Aí pelos meus 25/30 anos, atravessei uma fase de forte "pancada" pelo chamado "Jazz Vocal". Ouvia de tudo um pouco, embora o Nat King Cole e a Ella Fitzgerald fossem o meu "must". Estávamos ainda nos tempos do vinil e apanhava tudo quanto me aparecesse à mão de cada um deles.
O meu paraíso era simples de alcançar: depois do jantar, crianças na cama porque se faz tarde e amanhã é dia de aulas, mulher na sala pequena a ver as suas "séries" em série e eu no "salão de música", luzes apagadas, pernas estendidas em cima da mesa, uma curta bebida de"apoio"...
Gostava, em especial, de um disco do Nat King Cole chamado"Unforgetable", reedição de um original da Capitol, de 1955. Para além de grandes sucessos como "Unforgetable" e "Mona Lisa", esse disco tinha uma série de "pérolas" escondidas, canções menos "batidas" que não faziam parte das colectâneas mais divulgadas por essa altura: "(I LoveYou) For Sentimental Reasons", "What'll I Do", "Red Sails In The Sunset", "Too Young", "Lost April", "The Portrait of Jenny" e muitas outras...
Nesses tempos de relaxe e descontracção, dei comigo a pensar porque razão Nat King Cole tinha sido tão mal aproveitado pelo chamado "Filme Negro", quando a sua música tanto se prestava a esses ambientes do claro/escuro...
Na verdade, tirando uma fugaz aparição ao piano no "Blue Gardenia", do Fritz Lang", e da música de "Kiss Me Deadly", do Robert Aldrich ("Rather Have Blues", menorissíma...), ambos de 1955, não me lembro de mais nada que possa ser enquadrado nesse estilo...
Dei então por mim a imaginar o meu próprio "Filme Negro" de homenagem ao Nat King Cole. Mas só imaginei o princípio e o fim, como irão ver...
Quando as luzes se apagavam na sala de cinema, todo o ecran era invadido por uma luz branca, branquíssima. E, no preciso momento em que se ouviam os primeiros acordes de piano do "(I Love You) For Sentimental Reasons", apareceria escrito no ecran a vermelho sangue "For Sentimental Reasons", pois assim se chamaria o meu filme.
Depois, durante todo o "genérico" inicial, a câmara afastar-se-ia num efeito de zoom lentíssimo, sempre com o Nat King Cole a cantar como"música de fundo". Perceberiamos, então, que o branco inicial do ecran não era mais do que uma lua muito cheia e que a câmara, ao afastar-se, sobrevoava já o céu estrelado de Los Angeles, as ruas, os telhados e os"neons" da cidade, até entrar através de uma janela que, perceberiamos pouco tempo depois, era de um "nightclub".
Víamos clientes em pé, empregados que se acotovelavam na sua azáfama habitual; víamos a "menina dos cigarros" a impingir charutos cubanos; ía-mo-nos apercebendo lentamente de pessoas sentadas nas suas mesas, fumo no ar e a câmara a passar num palco onde estavam três homens a tocar a música que vinhamos ouvindo desde o início: ao piano, um negro, grande como um armário, cantava de sorriso aberto; outros dois negros na guitarra e no baixo completavam o elenco. Adivinharam: nem mais nem menos que o original King Cole Trio.
Mas a câmara não parava: passeava-se por entre os músicos e fazia um"travelling" final para se fixar, finalmente, numa mesa onde estava o meu "heroi", um detective privado que era assim um misto de Philip Marlowe e de Columbo.
Está com um ar cansado, charuto na mão e olhar perdido no vazio, como se, em boa verdade, estivesse muito longe dali. No preciso momento em que a música pára, uma loira deslavada com ar de quem já teve melhores dias chega-se à sua mesa e pergunta-lhe se lhe pode fazer companhia.
Ele levanta levemente o olhar e responde-lhe delicadamente: "Se quiser. O mal que tenho não é contagioso...".
Ela senta-se, puxa por ele e por mais uma garrafa de whiskey (recebe à comissão...) e ele começa então a contar-lhe a sua história, como se não estivesse à espera de outra coisa...
O "flash-back" entra, então, à boa maneira dos anos 40, envolto numa mistura de fumo, música e copos que se levam à boca. Numa fracção de segundos, passamos do escuro do "nightclub" para uma praia esplendorosa.
Ouvimos então o nosso homem contar, em "voz-off", que, ao contrário do que era habitual, aquela manhã em Pebble Beach havia nascido radiosa, limpida, sem sombra de frio e de neblina, convidativa a um longo passeio à beira mar...
Claro que não trabalhei bem o resto da história, porque não iria fazer nada com ela. Mas perceberíamos que acabaria por se tratar de um "assunto de saias", que mete uma "vamp" que se iria revelar quase tão má como a Lizabeth Scott do "Too Late for Tears".
Tudo culpa do meu homem, que deveria saber muito bem que um "private eye" nunca se deve deixar envolver com uma cliente. Mas, que diabo, também o Marlowe, que nestas coisas fez uma edição revista e aumentada da cartilha do Sam Spade, caiu na esparrela e acaba a preparar o casamento no último livro do Chandler...
O "flash-back" acaba e voltamos à cena inicial do bar. O meu homem está manifestamente mais cansado mas, ao mesmo tempo, aliviado por ter podido contar a alguém a sua história.
Quando a polícia chegar irão acreditar na sua versão dos acontecimentos ou acabará a bater os costados em San Quentin? O mais certo é que queiram proteger aquela gente "da alta"... Mas já nada importa e, também para ele, já é "too late for tears"...
A loira deslavada levanta-se, percebendo que dali não iria poder levar muito mais do que sarilhos. Despede-se, agradecendo-lhe os copos e a companhia, e não resiste a passar-lhe uma mão pelos cabelos.
A medo,dispara-lhe um timido "Good Luck". Ele levanta a cabeça e sorri-lhe também, pela primeira vez em toda a história. Não lhe diz nada, mas faz-lhe uma saúde com o copo e manda para o ar mais uma bafurada de fumo do charuto, no preciso instante em que o trio se lança aos primeiros acordes de "What 'll I Do"...
De novo, um movimento de câmara em tudo simétrico ao da cena inicial. Os músicos perderam, entretanto, o seu ar composto, desapertaram as gravatas e estão já em mangas de camisa, com ar de fim de festa.
O salão está mais deserto: meninas de contador desligado a beber um último chàzinho por conta da casa; pares entrelaçados em equilibrio instável, como se cada um estivesse a amparar o outro para não o deixar cair; marinheiros rodeiam a "menina dos cigarros", que se ri com algum histerismo; mais ao longe, um anão conta um maço de notas de dinheiro, encostado ao que parece ser uma estátua...
A câmara salta de novo pela janela, sempre com o "What'll I Do" como"música de fundo", volta a mostrar as ruas e o céu de LA e quando a lua branca invade de novo todo o ecran aparece bem a meio, no mesmo vermelho sangue do início, a palavra "The End", no preciso segundo em que a canção termina.
E é nesse ecran branco, ao som de um instrumental do Trio, que iria passar o genérico final, sem esquecer o indispensável "Writen and Directed by Louis B. Mira"....!
Esqueci-me de vos dizer que tudo isto se passaria no "Sunset Trocadero", no nº 8.280 da Sunset Boulevard, onde o King Cole Trio se apresentou muitas vezes durante os anos 40.
O "Trocadero" ainda existe, como poderão ver pela fotografia, embora tenha só um terço da dimensão que tinha nos seus tempos áureos. Segundo dizem, serve uns excelentes"drinks" ao fim da tarde...
Dir-me-ão agora os mais "puristas" e conhecedores da vida e obra do Sr. Nathaniel Adams Coles que há uma falha grave na minha história. O "Trocadero" dos anos 40 era um "nightclub" fino, e não a quase espelunca que retrato.
Para isso, teria sido muito mais natural que eu me tivesse referido ao "Swanee Inn", em La Brea, onde a primeira versão do Trio, com Nat ao piano, Oscar Moore na guitarra e Wesley Prince no baixo, se estreou nos finais dos anos 30, a 25 dólares por semana para cada um. Chamavam-se, então, "The Nat Cole Swingers Three", mas passariam rapidamente a "King Cole Trio".
Mas, direi eu, se o tivesse feito também não poderia utilizar as versões escutadas de "(I LoveYou) For Sentimental Reasons" e "What'll I Do" , gravadas, respectivamente, em 1946 e 1947, quando Nat já tinha deixado de ser um dos pianistas mais promissores dos EUA para se tornar o "cantor de charme" do futuro...
Que se lixem, portanto, os "puristas"! Alain Tanner também pôs, em "A Cidade Branca", o Bruno Ganz a sair directamente dos bilhares do Jardim Cinema para uma ruela de Alfama, e ninguém se chateou com isso...
Colaboração de Luís Mira
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42 comentários:
Ora bem, parece que o nosso amigo Hugo Santos ganhou um concorrente de peso para as escritas. Ganhou ele e ganhámos todos nós, claro!
Ou muito me engano ou por daqui a algum tempo (que se deseja meses e não anos) poderemos ver nos escaparates de qualquer livraria um primeiro volume com um título mais ou menos como este: "Crónicas do Blog YéYé"
Ah, e já me ia esquecendo: Parabéns, Luís Mira, pelo excelente texto.
Uma provocação para o Hugo: eu acho que o Luís Mira não tem existência real. É apenas um heterónimo dele próprio.
Abraço
Belíssimo texto, mais uma vez. Um texto de revista, como eu lia, na Rock & Folk, pela pena de Philippe Garnier ( em LA), a falar de Chandler, Hammet e tutti quanti, com imagens a preto e branco, num imaginário cinéfilo.
Também a bd francesa se interessou pelo tema e a revista Métal Hurlant, publicou alguns desenhos de Serge Clerc e do genial e falecido Yves Chaland, com cenários dos 50.
Por mim, prefiro os franceses, embora dos americanos, aprecie os filmes noir, com histórias bem contadas e Robert Mitchum, a mostar as nocas dos dedos.
Este texto é quase um script, um guião para filme já visto, mas sempre renovado.
Por falar em Nat King Cole, há vinte anos, por razões profissionais, costumava por vezes jantar, num snack-bar, com nome Diplomático, ou assim, no fim da avenida que vinha do Restelo, para a direita e já em Algés.
O ambiente, sossegado, ao balcão, era acompanhado por música de fundo, precisamente Nat King Cole da Mona Lisa, do Unforgetable etc etc. O catálogo todo.
Ainda hoje aprecio Nat King Cole, com base nessa audição repetida.
Creio até ser esse o melhor ambiente para o ouvir: a jantar, descontraidamente, a um balcão.
Fui uma vez ao Gambrinus. Parece´-me música adequada ao balcão desse género.
Já agora, Hugo. "For Sentimental Reasons" é tb um tema dos Cleftones e uma das minhas canções Doo-Wop favoritas. De notar que sou um "taradinho" do género". Mas não sei de quem é a gravação originalç. Rato, uma ajudinha?
Abraço
Tem graça, porque enquanto lia o texto estive sempre convencido de que o autor era o Hugo, por causa do "modo operandis" da construção das frases. Só nó fim é que vi outra assinatura. Será que tens um irmão gémeo?
Quanto a "For Sentimental Reasons": a gravação do Nat King Cole, ainda com o trio, remonta a 1946. Na Wikipedia pode ler-se que os seus autores (William Best e Deek Watson) a publicaram em 1945. Vem depois uma lista das interpretações mais conhecidas.
Deduz-se portanto que a interpretação do Nat 'King' Cole foi mesmo a primeira.
Obrigado, Rato. Não foi preguiça, mas numa 1ª busca mtº rápida não encontrei informação na net e depois não tive tempo.
Caros Amigos (deixem-me chamar-lhes assim, embora não conheça nenhum de vós pessoalmente...).
Infelizmente não sou o Hugo, embora gostasse de ter os seus conhecimentos, o seu talento, as suas qualidades humanas ....e, já agora, o seu tempo disponível e alguém para dividir as despesas da casa... Só essa coisa da Catedral é que...
Faço estes textos de forma absolutamente ligeira e despretensiosa para um reduzido grupo de Amigos, como pretexto para lhes dar a conhecer alguns dos lugares por onde passei numa recente viagem aos EUA. Achei que seria mais agradável assim do que estar a sujeitá-los a uma daquelas "secas" de exibição de fotografias de viagem que duram uma eternidade e onde toda a gente diz "Aí que lindo!". Claro que só falo de coisas que entendo poderem ser do interesse comum. O resto, guardo para mim.
Alguns desses Amigos não reagem, outros fazem-no de quando em vez, "en passant"... O Hugo, com o apoio activo de Mr. Ié-Ié (obrigado Luis!) tem a bondade de entender que esses textos podem ter interesse para mais pessoas... Et voilá!
Obrigado pela paciência que tiveram em ler este texto enorme e com carácter demasiado "pessoal" e também pelos comentários e pelo apoio. Ainda me restam algumas fotografias para comentar, pelo que é provável que tenham de continuar a "apanhar comigo" de vez em quando, se o Hugo e o Luis assim o entenderem...
Em relação ao Jc, talvez seja capaz de lhe responder mais tarde, mas agora aqui no emprego não tenho essa informação "à mão". E manifesto a minha total ignorância por não saber o que é o Doo-Wop...!!! Ou então sei e não sei que sei...
Quanto ao José, tem toda a razão: comer um bifinho na frigideira ao balcão, com aquele pãozinho quente, a ouvir NKC deve ser o máximo...!
Um abraço e bom fim de semana.
Caro Rato: é o que se pode chamar uma contratação Cristiano Ronaldo para um blogue onde o dono do quiosque, possivelmenet, vai necessitar que, no próximo almoço, se organize uma "quete" para, segundo as tuas contas,se angariar 16,00 euros para que o "Ié-Ié" continue a rolar.
Quanto ao resto o Luís Mira já explicou tudo e apenas tenho a dizer que é um é um companheiro de velhas e variadas estradas, sempre prontos, para uma "one for the road" e que me dá sempre um tremendo gozo ler-lhe as prosas. Pena que por afazeres profissionais não sejam mais regulares.
Bom, como diz o JC, lá estamos nós a cair em "conversa de tias".
Já que no final do texto o Luís Mira fala em "A Cidade Branca" fala das variantes do Tanner, vão aqui mais duas que le introduziu. Penso que há mais:
- O "British-Bar" faz de entrada de pensão.
- O Bruno Ganz parte de comboio para Zurique saindo da EStação do Rossio em vez de Santa Apolónia. Assim fez porque entendeu que a estação do Rossio era uma coisa bonita para ficar no seu filme.
Doo Wop?
O melhor é ouvir o disco de Frank Zappa, Cruisin with the ruben jets: é uma imitação do original,absolutamente grátis, mas valiosa.
Uma música fifties, sem valor intrínseco nas letras, mas de melodia fácil e dançável.
Zappa, juntou-lhe o ingrediente que faltava: o humor acidulado, para a desconstrução.
Zappa é um autor, compositor, cantor, guitarrista, músico, arranjador que considero o músico total, além dos clássicos.
E por causa da sua continuidade conceptual, temos doo-wop em quase todos os discos, disfarçado de pequenas rábulas, em tonalidades irresistíveis.
Eu sei que por aqui não é muito apreciado.
Mas devia ser...
O Doo Wop, Luís Mira? Então, mtº fácil: doo,doo,doo,doo; doo, doo, wop... É só juntar melodia a "condzer".
Mais a sério. Era essencialmente música vocal, "à capella", com um acompanhamento musical reduzido normalmente ao essencial e cantado por grupos, quartetos e quintetos, normalmente de negros, que se juntavam na rua e cantavam para ganhar "umas massas"(daí serem mtªas vezes chamados "street corner singers"). Como a "coisa" saía barata, eram em grande nº os que conseguiram gravar. Disseminaram-se um pouco por todos os USA, mas, essencialmente, foi um fenómeno com maior incidência da East Coast, na 2ª metade dos anos 50.
Abraço
Se calhar é mais fácil falar em exemplos de grupos de doo woop, como Platters, Frankie Lymon and Teenagers, Moonglows, Dion And The Belmonts etc. e tal.
Moonglows à parte, os outros conjuntos citados não se enquadram lá muito bem no género "doo-woop".
Existe no entanto uma regra-base que mesmo sem se conhecer o grupo ele poderá de imediato ser associado àquele género. Basta que o nome acabe em "tones": Cleftones, Harptones, Keytones, Royaltones e por aí fora...
Bom....se o F. Lymon não é doo woop, então os Cadillacs os Flamingos os Del Vikings, não são doo-woop ? quantos destes é que acabam em tones ?? que definição tens de doo-woop então ?
Já agora, fui verificar se a minha noção de doo-wop estava assim tão distorcida. Isto é retirado da wikipedia.com :
Some of the singers imitated instruments while singing the nonsense syllables from which the name of the style is derived. The name was later extended to group harmony . An example of this includes "Count Every Star" by The Ravens (1950), which includes vocalizations imitating the "doomph", "doomph" plucking of a double bass. This vocal style created a template for later groups.Among the earliest popular African-American vocal groups to make an impact were the Ink Spots and the Mills Brothers. Later, The Orioles helped develop the doo-wop sound with their hits "It's Too Soon to Know" (1948) and "Crying in the Chapel" (1953). Doo-wop broke into the mainstream in 1951, with R&B chart hits such as "My Reverie" by The Larks, "Where Are You?" by The Mello-Moods, "Glory of Love" by The Five Keys, "Shouldn't I Know" by The Cardinals, "I Will Wait" by the Four Buddies, and "Will You Be Mine" by The Swallows. Other important African American doo-wop groups included The Marcels, the Coasters, the Drifters, the Moonglows, Little Anthony and the Imperials , The Miracles, The "5" Royales , The Flamingos , The Impressions , The Dells, The Cadillacs, The Penguins, The Midnighters, the Teenagers and the Platters.
E já agora, para reforçar aquilo que disse noutro post, em relação ao Dwoo-Wop ser curiosamente cantado por Afro-americanos e Italianos, citando a mesma wikipedia (curiosamente estão aí todos os que falei) :
The rise of Italian-American doo-wop
This period also includes (in 1958) the rise of Italian doo-wop groups. It was at this time, that the Italian groups took over a large portion of the genre (but certainly not all of it), from 1959, to 1964 when doo-wop ended. Though some African Americans moved toward their new creation, "soul music", this alone can not be stated as the reason for the Italians rise. Like their African American counter-parts, the Italians were extremely talented singers, and also hailed from the inner city and urban areas. For example, Dion DiMucci and the Belmonts hailed from the Belmont section of the Bronx. And, just like the African Americans who started doo-wop, the Italians were generally very religious. They mostly attended Catholic churches, which gave them much singing experience. By the late 1950's, Italian street corner doo-wop groups were being seen in urban cities including New York, especially the Bronx and Brooklyn. Some of the Italian groups who had national chart hits include Dion and the Belmonts in 1958 with "A Teenager In Love", The Capris with "There's A Moon out Tonight" in 1960, the Elegants, the Mystics, the Duprees, Vito & The Salutations, the Del Satins, and in 1962 with their big hit "Sherry", Frankie Valli and the Four Seasons. Other Italian groups include Dino and the Diplomats, The Four Jays, The Essentials, and Randy and the Rainbows who hit the charts with their 1963 smash, "Denise".
Bom, os Platters estão para o Doo-Wop assim como a Mariza está para o fado autêntico. Dione & The Belmonts não têm nada a ver. O mesmo não direi de Frankie Lymon, que não sendo um grupo Doo-Wop clássico não andará lá mtº longe. Na fronteira. Mas se tudo o que é terminado em "tones" é por definição Doo-Wop, há muitos grupos c/ outros nomes que são Doo-Wop do mais puro, como os Flamingos, Cadillacs, Moonglows, Orioles, Dubs, cujo tema "Could This Be Magic" é um dos meus favoritos do género, etc. Segundo rezam as crónicas, o primeiro tema Doo-Wop terá sido gravado em 1949 por um grupo de Chicago chamado The Dozier Boys, mas estas coisas valem o que valem.
JC, eu não acho nada que Dion não seja doo-wop e do puro, assim como os Platters, e pelos vistos fazem parte do que se considera doo-wop. De qualquer modo pode haver definições pessoais para cada estilo de musica, mas isso já são opiniões e não definições.
Ó Paulo, aquela dos "tones" foi apenas uma graça - mas realmente existem dezenas desses grupos "doo-woops" cujos nomes terminam assim.
Só que é como o JC diz, não podemos meter tudo no mesmo saco - para mim os grupos "doo-woop" eram quase exclusivamente caracterizados pela insistência nos coros, o que coloca de fora grupos como os Platters, Frankie Lymon e sobretudo o Dion e Belmonts. É claro que também existem coros nas suas gravações, mas não eram a parte essencial, como os outros.
E não te esqueças que a Wikipédia é feita pouco a pouco pelos cibernautas, por isso não é uma fonte 100% segura. É sem dúvida uma preciosa ajuda, das melhores que conheço na net mas há outras. E nestas coisas nada melhor do que ir beber a várias fontes, ouvirmos com atenção e só depois tirarmos as nossas próprias conclusões. Que, felizmente, serão mesmo assim diferentes do companheiro do lado.
Têm uma versão de "In The Still of The Night",dos Five Satins, mas, por exemplo, "A Teenager In Love" afasta-se mtº do género. Não me parece, no seu todo, possam integrar o conceito Doo-Wop. O Carlos do Carmo é fadista? Eu, por mim, não acho! Os Platters, são os Platters, pronto, "uma coisa em forma de assim". Eu sou um radical, JK, um fundamentalista maltês.
Abraço
Já agora, se alguém quiser o ficheiro de "She's Gone", dos Dozier Boys (1949), considerada a gravação que inaugura o género Doo-Wop (não juro), é só dizer e enviar e-mail. Aviso que a gravação não é fantástica, mas...
Bom, já percebi, estamos a falar de opiniões, porque todos os grupos que falei, e os que aí coloquei, são considerados doo-wop, e normalmente estão nas colectâneas do género. E sim, o Carlos do Carmo e a Mariza são fadistas. E sim, sempre existiram e existirão grupos que se podem encaixar em estilos diferentes de música. Então nos anos 50 isso era comum. Mas pronto, já demonstrei o que queria dizer, e vocês já demonstraram que têm uma opinião diferente da definição habitual, não faz mal nenhum :)
Já agora, para quem quiser saber um bocadinho mais sobre dwoo-wop e não acreditar na wikipédia, tem aqui o link do Doo Wop Hall Of Fame http://www.doowophof.com/done/groups1.htm
Bela narrativa, Luís.
E que se danem os puristas! Quando se usa a linguagem cinematográfica - como dizia o mestre Hitchcock, "a arte de mostrar a vida sem as partes chatas" -, deve-se mesmo falsear a realidade física.
Contar uma história por imagens não é fácil - o cinema português falha muito nessa vertente -, e você, Luís, fê-lo de forma eficiente. E alcançou esse objectivo só com palavras. Brilhante!
Obrigado, Gin-Tonic, pela contratação. Temos em si um novo Rui Costa!
E, Luís, deixe-me confessar que partilho a sua paixão pelo Jazz Vocal. Gosto muito dos artistas citados, mas também, de Peggy Lee, Louis Armstrong, Sammy Davies Jr, Tony Bennet, Frank Sinatra, Della Reese... ah, e tenho o LP "Unforgettable" (Capitol DT-357) de Nat King Cole, claro...
No texto, só não gostei da frase "estávamos ainda no tempo do vinil". E alguma vez esse tempo passou? Só para quem gosta de gastar mais dinheiro, ficar com um disquito de caixa de plástico na mão, e sofrer com o som frio do formato digital.
Quanto à polémica Kerouac versus JC/Rato, só tenho a comentar: a Mariza não é fadista?
Not really
Filhote: Tanto quanto o Liberace era um pianista clássico ou os ABBA um grupo rock. Aceitam-se outras comparações
Abraço
O Liberace era um pianista de easy-listening, os ABBA, uma banda totalmente Pop.
A Mariza nasceu em Alfama, cresceu a ouvir e cantar Fado de Lisboa... e só canta Fado... respira Fado... talvez não da mesma forma que os insuperáveis Marceneiro e Amália, mas estamos em 2008...
Os meus amigos, puristas do Blues, também defendem que a Billie Holiday nunca foi uma cantora de Blues. O mesmo afirmam sobre a Bessie Smith. Dizem eles que as duas cantavam Jazz. E que Blues é apenas Muddy Waters, Buddy Guy, B.B. King... enfim, aposto que nunca ouviram com atenção os primeiros discos de B.B. King, por exemplo...
É óbvio que a música da Mariza procura, cada vez mais, discretas fusões com outros estilos. Todavia, não se esqueçam que a Amália também fez o mesmo e nunca deixou de ser considerada fadista por isso.
Mas tudo bem, compreendo o ponto de vista do JC. Não estou totalmente de acordo, mas compreendo. Para um purista do Fado, ou fadista de gema - que são uns invejosos incuráveis -, talvez a Mariza não seja fadista.
Eu sei, o JC não é um purista do Fado, nem um fadista de gema. É um purista, ponto final. Não faz mal, também o sou noutras matérias...
Obrigado, Filhote, pelas amáveis palavras.
Acontece, porém, que o dono do Kiosque prometeu-me uma comissão mas até agora só tenho levado com tremoços. Ainda por cima do Lidl... e como os tremoços vêm para a mesa numa tacinha, nem sei o prazo de validade...
Em completo acordo no que dizes em relação à Billie Holiday, à Bessie Smith. Como não gosto de música por catálogo ou catalogação estou à vontade... A ignorância tem destes atrevimentos...
Quanto ao Luís MIra, que provocou esta discussão do Doo-wop, tem estado ausente dos comentários. Por motivos profissionais está ausente de Lisboa.
Um bom agente tem sempre de defender os seus artistas...
Bom, caríssimo Filhote:
O Marceneiro, claro. Em certa medida, é o nosso Robert Jonhson. O Paco Ibañez dizia (e eu subscrevo) que ele e José Afonso eram as maiores personalidades da música popular portuguesa do séc. XX A Amália? Foi fadista, nos tempos do Café Luso e por aí mais uns (poucos) anos. Mas foi um engano de alma ledo e cego que a fortuna não deixou durar muito. Comparo-a sempre ao Elvis Presley: foi mtº bom, enquanto na fase rock n' roll, mas durou pouco (o Elvis até 58). Tb concordo com o facto da Billie Holiday nunca ter sido uma cantora de blues. Já quanto à Bessie Smith... foi mesmo uma excelente cantora de blues. Quanto a B. B. King e os outros que citas, antes deles há muitos mais: Charlie Patton, Bukka White, Kokomo Arnold, Skip James, Ma Rainey, Blind Lemon Jefferson, Big Bill Broozy, Blind Willie McTell, Ida Mae. Cito de cor, mas há tantos outros. No meu "blog" tive em tempos uma rubrica s/ blues clássicos onde os incluí a quase todos.
Abraço. Ah, hoje, até logo às 18.30h, sou do Leixões!!!
JC, e o Leixões venceu mesmo... viva!!!
Quanto ao último post "maltês", apenas uma rectificação: eu escrevi, de facto, Muddy Waters, B.B. King e Buddy Guy, porém, não fui eu que os citei, mas sim, o tal amigo que não considerava a Bessie e a Billie cantoras de Blues... parece estranho, mas não é...
De qualquer forma também sou devoto do Blues original. Tanto rural como urbano. Patton, Robert Johnson, Willie Dixon, Big Bill Broonzy... sou grande fã do Bukka White... e de Howlin' Wolf e Muddy Waters por questões óbvias... afinal, não passo de um stonemaníaco!
Espicaçado por estas conversas vituais, estou agora a ouvir um disco notável: "Angola Prisoner's Blues" (1959, Arhoole 2011), com Robert Pete Williams, Mathew "Hogman" Maxey e Robert "Guitar" Welch.
Sempre gostava de saber pq deram o nome de Angola a uma prisão americana...
«A Mariza nasceu em Alfama, cresceu a ouvir e cantar Fado de Lisboa...»
Ó Filhote, tens de ir ler a biografia da Mariza com urgência. É que a senhora é minha conterrânea, nasceu em Moçambique, filha de pai branco e mãe negra. E quando veio para Portugal (com 3 anos), não foi em Alfama que viveu mas sim na Mouraria.
De qualquer modo, e para dar o meu contributo à polémica, considero-a fadista, naturalmente, se bem que os "rótulos" na música (e em outras coisas) nunca representaram grande coisa para mim.
Já agora, voltando ao Doo-Wop. Não é bem a "million dolar question", mas alguém sabe a razão porque os grupos Doo-Wop são na sua esmagadora maioria masculinos e existem tão poucos femininos? Eu sei a resposta... claro, ou penso que sei: deixem-me lá brilhar um bocado!!! Mas acho que pelo menos o Rato tb sabe.
Também sei: as mulheres é para ficar em casa! ah! ah! ah1
LT
Eu bem me queria parecer que não ia brilhar assim tanto... estou a competir c/ profissionais!. Como começavam a cantar na rua ("street corner singers")era como o clube do Bolinha: menina não entra, ou melhor, a rua é para os rapazes.
Ou seja, na realidade era apenas pela mesma razão que a maior parte dos grupos pop ou rock são maioritariamente masculinos :)
Peço desculpa, Rato, escrevi de cor e no calor do debate - não o costumo fazer.
Conheço pessoalmente a Mariza. Há bastantes anos até. Do tempo em que ela mal imaginava os discos que gravaria e o sucesso que faria. Pessoa maravilhosa. Cantora de excepção.
Obviamente, devia ter escrito Mouraria e não Alfama. Não me lembrava ao certo do bairro e fiz confusão. Podia ter confirmado com a artista...
Quanto ao "nasceu", neste caso faltaram as aspas. A minha frase pretendia referir o nascimento artístico/fadista da Mariza. Enfim, com tanta ganância em dar a réplica, exprimi-me mal...
Obrigado pelos reparos, companheiro Rato.
Em parte sim, JK, mas, neste caso, de forma bem mais esmagadora e com esta especificidade. Acresce que, por razões várias, os instrumentos mais vulgares nas bandas rock (guitarra eléctrica, bateria) não têm tradição nas mulheres, ao contrário do canto que era o instrumento fundamental no Doo-Wop. E que, + ou - na mesma altura, floresceram os girls groups e existiam cantoras rock importantes.
Não concordo totalmente, mas também acho que já vai longa a polémica..eheh...até porque estamos a falar de coisas diferentes, eu falo do que é considerado Doo-Wop, e vocês falam da vossa definição pessoal, e aí não há argumentação possível. Interessa é que todos gostamos das músicas, o resto é pormenor.
Boa tarde!
Desculpem a minha reacção tardia às vossas informações e comentários, mas estive ausente de Lisboa e só agora os consegui ler.
Confesso-vos que nunca esperei que uma simples questão desse pano para tantas mangas...! Mas penso que será esta "interactividade" que faz a riqueza deste blogue. O facto de haver tanto desacordo em relação ao tema também não me preocupa. É habitual nestas coisas da música e não só...
Quanto às dezenas de nomes citados, é claro que os Ink Spots, Mills Brothers, Platters, Monnglows e mais um ou outro me são conhecidos. Mas os restantes não são nada, nada "lá de casa"... Mas acho que já entendi o que é isso do Doo-Wop e agradeço a vossa disponibilidade!
Só mais duas respostas a comentários que me foram dirigidos.
Ao José, direi que sei quem é o Frank Zappa e me lembro de ter ouvido alguns discos dele em casa de amigos. Um deles, o mais badalado na altura, chamava-se "Hot Rats" mas não sei se é ainda com ou sem os "Mothers of Invention". Talvez tenham sido audições apressadas e desatentas, mas lembro-me que nunca gostei muito daquilo que ouvi. Fiz agora um esforço enorme para me lembrar de uma música do FZ e só me consigo lembrar de uma: uma peça instrumental longuíssima, onde lá pelo meio aparecia um tipo em estilo de "pica bilhetes" de transporte público dizer, repetidas vezes: "Tickets Please, Tickets Please, Tickets Please".... Tudo isto durava aí à volta de 15 ou 20 minutos!
Por essa altura andava eu perdido de amores pelos primeiros discos do Leonard Cohen e do Tim Buckley. Como temos de dar toda a dedicação aos nossos amores, pendurei o Zappa na prateleira das inutilidades, até hoje... Eu sei que a história o absolveu, mas não há nada a fazer... Acontece que na Música, no Cinema, na Literatura, às vezes entramos em alguém num mau momento ou pela porta errada, e afastamo-nos para sempre... Penso que foi o que me sucedeu com o Zappa. Tomei nota do disco que me recomendou e, se o encontrar, não deixarei de o ouvir. Quem sabe se não terei mesmo uma boa surpresa...!
Voltando-me agora para o "Filhote", começarei por lhe agradecer os comentários. Quanto ao resto, dir-lhe-ei que a frase "estávamos ainda no tempo do vinil" tem apenas uma intenção "histórica" e não constitui um juizo de valor em relação à perenidade ou às qualidades do dito objecto. Ainda há pouco tempo comprei um "Rega Planar" novinho em folha só para ter o prazer de continuar a ouvir os meus vinis em boas condições...
Agora uma coisa parece-me óbvia: o CD trouxe consigo uma variedade de oferta que não existia "no tempo do vinil". Um só exemplo, retomando alguém a que me refiro no meu texto. Nunca consegui encontrar em vinil um único dos "Songbooks" da Ella Fitzgerald. Havia boas colectâneas (Ex: a excelente colecção "The Entertainers", que costumava comprar na saudosa Dargil), mas não mais do que isso. Pois comprei todos os "Songbooks" em CD sem qualquer problema. Também tem sido à custa dos CD's que tenho completado a minha colecção de Folk Music americana. Claro que continuo a comprar LP's no "E.Bay" quando não tenho alternativas de CD. Porque entre um vinil em mau estado de conservação e um CD de "som frio" e "capa de plástico", prefiro o CD... Em idênticas condições de conservação, optarei pelo LP.
Ainda bem que reapareceu, Luís, e ainda bem que é cá dos nossos. Ou seja, daqueles que ainda compram e ouvem LPs!
Grande abraço e continue a escrever...
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