domingo, 20 de maio de 2012

MUCHAS GRACIAS, HIJO MIO!


Agradeço ao Filhote ter-me sugerido este belo disco (o álbum Gentle Spirit, de Jonathan Wilson) e ter-me proporcionado, assim, uma excelente oportunidade para comprovar aquilo que ainda há bem pouco tempo por aqui dizia: que não era um nostálgico do passado por saber que há por aí muito boa música, feita nos nossos dias, à espera que lhe saibamos ou possamos deitar a mão.

Que estilo de música é esta…?

Música moderna “de passarinhos”…! Muito calma, muito serena, muito reconfortante. Apenas com o senão (que não afecta o conjunto) de aqui ou acolá me ter parecido ouvir aquilo a que no meu tempo se chamava de sintetizadores (sacrilégio…!), como se Rick Wakeman, tal qual a mãe do Woody Allen, me surgisse nos Céus de dedo esticado a lembrar que o pecado nunca há-de morrer…

Agora mais a sério, direi que não estou, sequer, muito preocupado em saber em que estilo ela mais se enquadra… Música boa e é quanto me basta.

Mas se fosse obrigado a espremer as referências musicais, seria levado a arriscar que será assim uma espécie da Modern Folk que tanto tem andado na moda nestes últimos tempos e que, entre outras coisas, se caracteriza pela criação de ambientes sonoros muito especiais e envolventes, nos quais, ao contrário da Folk mais tradicional, se dá uma ampla liberdade às divagações instrumentais.

No que respeita às influências possíveis do passado, faz-me lembrar algumas sonoridades mais calmas dos Pink Floyd, Kim Krimson, Roy Harper, para vos dizer o que agora me veio à cabeça… Amanhã poderão surgir outras!

Mais recentemente, talvez os Mojave 3 do primeiro álbum.

No que conheço dos nossos dias, Davendra, Will Oldham em todos os seus disfarces, Vetiver, Ben Chasny, José Gonzalez, só para referir vozes masculinas…

Mas, por mera coincidência, dá-me também o Filhote oportunidade de ilustrar ainda outra das minhas afirmações nesse texto recente, quando disse que prefiro os bons originais às más imitações…

Peguemos na faixa 7 do disco, que é nem mais nem menos do que “The Way I Feel”, da autoria do canadiano Gordon Lightfoot e que faz parte do seu segundo LP, de 1967, que tem o mesmo nome.

Como alguns estarão recordados, essa mesma música foi completamente transformada em 1970 pelos “Fotheringay”, para muito melhor, fazendo parte do seu primeiro álbum (digo primeiro porque, quase 30 anos depois e para surpresa de muitos de nós, foi lançado um segundo que tinha ficado inédito no seu tempo).

“The Way I Feel”, pelos “Fotheringay”, é uma verdadeira obra prima, uma bandeira da “Electric Folk” e um dos casos em que a “cover” supera, largamente, o original.

Eu até nem sou muito dessas coisas, mas se houve música que sempre me fez apetecer forçar os limites da minha aparelhagem foi essa, sobretudo naquele estonteante final exclusivamente baseado na precursão…

Em 1975, quando lançou o “Gord’s Gold”, Lightfoot decidiu voltar a gravar muitas das músicas da sua fase inicial da United Artist, de que faz parte o tal LP “The Way I Feel”, porque não tinha ficado completamente satisfeito com as gravações originais.

E em boa hora o fez, porque essas novas gravações têm uma pujança que não se encontra nas originais.

Mas, que eu saiba, Gordon Lightfoot nunca mais voltou a gravar “The Way I Feel” (a música…).

Porque não gostava dela…?

Duvido que fosse esse o motivo.

Romanticamente, prefiro pensar que o próprio Lightfoot sentia que esse música já não era dele, mas dos “Fotheringay”… E, que eu tenha conhecimento, nunca sequer a incluiu em nenhuma das colectâneas das suas músicas que foram editadas com a sua bênção.

Por muito que se goste do disco de Jonathan Wilson – e eu até gosto muito, como vos disse – acaba por ser algo desconfortável (quase escrevia “penoso”…) escutar a sua versão de “The Way I Feel”… É impossível deixar de ouvir, em permanência, o som dos “Fotheringay” a entrar-nos pela janela!

Mas mesmo sentindo isso, um tipo que se lembra de “The Way I Feel” em 2011 só pode merecer a minha simpatia.

A mesma que merece o Filhote, pela sua instigante sugestão.

Estamos abertos a mais conselhos, Hijo Mio! 24 horas por dia…

Colaboração de Luís Mira

1 comentário:

filhote disse...

Há bruxas!

Mesmo antes de ligar o computador, e navegar até esta nossa casa virtual, tinha guardado o vinil de "Gentle Spirit" na sua luxuosa capa gatefold, voltando a colocá-lo na estante.

Ou seja, acabo de ouvir este disco na íntegra. Mais uma vez. E como ele permanece instigante!

Fico feliz que tenhas gostado desta música, Luís Mira. Sinal de que as distâncias não impedem a partilha.

E retribuo o teu agradecimento.

Quanto a influências na música de Jonathan Wilson... enfim, toda a música popular é derivativa... faz parte da sua essência... tal como o processo evolutivo da Folk sempre foi de recriação... Seeger e Guthrie que o digam...

... é claro que oiço um pouco de Floyd neste disco... mas também de Byrds - principalmente na magnífica "Desert Raven"... aliás, Jonathan Wilson vive em Laurel Canyon, por onde passaram os Byrds, Joni Mitchell, etc, etc...

Folk Rock?...

E agora vou ouvir Fotheringay... tornou-se irresistível!

Abraço!