sábado, 15 de outubro de 2011

MISSA DOS QUILOMBOS


ARIOLA - 20 1 649 - 1982

Um Lado

A DE Ó (Estamos Chegando) – Em Nome do Deus – Rito Penitencial (Kyrie) – Ofertório – Ladainha

Outro Lado

Aleluia – Rito da Paz – Comunhão – O Senhor é Santo – Louvação à Mariama – Marcha Final (De Banzo e De Esperança) – Invocação à Mariama

Gravado ao vivo na Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, Caraça, M.G. em Março de 1982.

Idealização, arranjo, regência de Milton Nascimento.

Produção e realização Mazola.

Se o Caetano Veloso soubesse que este blogue tem etiqueta para José Cid 120-entradas-120, e não tem nenhuma para Milton Nascimento, não pensaria o melhor deste kioske.

Surgem duas ou três referências a Milton, mas nenhuma capa.

Lembrou-se de remediar qualquer coisinha e ficou a pensar qual o disco de Milton para trazer até aqui.

Ele que não é de igrejas nem latinórios, escolheu esta “Missa dos Quilombos” e teria que ser este porque é um disco arrepiante. Arrisca a dizer que por ele se pode chegar aos caminhos do tal Cristo, que, alguns, dizem ter sido o primeiro comunista.

Quando soube da edição deste disco não descansou enquanto não o teve mas mãos. Socorreu-se de um amigo que, por sua vez, tinha, como amigo, um piloto da TAP e que, regularmente, fazia Lisboa/Rio de Janeiro.

Permite-se, invocando a boa vontade do dono do Kioske, transcrever o começo do texto que Pedro Casaldáliga, arcebispo de São Felix, escreveu para o encarte do disco, e que, juntamente com D. Helder da Camara, arcebispo de Olinda e Recife, D. José Maria Pires Arcebispo de João Pessoa, celebram a missa ao lado dos cantores músicos e dançarino deste projecto de Milton:

Em nome de um Deus supostamente branco e colonizador, que nações cristãs têm adorado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, milhões de Negros vem sendo submetidos, durante séculos, à escravidão, ao desespero e a morte. No Brasil, na América, na África mãe, no Mundo.

Deportados, como "peças", da ancestral Aruanda, encheram de mão de obra barato os canaviais e as minas e encheram as senzalas de individuos desaculturados, clandestinos, inviáveis. ( Enchem ainda de sub-gente - para os brancos senhores e as brancas madames e a lei dos brancos - as cozinhas, os cais. os bordéis, as favelas, as baixadas, os xadrezes).

Mas um dia, uma noite, surgiram os Quilombos, e entre todos eles, o Sinai Negro de Palmares, e nasceu, de Palmares, o Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida floresceram, "em nome de Deus de todos os nomes", "que faz toda carne, a preta e a branca, vermelhas no sangue".

Vindos "do fundo da terra", "da carne do açoite", "do exilío da vida", os Negros resolveram forçar "os novos Albores" e reconquistar Palmares e voltar a Aruanda.

E estão aí, de pé, quebrando muitos grilhões - em casa, na rua, no trabalho na igreja, fulgurantemente negros ao sol da Luta e da Esperança.

Para escândalo de muitos fariseus e para alívio de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa diante de Deus e da História, esta máxima culpa cristã.

Na música do negro mineiro Milton e de seus cantores e tocadores, oferece ao único Senhor "o trabalho, as lutas, o martírio do Povo Negro de todos os tempos e de todos os lugares."

A Milton Nascimento há-de voltar.

Colaboração de Gin-Tonic

1 comentário:

Anónimo disse...

"Ele" quem?