quinta-feira, 27 de novembro de 2008

27 DE NOVEMBRO DE 1975


No dia 27 de Novembro de 1975 cumpria serviço militar obrigatório, como alferes miliciano, no Estado-Maior do COPCON, sito no Forte do Alto do Duque, em Lisboa.

Desempenhava funções no gabinete de Otelo Saraiva de Carvalho, como oficial de Imprensa.

Vivia transitoriamente em Carcavelos, perto da esquadra da PSP, numa casa nova ainda sem telefone, mas armado, desde 24 de Novembro, com uma pistola Walther e 3 carregadores com 24 balas, debaixo do travesseiro.

Como previamente acordado, um agente da PSP bateu-me à porta, convocando-me para uma reunião urgente no COPCON. Não voltara ao Alto do Duque, desde os acontecimentos da noite de 25 de Novembro.

Um parêntesis para contar um episódio caricato, revelador da situação de então: o meu Pai fazia anos a 25 de Novembro, pelo que me armei e pedi a um furriel que me conduzisse a casa de meus Pais. "Pai, parabéns, desculpe, mas não posso ficar, estou em guerra".

Chegado ao COPCON e na sequência do seu desmantelamento, foi-me entregue uma guia de marcha para me apresentar no Regimento de Infantaria Operacional de Queluz (RIOQ), unidade a que pertencia.

Enquanto arrumava papéis, chegavam mais oficiais ao COPCON, os que aí prestavam serviço e outros.

Perto da hora do almoço, o bunker do COPCON foi tomado de assalto pelos Comandos da Amadora, mas sem qualquer violência. Apenas o capitão da Força Aérea Lourenço Marques esboçou alguma resistência, mas sem sucesso.

Se bem me lembro, o grupo de Comandos que entrou no COPCON era comandado pelo major Coimbra que se encontrava armado com uma Kalashnikov.

Vasco Lourenço e Sousa e Castro, que estavam com o grupo assaltante, explicaram então a Otelo que tinham recebido uma informação A1 (a mais credível no sistema militar), segundo a qual os oficiais do COPCON estariam reunidos para preparar uma resposta.

A informação A1 baseava-se no número inusitado de refeições que o COPCON requerera à Manutenção Militar (o COPCON não tinha cozinha) para almoço.

É preciso não esquecer que eram (são) todos camaradas de armas e que estiveram juntos no mesmo lado da barricada no 25 de Abril, pelo que tudo se passou em ambiente de caserna.

É então que aparece um militar de camuflado, ar carregado, patilhas compridas, óculos escuros, quico, galões dissimulados e uma pequena pistola à cintura.

Sem mostrar os dentes, puxa de um papel e lê uma série de nomes (não o meu, nem o de Otelo), após o que sentenciou: "estes senhores oficiais têm 10 minutos para se apresentar na parada", que era no exterior, à superfície, onde viriam a ser detidos.

Munido da minha guia de marcha, deixaram-me sair tranquilamente, não sem que antes tivesse assistido ao abraço fraterno entre Eanes, o tal militar de ar carregado, patilhas compridas e óculos escuros, e Otelo:

"Otelo, vou-te deixar sozinho nos próximos 10 minutos, depois apresenta-te também na parada. Tem coragem!".

"Terei", foi a resposta de Otelo.

LPA

15 comentários:

josé disse...

História curiosa. O antigo brigadeiro Pires Veloso, em entrevista ao DN no dia 25, disse que o Eanes não contou para nada e que a intervenção dele no 25 Novembro, foi inventada.

O Pires é que foi o prato principal...

Rato disse...

«Já murcharam tua festa, pá...»

josé disse...

O Eanes sempre foi uma pessoa "direita". Correcta.

Li numa entrevista que ele e Otelo se davam como amigos a quem, se preciso fosse, daria a camisa.

Ética militar, certamente.

Mas reveladora do estilo que é o homem.

Logo, esse episódio, é de hombridade, de dignidade.

Anónimo disse...

lembro-me bem desse dia...... e de estarmos a ver o capitao duran clemente e de repente o danny kaye....
e de lá entrares em casa, de camuflado e pronto para o que desse e viesse.
que susto os Pais tiveram nesse dia!!!
jpa

ié-ié disse...

O Pires Veloso teve o seu papel, noutras circunstãncias, mas não chega nunca à importância do papel de Eanes. É lamentável o que diz sobre Eanes. Despeito... Mas vou ler o livro dele...

LT

daniel bacelar disse...

Pois é meus Amigos
É tudo a mesma MERDA!!!!!
Só acho graça é que ainda há gente que acredita nesta treta,e quem se lixa somos nós.
Reparem só nos ordenadinhos e grandes tachos que este senhores estão a tirar á nossa custa,(não me estou a referir ao Otelo e a alguns outros que apostaram no cavalo errado).
Em 2009 quando isto "der o berro" definitivamente a gente conversa....(mas continuaremos na mêsma!!!)
Num país onde o Benfica e a merda do futebel domina completamente a mente das pessoas,não se pode esperar grande coisa.
Nunca conseguiremos fazer a separação entre o "serviço e o conhaque"lógicamente teremos aquilo que merecemos!!!!

JC disse...

Otelo e Eanes terão sido contemporâneos na Academia Militar e foram-no, com certeza, em Bissau, no início dos anos 70, no Comando Militar da Guiné. Ambos eram considerados militares mtº competentes (seja lá o que isso fôr). Aliás, alguns dos que estiveram envolvidos no 25 de Abril e/ou no 25 de Novembro eram considerados, de certa maneira, uma "elite". Estou a lembrar-me (cito de cor), além de Eanes e Otelo, de Fabião, Almeida Bruno, Firmino Miguel, Monge, Matos Gomes (escreve sob o pseudónimo de Carlos Vale Ferraz), etc. Costa Gomes, por exemplo, era considerado um dos mais brilhantes generais de sempre do exército português. Sempre achei que ele e Spínola, de certa maneira, reeditavam uma dupla famosa da WWII, Patton e Bradley. Um o fanfarrão, sempre de farda a luzir, 100% militar e politicamente inapto e o outro uma fraca figura, razoavelmente mal fardado mas um "intectual" e um "político" de extrema competência.
E dito isto vou ver o "Glorioso"!

josé disse...

Tão glorioso como o Sporting...

Não se podem rir uns dos outros.

Anónimo disse...

Não percam tempo a falar da merda da politica, eles são todos iguais: militares e politicos. Só querem é tachos, aumentos de ordenados, melhores regalias sociais, estão-se c..... para o povo. Estou de acprdo com o Daniel, assim não vamos a lado nenhum, continuamos a ser um país do 13º. muundo...

daniel bacelar disse...

Pois é !!!!
Viva mas é a música,pois isso é o que nos une.
Lixados,é algo que é irreversivel,pois a falta de vergonha vai da esquerda á direita.
Portanto,se por acaso ainda houver gente +- decente nesta terra,que se una nestes Blogs de opinião.
A merda da politica já destruiu muitas casas e amizades,claro que a opinião é livre,mas limitemo-nos á nossa paixão - A MÚSICA !!!!

Anónimo disse...

Como diz o velho ditado: QUEM FALA ASSIM NÃO É GAGO. E VIVA A MÚSICA!!!

Abraço Daniel.

daniel bacelar disse...

Pois,mas não pensem que sou isensivel ao que me rodeia!!!!
Só lamento pensar no que poderiamos ter sido e no que nos tornámos!!!
Mas isto não é nada,piores tempos vêm aí,portanto como não há nada a fazer (porque é cada um a puxar para seu lado!!),é preferivel manter este estado de inconsciência E VIVA A MÚSICA!!!!!
PONTO FINAL!!!!

josé disse...

Pois é, meus amigos. Mas vejam só uma coisa que pode servir de exemplo:

Provavelmente, não aprecio as vossas receitas para a política. E vocês, se calhar não apreciam as minhas...


Ahahaah. O melhor, de facto, é...a música.

Porque essa, até faz esquecer as discordãncias de fundo.

Camilo disse...

ASSINO POR BAIIIIIIIXXXXOOOOO!!!!!

ié-ié disse...

Sem computador em Lafões, li o livro de Pires Veloso. Até tenho vergonha e nada vou fazer. É um livro pessimamente mal escrito, pior revisto, pouco rigoroso, apologético, lunático, até faz pena! O único objectivo é anti-Eanes!

Uma novidade (pelo menos para mim): Pires Veloso diz que Vasco Gonçalves o convidou para vice-primeiro-ministro do V Governo.

Mas vá-se lá saber se é verdade!

LT