domingo, 31 de dezembro de 2017

AULD LANG SYNE


Este salto, sem rede, no vazio incógnito do novo ano.

Chame-se-lhe raiva no desejo e na alegria de transformar as coisas que estão mal.

Chame-se-lhe futuro.

Chame-se-lhe o novo ano.

De tal forma que os melhores votos de Ano Novo que podemos hoje formular sejam o desejo de que o futuro nos dê algo que desejar.

Sophia Mello Breyner Andresen sempre se admirou por as pessoas celebrarem a passagem do ano, dizia ela, que o ano está sempre a passar.

Há quem nunca deseje bom ano a ninguém, afirmam que dá azar.

E depois há a velha sabedoria que nos diz que os anos só são novos enquanto os novos somos nós.

Num solene adeus a um qualquer ano velho, o poeta inglês Robert W. Service lembrava que o seu cachimbo estava apagado, o copo vazio, comboios atravessam as noites.

Que virá a seguir?

O que for será, como canta a Doris Day

Se viram um amável filme do realizador Rob Reiner, em que Nora Ephron mete a sua distinta colherada,  protagonizado por Meg Ryan e Billy Cristal, When Harry Meet Sally, o filme em que Meg Ryan, com o molho à parte, simula um orgasmo em pleno Katz's Delicatessen, esmerado restaurante de Manhattan e, finda a performance, a cliente da mesa ao lado, que aguardava para fazer o seu pedido, volta-se para o empregado e diz: quero o mesmo que aquela senhora,  certamente lembrar-se ão que, quase no final do filme, quando, numa festa de fim de ano, Harry reencontra Sally, começam a ouvir-se os acordes de «Auld Lang Syne», e Henry diz que nunca entendeu o significado da canção pois a canção diz que os velhos conhecidos devem ser esquecidos ou que se os esquecemos devemos recordá-los mas como recordar se já os esquecemos?

Sally não tem resposta mas, sorrindo, acaba por lhe dizer: seja o que for é uma canção sobre velhas amizades.

Chegamos a bom porto: velhas amizades.

Lembrar os que já não estão connosco, com os que estão, celebrar a amizade, sempre, enquanto não chega a hora do adeus.

Fará isso e aproveita para desejar aos ié-ié-viajantes uma viagem tranquila pelos novos dias de mais um ano.

Mas não queria sair sem lembrar a velha tia que repetia sempre os mesmos votos de Ano Novo:

Não se pede grande coisa: trabalho e saúde...

Texto: Gin-Tonic

1 comentário:

Rato disse...

Tem graça, "When Harry Meet Sally / Um Amor Inevitável" (1989) foi o último filme que revi em 2017, muito por causa daquele final. A cena do "orgasmo" mantém toda a sua frescura (a outra cliente é mãe do realizador), mas o resto do filme perdeu bastante do seu charme original.