quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

MADRUGADA DOS TRAPEIROS


ORFEU - STAT 040 - 1977

A

Atrás Dos Tempos Outros Tempos Vêm - Se Tu Fores Ver O Mar - Uns Vão Bem E Outros Mal - O Varredor

B

Cantiga do Desemprego - As Comissões (Fausto/L Santos) - Mariana das Sete Saias - Rosie (Fausto/António Pedro Braga/R Ferreira) - Um Canto Para Letrado

Participação, entre outros, de Sérgio Godinho ("Atrás dos Tempos") e Rão Kyao (sax e flauta).

Som de Moreno Pinto, arranjo gráfico de José Brandão, fotos da capa original de Maria José.

2 comentários:

Anónimo disse...

Não fosse esse colosso musical que dá pelo nome de “Por Este Rio Acima” ser o melhor álbum das últimas décadas da música portuguesa, e este “Madrugada dos Trapeiros” seria a "opus majus" de Fausto Bordalo Dias.

O tema “Se Tu Fores Ver O Mar” que começa por “Rosalinda se tu fores à praia”, passou fronteiras e o espírito da lírica não podia ser mais actual. Na verdade, o problema que hoje se colocaria à Rosalinda seria o de haver praia, tal o desgaste e erosão que o aquecimento global está a produzir em todo o litoral português, num processo que pode conduzir ao seu total apocalipse. Premonitório, o aviso estava dado.
Rosalinda, hoje, por favor não vás ver o mar!

Mas também a dança interminável dum confesso existencialismo patente em “Rosie” que bem podia ter saído da pena de Sarte ou Camus e servir de banda sonora ao filme “Os Cavalos Também se Aabatem” imortalizado por uma Jane Fonda que nele dança até uma exaustão onde “o nada deve acabar-se também”.

Nunca cansa ouvir o brilhante tema inicial “Atrás Dos Tempos Outros Tempos Vêm” a dialética dos tempos cruzada com uma aguarela de personagens que aqui colhem a sua melhor expressão musical.

O impressionante “Mariana das Sete Saias”, personagem que tem alguns amadores, amados não sabe, ouvia pela radio o folhetim , dança bolero em dó menor ali num cantinho qualquer. Um tema jazzístico em que o saxofone de Rão Kyao brilha num solo e Sol maior.

Não me lembro de um retrato musical de melancólico diário tão bem conseguido como a “ A Cantiga do Desemprego”. Se o tema entristece, a música chora como se saída de um inspirado Mahler convertido à canção de protesto.

Para tudo acabar num “molto vivace” “adeus que me vou embora” destinado a letrados , em ritmo de perder o fôlego que mais parece típico do nordeste brasileiro e que dá pelo nome de “Um Canto Para Letrado”.

Ainda bem que Fausto bordalo Dias não foi embora nem entregou a alma ao diabo, antes iniciou a sua trilogia e peregrinação "Lusitana Diáspora" que esta “Madrugada” apenas serviu para esperguiçar os seu primeiros raios de uma Faustosa manhã que se avizinhava.

JR

ié-ié disse...

Belo comentário, sim senhor, obrigado!

LT