quarta-feira, 23 de maio de 2012

PORQUE A BRIOSA É BRIOSA


Porquê Briosa? E desde quando se colou tal nome à equipa de futebol da Académica?

A estória é comprida e cabeluda, remontando a um conflito que dividiu a Academia de Coimbra em 1885, ainda o futebol não tinha chegado à cidade!!!...

Conta o general Norton de Matos, que frequentou a Universidade de Coimbra entre 1884 e 1888, que nesses tempos, os estudantes dividiam-se em dois grupos: os ricos, bem nascidos, que tinham nomes ilustres (monárquicos, polainudos, porque faziam da polaina um chique e uma fidalguia) e a maioria, filhos da classe média, alguns de condição modesta, com mesadas que raramente excediam os 15 mil reis (republicanos, briosos, que defendiam o brio da Academia, ultrajada pela ida dos polainudos ao funeral de D. Fernando, viúvo de D. Maria II).

Os polainudos glosavam com os briosos:

Estavas, ó briosa, em bom sossego,
Da sebenta colhendo o doce fruito,
Naquele estado tolo, bruto e cego,
Que os R R (
reprovações) não deixam durar muito;
Nesta imunda princesa do Mondego
Que vai agora d’águas pouco enxuito,
Ensinado às sopeiras e serventes

O que tinhas aprendido co’os teus lentes.

Como o termo Briosa se passou da luta política para a equipa de futebol?

Octávio Abrunhosa, pai do músico Pedro Abrunhosa, que cursou Direito entre 1945 e 1951, conta no seu livro de memórias, "Coimbra Ontem" que a Academia tinha o seu grupo de futebol, a chamada Associação Académica de Coimbra, a Briosa, como era vulgarmente conhecida.

E Eduardo Lourenço, que viveu perto do campo de Santa Cruz na década de 40, escreveu para o livro "A Académica" um texto inédito sobre a sua passagem por Coimbra, onde refere a Académica ou como diziam os castiços, a Briosa, afirmação que leva a pensar que o termo Briosa, ainda que não sendo utilizado correntemente naquela época, era um termo com origens num passado mais longínquo, mais arreigado à raiz das coisas…, algo que os castiços se encarregavam de não deixar cair em desuso!

Uma vez criada a AAC em 1887, o nome Briosa colou-se-lhe, fosse porque os seus dirigentes estavam entre aqueles que se opuseram aos polainudos, fosse porque a estudantada que aderiu à AAC incluía a arraia miúda, a denominada Academia Briosa.

Para que esta hipótese fique fechada, falta ainda explicar como é que o nome de Briosa, depois de ter servido para designar uma boa parte da Academia e, eventualmente, a própria AAC, teria passado a aplicar-se apenas à sua equipa de Futebol! Mas se nos lembramos de que, durante décadas, aquela equipa foi a face mais visível e emblemática da Academia de Coimbra por todo esse país fora, a hipótese faz algum sentido. 

Resta acrescentar que, provavelmente, terá sido com Cândido de Oliveira, que treinou a Briosa em 55/56, que o epíteto, que já existia, foi reavivado.

4 comentários:

JC disse...

Já agradeci no Facebook.

ié-ié disse...

Eu é que agradeço o desafio que lançaste. Obrigado!

LT

Anónimo disse...

BOA INFORMAÇÂO.

Carlos Caria disse...

Obrigado por mais este grande momento de cultura.
Abraço
Carlos caria