quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

PEDRO BANDEIRA FREIRE


Profissom (1982)

Lado A

Minha Quinta Sinfonia

Lado B

Ondas de Verão

Não é nada estimulante, motivos vários, a ideia que tem sobre Paco Bandeira.

Os motivos, agora, pouco importam, o cantor, apenas, aqui vem por mor de outra referência: Pedro Bandeira Freire.

Eram grandes amigos, ao ponto de o Pedro, ter comprado, em Andorra, um motor para o seu barco Providence que tinha em Sesimbra, e serviu-se da amabilidade de um tio do Paco Bandeira que era guarda-fiscal, em Badajoz-à-vista, para o passar à sorrelfa.

A semana passada, os passos quotidianos, a caminho de uma consulta médica em Entrecampos, fizeram-no descer a avenida dos Estados Unidos.

Ia a meio a caminhada quando lembrou a rua Flores do Lima, mesmo ali ao lado, o seu número 16, onde outrora foi o Quarteto, uma brilhante ideia de Pedro Bandeira Freire, não tendo habilitações para fazer alguma coisa de útil (o mesmo é dizer que não sabia nada de nada), dedicou-se a fazer um pouco de tudo.

Quatro Salas, Quatro filmes, mas uma noite houve em que as quatro salas exibiram o mesmo filme: All that Jazz, de Bob Fosse.

Boa parte da sua vida de cinéfilo tem a ver com o Quarteto, enquanto a grande parte tem a ver com os piolhos que existiam em redor da rua onde nasceu: o Cine-Oriente, o Royal, o Lys, o Rex, o Imperial, o Max.

Ia o passado ano nos primeiros meses quando a Lusa deu a notícia que onde tinha existido o Quarteto, iria nascer um cimentão qualquer destinado a escritórios.

Nos nossos cinemas, ou no que resta dos nossos cinemas, se me quiser fazer entender, para lembrar um início de crónica do João Bénard da Costa

Resolveu ir dar uma olhadela.

 Efectivamente, aquilo é agora um estaleiro de obras.

Terá que lá voltar para fazer um boneco, a história também se faz de pequeninas coisas e loisas.

Agora fica-se pela capa do disco, acrescentando que A Minha Quinta Sinfonia tem letra de Pedro Bandeira Freire e música de Paco Bandeira.

E de que é feita uma cantiga? Todos os que se lembram sabem que qualquer cantiga é feita da mesma matéria com que são feitos os sonhos da mesma matéria que nas palavras do Bogart era feito o Falcão de malta e de que o imortal Shakespeare já tinha falado. E também nascem como os sonhos. Nunca se sabe quando, como ou por onde começam e onde depois vão desguar. Um mistério, Pedro Bandeira Freire dixit, em Entrefitas e Entretelas.

Quando me lembro quem eras
Desse corpo que foi nosso
Desse amor que não deu certo
Era o tempo das quimeras
Das palavras em silêncio
Quando o mais longe era perto
Tinhas nos olhos a esperança
Os desejos de aventura
As ilusões que eram minhas
Nos momentos de ternura
Tinhas nos seios a graça
Das primaveras que tinhas
E foste a música que em mim ficou
Quando a distância nos fez separar
Ando louco para te encontrar

Foste a quinta sinfonia
Fuga da nossa verdade
Sonata tocada em mim
Foste o meu sol afinado
Neste samba de saudade
Vinicius, Nara e Jobim
Foste verso de balada
Foste pintura abstracta
Meu bolero de Ravel
Foste música sonhada
Numa canção de Sinatra
Com um poema de Brel
E foste a música que em mim ficou
Quando a distância nos fez separar
Ando louco para te encontrar

Foste estrela de cinema
Minha dama de Xangai
Hiroxima meu amor
A minha grande ilusão
Eras fúria de viver
Quanto mais quente melhor
Grande amor da minha vida
Senso, silêncio, paixão
Buñuel, Fellini, Troffaut
Foste luzes da ribalta
Música no coração
E tudo o vento levou
E és ainda o que me faz sentir
Dentro da vida p'ra te cantar
Ando louco para te encontrar…

Texto: Gin-Tonic

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