segunda-feira, 4 de dezembro de 2017
MEC E O PROFESSOR ESTEVES CARDOSO
Há tempos, da forma saborosa como só ele o consegue fazer, Gin-Tonic fez publicar aqui um pequeno texto onde, a propósito dos Smiths, recordava uma história que me teria ouvido contar há muitos anos atrás, envolvendo o Miguel Esteves Cardoso (MEC).
Tudo nessa história está correto, com exceção de um pequeno pormenor que agora me atrevo a corrigir, para salvar a honorabilidade do Professor Esteves Cardoso…!
Na verdade, nunca em aula alguma me recordo de ter o Professor Esteves Cardoso evocado temas relacionados com música, cinema, cocktails, charutos, tomates da Dona Marcelina ou qualquer outro dos seus prazeres íntimos e pessoais.
As aulas do Professor Esteves Cardoso eram muito sóbrias e, para ele, trabalho era trabalho e conhaque era conhaque. E, manifestamente, Sociologia Política era trabalho e só trabalho…
O que algumas vezes acontecia era no final das aulas sairmos os dois a conversar sobre qualquer coisa escolar e, naquele longo corredor que separava a sala de aulas do hall de entrada do ISCTE, eu me enchia de coragem e o abordava, numa de conhaque, sobre assuntos de música.
MEC nunca se furtava a essa pequena conversa, a qual se processava sempre a ritmo acelerado e sem nunca abrandar o passo, como se aquela situação de ter de misturar o Professor Esteves Cardoso com o MEC o incomodasse…
A história dos Smiths vem daí e não foi debitada em plena aula, tal como Gin-Tonic, talvez por culpa minha, o deu a entender…
Mas também me lembro muito bem da última conversa desse estilo que tivemos, porque me deu a ideia de que ambos saímos dela com algum desconforto.
Ter-lhe-ei perguntado o que é que havia de música irlandesa recente verdadeiramente interessante e a resposta dele deixou-me estupefacto: “Você já conhece os Dubliners…?”
“Olha que caraças”, disse eu para com os meus botões… “Então eu pergunto a este gajo por qualquer coisa de novo na música irlandesa e ele responde-me os Dubliners…! Só faltou perguntar se também conhecia os Chieftains…!!!”
Foi como perguntar o que é que havia de novo no Fado e alguém me responder: “Você conhece o Carlos do Carmo…?”
A resposta que me saiu para o MEC - “Sim, mas esses são muito comerciais…!” - mereceu da parte dele um simples esgar, acompanhado de um “Mas são muito bons…”
E a conversa acabou aí e não mais voltou a haver mais nenhuma.
É verdade que a resposta o poderá ter levado a pressupor algum pretensiosismo da minha parte, mas sem razão porque quem conhece os meus gostos sabe bem que sempre gostei muito dos Dubliners e até considero o seu fundador, Ronnie Drew, uma das personagens mais fascinantes da música irlandesa contemporânea.
Mas, por essa altura, eu já tinha mergulhado em Planxty, Sands Family (com os manos a solo e em grupo), nos primeiros Clannad, como mais tarde haveria de mergulhar em Dervish, e aquilo que procurava era algo desse estilo, se quisermos, mais simples e mais fiel às verdadeiras raízes da música irlandesa.
Os Dubliners enchiam estádios. Estes grupos pequenos teatros de bairro ou de província…
MEC não o percebeu. Ou, se calhar, não tinha era mesmo nada para me aconselhar…
Texto de Luís Mira
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