quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

A CHAVE


Caricatura de página inteira da banda portuguesa A Chave, da autoria de Jorge Gil, um dos patrões do Em Órbita.

A Chave era em 1969 constituída por José Luís Quintino, 4º ano de Belas-Artes, viola-solo, António José Figueiredo, 2º ano de Ciências, viola-baixo, Mário Jorge Cirilo, 2º ano de Ciências, bateria, Óscar Carvalho, Técnico, órgão, e Nicholas Boothman, único estrangeiro, vocalista.

José Prazeres, 23 anos, 4º ano de Belas-Artes, era o "delegado do conjunto".

Ao "Diário Popular" de 11 de Janeiro de 1969, disse que as raízes da música portuguesa darão, numa forma evolutiva, uma resultante válida, integrada num conjunto de música ligeira de nível internacional.

Entre nós existem apenas alguns autênticos compositores, em todos os sentidos, de música moderna portuguesa válida - dr. José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e Carlos Paredes. Creio que deve ser tudo.


A banda começou a tocar em Julho de 1968 na boîte Relógio, propriedade do artista com o mesmo nome, então sita na Rua do Olival (à Lapa). Tinha sido inaugurada no dia 13 de Maio de 1967 e por lá passaram muitas bandas como o Quinteto Académico+2, os Chinchilas e Don Byas Trio, com Mike Carr e Adrien Ransy, entre outros..

Passaram o Verão em Albufeira, na boîte Pescador, do Hotel Sol e Mar.

Encheram a pequena casa que chegou a levar 286 pessoas ao mesmo tempo.

O nosso conjunto, embora não toque música muito comercial, pois quase só interpretamos blues e temas antigos, nada de hit parades, está feito de modo um pouco comercial. Quero dizer, começamos por ter um elemento inglês, o que chama logo a atenção.

Depois, o nosso técnico, Luciano Pires, inventou uma máquina electrónica muito perfeita que oferece um jogo de luzes completamente inédito. Funciona de acordo com a música e isso cria um estado psicológico absolutamente extraordinário.

Em Albufeira, o público, que nunca bate palmas numa boîte, aplaudia-nos depois de cada música, atirava-se para o palco e delirava completamente.

Mas há também outra coisa: até aqui somos os únicos a ter um estilo próprio, definido. Traz as suas vantagens, mas há quem nos critique por isso. De qualquer modo, resolvemos tocar aquilo de que gostamos e impôr essa música ao público.

Os nossos conjuntos costumam saber o que o público gosta e tocarem isso mesmo. Não têm um estilo próprio.


Na época de Outubro interromperam os espectáculos por causa dos exames e depois participaram num filme do arquitecto António Macedo, "Albufeira". Gravaram a banda sonora, mas divergências posteriores impediram a sua edição comercial.

É difícil, aqui em Portugal, impor os valores jovens. Todas as tentativas são cortadas de base e não nos deixam progredir. As casas de discos, por exemplo, concedem-nos dois dias para gravar um disco com quatro músicas. Em Inglaterra e em muitos outros países dão, pelo menos, uma semana.

O Relógio viria a dar nos Stones.

6 comentários:

Octávio Diaz-Bérrio disse...

Olha... que giro... já nem me lembrava disto!
E o Boothman depois virou fotógrafo e inundou as Agencias de Publicidade do país com aquela facilidade que só aos estrangeiros é dada.
Acabou por ir para o Canadá.

JC disse...

A "boîte" Relógio mais tarde passou a "Stones".

ié-ié disse...

Chiça! Esqueci-me! Obrigado, JC! Em 1975 fechei os Stones por uns tempos, tempos revolucionários!!!

LT

filhote disse...

Curioso... esta capa é percursora do LP "The Who By Numbers"... nunca ninguém reparou?

Anónimo disse...

É verdade, de facto! Mas não é uma capa, é uma caricatura. Infelizmente o grupo A Chave nunca editou...

Anónimo disse...

Tinham o descaramento de apresentar publicamente o vocalista como tendo pertencido aos Yardbirds.

Chegaram a fazer isso no Zip-Zip, e o Zé Nuno Martins também foi na história.