WAITS & CORBIJN

Alguém sabe o que é uma voz de alcatrão?

Mas foi isso o que a Rolling Stone escreveu sobre Waits: tem alcatrão suficiente para asfaltar uma autoestrada.

Pode-se gostar de vozes de alcatrão?

Nos tempos em que o MEC era MEC, se é que alguma vez foi MEC, desenhou no Expresso que Waits tem uma voz de morsa, rouca, velha e sabida.

São os únicos discos que deitam fumo de tabaco quando a agulha lhes cai em cima. Fedem, sempre a Bourbon velho de uma eterna noite anterior e a T-shirts cinzentas e amarrotadas, com nódoas de mostarda e de suor.

Como apanhou a pancada por Tom Waits é algo que mete uma dose asseada de gins, quando em casa de amigos, ouviu Tom sussurrar Somewhere  do West Side Story.

No dia seguinte, já Blue Valentine girava no pick-up e Tom Wats se constituía membro five stars da casa.

No fundo sempre teve uma especial predilecção por contadores de histórias.

Uma pequena, mas oportuna, nota de Luís de Freitas Branco num dos últimos I ,levou-o a constatar que Tom Waits não é visita deste  Kiosque.

O texto do I chama a atenção para um livro do fotógrafo holandês Anton Corbijn que, durante 35 anos acompanhou as muitas transformações do cantor, todas eles de fino corte.

Com 22 anos, Corbjijn, à procura de emprego, meteu-se na cabeça que iria captar a digressão que Tom Wait, com o Foreign Affairs debaixo do braço, iria fazer por terras holandesas.

Depois foram-se encontrando ao longo dos tempos e, passados 35 anos, 226 fotografias revelam o braço dado que o fotógrafo manteve com Waits: muito whisky, muita cigarrada, muitos silêncios, muita tagarelice, muitas noites sem sono.

O livro Waits/Corbijn custa 148 euros e, se se derem ao trabalho de googlar qualquer coisinha, encontrarão referências e fotografias.

Será, com toda a certeza, a prenda que, em todos os Natais, faz a si próprio.

Antes de fechar a porta, uma afirmação que, algures, leu ou ouviu: Tom Waits é um tipo para ouvir desde o berço, primeiro caminho para se ser feliz.

Colaboração de Gin-Tonic