sexta-feira, 11 de novembro de 2011

FESTIVAL DO RIO 1972 (02)


Esta é a capa da revista "Rádio & Televisão", de 28 de Outubro de 1972.

"José Afonso: um Homem em carne viva" é uma reportagem/entrevista de Lurdes Féria, logo após a chegada de José Afonso do Rio de Janeiro.

O trabalho transcreve a carta que José Afonso, em 26 de Setembro de 1972, dirigiu ao Director da "Tribuna da Imprensa":

Desde a minha chegada ao Rio, para eventualmente representar Portugal no VII F.I.C., tenho sido obsequiado pela Imprensa com a consideração e respeito que o meu trabalho em música e como ser humano julgo merecer.

Em todas as minhas declarações aos jornalistas brasileiros tenho afirmado que nem ao menos considero o F.I.C. um festival popular. Considero-o mesmo como negação da arte popular, no sentido que Brecht dava ao termo.

No entanto, por lamentável equívoco, têm-me sido atribuídas palavras segundo as quais “eu não teria atirado com o violão ao público do Maracanhânzinho por respeito ao F.I.C.”. Sempre achei e continuarei a achar, até prova em contrário que o público sempre tem razão, mesmo quando a não tem. Quero com isso dizer que se o público reage mal a uma canção válida, algo o motivou para isso.

Não escondi ser nulo o meu respeito pelo Festival, que para mim foi apenas pretexto para que eu pudesse, no Brasil, falar verdades sobre o meu povo e o que com ele se passa musicalmente.

Não consegui apresentar a minha canção “A Morte Saiu à Rua". Por um motivo ou por outro, senti-me numa arena. Mas bem pude notar que não vaiavam o que eu cantava. Simplesmente, não me chegaram a ouvir – o que lamento muito.

Agradeço a publicação desta carta e aproveito para agradecer todas as vivências que a actual estada no Brasil me tem dado.

À imprensa e ao povo brasileiro, no que eles têm de mais legítimo, todo o meu respeito:

JOSÉ AFONSO, VIII F.I.C. – Representante de Portugal.

Colaboração de Gin-Tonic