem as "flowers in his hair"...) e o excelente instrumentalista Dick Weissman.

Mais tarde chegariam também Bobbie Gentry, Glen Campbel, os Beach Boys e as edições americanas dos discos dos Beatles. A partir daí, já não vos sei dizer grande coisa, embora me lembre que Bob Seeger também por lá gravou.

Para quem, como eu, gosta de filmes musicais e das respectivas bandas sonoras, a Capitol foi também a editora de "Hight Society", "Pal Joey", "The King and I", "The Music Man", "Oklahoma!", "Carousel" e muitos outros.

Nenhum deles estará na primeira linha dos grandes "musicais" americanos (refiro-me aos filmes e não aos musicais da Broadway...), mas todos me deixaram a sua marca e a sua nostalgia... "Oh what a beautifull morning, Oh what a beautifull day"...!

Para mim, a Capitol ficará sempre a Capitol desses magníficos anos 50.

No início dos anos 80, quando fui a LA pela primeira vez, dei um salto à Capitol Tower. Tinha então um museu que era uma maravilha e que me lembro de me ter deixado ficar em "pele de galinha": "maquettes"originais de capas de discos com correcções; discos de oiro, prata e platina pendurados nas paredes; partituras e cartazes de espectáculos; fotografias diversas; aparelhos de gravação; etc.

Desta vez não voltei lá, limitando-me a fazer esta fotografia à distância. Li algures que o edificio está praticamente abandonado e não o quis rever nessa figura. Lembrei-me a tempo do bom conselho do Paul Simon: "Preserve your memories. They're all that's left you"...

Colaboração de Luis Mira

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