quarta-feira, 24 de junho de 2009

23ª HORA


Este blogue tem amiúde enaltecido o "Em Órbita", do Rádio Clube Português, por um lado, e João Martins, por outro, um programa e um nome que fazem parte da história da rádio portuguesa.
Nada a opôr, obviamente.

Mas a voragem leva-nos por vezes a esmagar outros nomes, outros programas, igualmente meritórios da história do éter nacional.

Lembro agora a "23ª Hora", da Rádio Renascença, e um dos seus esteios (juntamente com João Martins, é certo) Joaquim Pedro.

A "23ª Hora" começou a ser transmitida em 1959 com Joaquim Pedro, Matos Maia e João Pedro Baptista, seus criadores, e também João Martins, Armando Marques Ferreira e Fernando Curado Ribeiro.

Não sendo tão elitista nem inovador como "Em Órbita", a "23ª Hora" cumpria no entanto os objectivos de então que eram sobretudo as novidades que se produziam extra-fronteiras, designadamente a chamada música pop anglo-saxónica, e o incentivo ao chamado yé-yé português.

Voz provavelmente mais conhecida pelo extraordinário "Quando O Telefone Toca" (está lá? é o senhor joaquim pedro? muito prazer em conhecê-lo! posso dizer a frase? posso pedir um disco?), Joaquim Pedro foi o primeiro a abrir o microfone na noite de 08 de Novembro de 1959.

A vigésima, como também era conhecido o programa, teve mais vozes do que uma equipa de futebol: Joaquim Pedro, Matos Maia, João Pedro Baptista, Fernando Curado Ribeiro, João Martins, Armando Marques Ferreira, Carlos Cruz, Fernando Pires, Isa Maria, Maria José Baião, Pedro Castelo, José Manuel Nunes, Dora Maria, Helena Lisboa, Maria Madalena, Clarisse Guerra, Isabel Maria, Dinis de Abreu, José Duarte, Couto Santos...

Na técnica, havia nomes como Moreno Pinto, José Videira, Vítor Cunha...

E o programa tinha diversas rubricas, "Cinco Minutos de Jazz" (José Duarte), "Os Corvos Ao Ouvido" (Leitão de Barros), "Conversas Curtas e Médias" (Américo Leite Rosa), "Os Homens da Meia-Noite" (Santos Fernando e Ferro Rodrigues), "Ao Sabor do Improviso" (António Sérgio), "Quando Os Corações Se Encontram" (Maria Carlota Álvares da Guerra).

O grande problema era a música portuguesa:

As coisas vão melhorando, embora essa melhoria não seja ainda tão evidente quanto desejaríamos... Felizmente que, graças a uma mesa-redonda que realizámos há tempos sobre a música portuguesa e os seus problemas, têm aparecido alguns novos com qualidades excepcionais para o nosso meio. Já estamos a incluir muitas das suas interpretações e estamos esperançados em alargar o seu número. Aguardemos, esperançados que a nossa iniciativa dê os seus frutos (Joaquim Pedro, no 10º aniversário da "23ª Hora").

Foi, por exemplo, a vigésima, que baptizou os Claves.

15 comentários:

josé disse...

"O grande problema era a música"...pois era. Ou antes, pois seria, uma vez que não me lembro de escutar o programa embora possa tê-lo ouvido.

O gosto musical no rádio vem de outros lados: Adelino Gomes, José Manuel Nunes, José Nuno Martins, Fernando Balsinha, os do Espaço 3P, Jaime Fernandes, João David Nunes, até um António Sérgio ou um Luís ~Filipe Martins, entre outros que me escapam agora, nas não escaparão nunca à minha gratidão de ouvinte. Como um certo Luís de Almeida, com a música dos Beatles e dos iés iés.

JC disse...

O problema da 23ª hora não era tanto a música portuguesa, caro LT. O principal problema era aquele que é infelizmente comum em Portugal: a falta de rigor, as concessões, o "porreirismo", a transigência, etc.

gin-tonic disse...

DE acordo, JC.
Mas, àquela hora da noite, a oferta era curta e má. Apesar de tudo, na 23ª hora ainda apareciam algumas pérolas. Tinhamos era que gramar com o nacional-prorreirismo, mas havia poucas saídas

ié-ié disse...

"You Were On My Mind", de Crispian St. Peters, "19th Nervous Breakdown", dos Stones - pelo menos! - foram estreados na Vigésima!

LT

JC disse...

É verdade, Gin-Tonic, mas eu tinha aulas ás 8.30h no Liceu e, depois, às 8h no Quelhas. Portanto, a maior parte dos dias era hora de pensar em dormir e ao sábado em cinema, namoradas, Van-Gogo ou umas jogatanas de poker c/ amigos se tudo o resto falhasse. Mas claro que ouvi várias vezes, embora sem a religiosidade da audição do "Em Órbita".
LT: tb era melhor que em tantos anos não tivessem feito algo de jeito! Mas interessa-me mais o "conceito" de programa, no seu todo, do que esses factos + ou - avulso.

josé disse...

Uma coisa pode e deve ser dita:

O rádio desse tempo era melhor que hoje, em termos qualitativos e de substância.

Mesmo o Clube das Donas de Casa e os programas da hora do almoço do RCP e da RR tinham piada.

Os Parodiantes de Lisboa ( que associo ao conjunto António Mafra do Porto, não sei porquê) tinham piada e faziam parte do ambiente sonoro daquele tempo.

Quem quisesse ouvir as novidades do rock, no entanto, não era aí que as procurava, mas sim na onda curta e média, dos rádios estrangeiros como a Rádio Luxemburgo ou o Top Gear do John Peel.

Na altura ( 74-75, é o meu tempo), até fixei o ponto do rádio onde estava a frequência desejada, ouvida em mono e com grandes interferências. Mas o punk e o reggae foi aí que os ouvi,no Top Gear, muito antes de por cá aparecerem em forma de disco passado no rádio de António Sérgio e outros.

Ouvi em primeira mão os grandes discos da época ( Neil Young, Bebop Deluxe, Undertones, Roxy Music, Sadistic Mika Band, Toots & the Maytals, Brian Eno, etc etc que estes são os que me ocorrem de memória).
O indicativo do Top Gear, na BBC1, era uma música de blues de um grupo branco sulista: Grinderswitch.

Anyone knows?

É uma grande música de guitarra bluesy.

Os radialistas portugueses da época, provavelmente conheciam o Peel, vindo da Radio Caroline-pirata, nos anos sessenta.

José Nuno Martins conhecia pela certa porque o ouvi falar nessa altura na Rádio Luxemburgo. ORa quem conhece esta, conhece aquela.

filhote disse...

Segundo os meus progenitores, a 23ª Hora era grande referência. Onde se ouvia Beatles, Stones, Kinks, Searchers, Françoise Hardy, Richard Anthony, etc, etc, etc...

A minha mãe, interna no Ramalhão (Sintra), escondia-se na casa de banho para fugir à vigilância das freiras e ouvir, "religiosamente", a 23ª Hora.

Tudo isto se passava em 1964/65/66... por aí...

JC disse...

Caro José: o mundo daquele tempo, principalmente o mundo mediático, nada tinha a ver c/ o de hoje. A rádio daquele tempo seria, por isso, hoje em dia insuportável, embora isso não signifique que a de hoje em dia seja boa. A função da rádio era diferente nesses dias: era o "media" nuclear e o surgimento do FM permitiu a sua segmentação. Em Portugal, existe uma rádio antes e depois do FM. O CDC era uma possidoneira equivalente aos programas de TV de hoje para donas de casa e reformados (aqueles que passam nas generalistas durante o dia) e os Parodiantes não melhores do que os programas de anedotas da TV. Gato Fedorento e o artista que em tempos se chamou Herman José são superiores em vários anos-luz. E, no humor, a censura se por um lado dificultava por outro tornava as coisas mais fáceis: qualquer pequena irreverência para com o poder era fantástica! Pelo contrário, toda a música de que falamos tinha na altura um lado inovador, irreverente e socialmente transgressor (mesmo revolucionário), em grande escala, que a de hoje não tem.Na sua esmagadora maioria, é "mainstream"!

daniel bacelar disse...

Meus queridos amigos
Permitam que também diga alguma coisa sobre este histórico programa pois eu vivi intensamente essa época.
Por muito estranho que parêça para aquela altura,a Radio Renascença era a casa da malta.
Ainda me lembro de subir aquelas velhas escadas de madeira ,tocar á compainha e entrar como se fôsse em minha casa.
Foi na 23ª hora que os Ekos,Conjunto Mistério,Duo Ouro Negro.eu e os Gentlemen e muitos outros grupos fizeram gravações debaixo da maestria do Moreno Pinto e mais tarde transmitidas neste programa.
Havia uma relação de amizade entre todos nós e a equipa de locutores o que criava um constante hambiente de festa que fugia totalmente ao hambiente radiofónico da época.
Não sei que é feito dessas gravações,eu ainda conservo as minhas,e só lhes digo que ainda hoje o som está perfeito devendo-se isso á carolice do Moreno Pinto que com o seu ar ceráfico depois da gravação feita naquelas AMPEX de fita magnética,perguntava:
ENTÃO QUE TAL?????
Aquele homem não tinha horários,perdia horas infindas connosco numa total dedicação e paciência para aturar aqueles putos roquistas que se sentiam OS MAIORES.
Naquela casa,havia uma total liberdade para criar,e para aquela altura,meus amigos,todo o apoio que davam á MALTA,poderia até ser considerado pelas ALTAS ESFERAS,demasiado para a frentex!!!!
Relembro com saudade aquela casa,o seu pessoal que ia da telefonista aos locutores e a amizade com que sempre nos recebeu e .....apoiou!!
Hoje em dia,estamos em liberdade (inclusivé para fazer toda a espécie de asneiras e segundo parece impunemente!!)e há tempos fui lá.
A velha escada já não existe,entra-se por outro lado (ainda bem,tudo tem de evoluir)a campainha da porta já tem um som diferente e naõ sei porquê depois de entrar senti-me um pouco oprimido!!!...e estamos em LIBERDADE!!!

ié-ié disse...

Tens as tuas gravações da Vigésima? E não passas para digital?

LT

daniel bacelar disse...

Meu Caro Luis
Mas tu já tens essas gravações no segundo CD da caixinha que te dei.
São as seis primeiras canções antes do "over the rainbow" gravadas pelo GRANDE Moreno Pinto.
Pois é,é essa a atenção que dás ás coisas que te dou!!!
AI!AI!

ié-ié disse...

Queres acreditar, Daniel, que só agora é que realizei que se trata das gravações da Renascença?

Fantástico!

É que só mesmo no CD propriamente dito há essa indicação, mas pouco perceptível, e, claro, tinha-me escapado.

As vezes que as ouvi sem disso me ter apercebido... É que não parecem nada...

É que nem mesmo na nota pessoal infelizmente sem data que religiosamente guardo ("é favor guardar em sítio sem humidade e longe do Sol pois senão o Artista pode-se constipar" isso está referenciado.

Tks!

LPA

daniel bacelar disse...

Alô Luis
Eu só estava a brincar contigo,pois eu sei que guardas religiosamente estas coisas.
É uma pena o resto da malta (conjuntos,como se chamava na altura)não ter conservado essas fitas de gravação,pois acho que pelo menos para nós que vivêmos essa época tinha a sua piada.
Não me canso de dizer:
O Moreno (Como nós chamávamos ao Moreno Pinto)era um purista e fazia autênticas maravilhas com o material que tinha á sua disposição-como podem imaginar.
Ainda não perdi as esperanças de voltar a encontrá-lo e relembrar velhos tempos.
Não sei se iria aguentar e se não me iria dar ...uma coisa.

Anónimo disse...

Pois eu também ouvia, religiosamente, a 23ª hora todos os dias, debaixo dos cobertores para a minha mãe não ouvir.... tínhamos que nos levantar muito cedo para ir para as aulas e estar acordado àquela hora era impensável. Mas era irresístível ouvir a 23ª onde se ouviam as grandes novidades da música pop / rock. Foi lá que se estreou o "Black is black" por exemplo e outras. Era um programa tão importante que mesmo ao fim de 60 anos se mantém vivo na minha memória! Grata!

Anónimo disse...

BLACK IS BLACK, Los Bravos :)
(1966)
https://youtu.be/VVWNZPOUhO8