segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A IDEIA DE FAZER UM CONJUNTO...

A ideia de fazer um conjunto musical de três guitarras eléctricas e bateria surgiu entre mim e Duarte Brás, caloiros acabados de chegar a Coimbra em 1961/62, eu de Angola e o Duarte dos Açores.

Conhecemo-nos na sede da AAC (Associação Académica de Coimbra), então ainda no “Palácio dos Grilos”, atrás dos “Gerais”, onde dávamos uns toques de viola na Tuna Académica e aprendíamos o acompanhamento à viola do Fado de Coimbra com o velho barbeiro da AAC.

O Duarte tocava e cantava bem músicas modernas de rock e country, por exemplo do Elvis, Paul Anka, Willie Nelson, Bob Dylan, porque na Ilha Terceira (sua terra natal) estava a Base Americana das Lajes e portanto havia muita e fácil divulgação desse tipo de música.

Comecei a acompanhá-lo nessas músicas, em dueto, improvisando os solos das mesmas. Com esse formato musical chegámos a tocar em algumas festas no Hotel Avenida durante o ano de 1962.

Com o aparecimento dos êxitos internacionais dos Shadows e Cliff Richard, Beatles, Byrds, Animals, Chats Sauvages, Chaussettes Noires, Richard Antonhy, Johnny Hallyday, Eddy Mitchell e outros do género, apercebemo-nos de que tínhamos que alargar o formato do nosso grupo e formar um conjunto que pudesse interpretar as músicas em voga desses famosos artistas.

Conversando com amigos e colegas, soube que o Nuno Figueiredo (meu colega nas Engenharias) tinha jeito para tocar bateria, além de a casa dele ter uma garagem onde podíamos ensaiar. O problema era comprar os instrumentos, amplificadores e microfones, assunto que ficou resolvido quando o pai do Nuno, entusiasmado pela ideia, se ofereceu para ser o “fiador” da compra a prestações dos instrumentos e equipamentos.

Assim nasceu o embrião do nosso conjunto, ainda “coxo” e sem nome. Faltava alguém que tocasse viola baixo e que de preferência tivesse a sua própria guitarra e alguém que cantasse músicas de baile, se possível italianas, pois estavam na moda, mas não eram do estilo do Duarte: Domenico Modugno, Pepino de Capri, Bobby Solo, Rita Pavone, Marino Marini, etc.

Já estávamos em 1963 e então soubemos que um recente caloiro das Engenharias, o Zé Veloso, tocava bem solo/ritmo/baixo e até tinha uma viola eléctrica. Era a cereja no topo do bolo que nos faltava!

Marcámos com ele uma audição na tal garagem e qual não foi o nosso espanto quando o Zé nos aparece todo convencido com a sua guitarra eléctrica “made in Ançã”: uma velha viola de cavilhas, com um auscultador de galena preso com fita adesiva à caixa, para captar o som para o amplificador.

Dispensámos o instrumento, ficámos com o Zé, arranjámos uma guitarra eléctrica emprestada e nasceu assim o conjunto a que chamámos Álamos, de início só um quarteto: guitarra-solo Luís Colaço (Phil), guitarra-ritmo e vocalista Duarte Brás, guitarra-baixo Zé Veloso e baterista Nuno Figueiredo. Juntámos ao grupo, por pouco tempo, um vocalista amigo do Nuno, “puto” de Medicina, especialista a cantar música italiana, o Zé Hermano Gouveia.

Uns meses mais tarde, ouvi um caloiro moçambicano de Engenharia, da “República dos 1000-y-onários”, o Xico Faria, cantar o “Only You”, dos Platters, com uma voz maravilhosa e um estilo sensacional. Logo aí o convidei para uma audição com os Álamos onde foi aceite por unanimidade, o que nos permitiu alargar o nosso reportório a outro tipo de música, dos Platters, Ray Charles, Elvis e outros artistas do género.

Foi esse quinteto (com o Zé Pereira à bateria em substituição do Nuno) que trouxe o nosso sucesso em Coimbra, Bailes de Finalistas do Liceu D. João III, bailes de Faculade, Baile de Gala e Chá Dançante das Queima das Fitas de 1964/65/66/67/68 e muitas outras cidades de Portugal, onde tocámos em Bailes de Finalistas de Liceus e Colégios, célebres Bailes de Carnaval de Loulé e de Torres Vedras, Bailes de Réveillon no Casino Estoril, Casino da Figueira, Casino da Póvoa, Clube de Leça, Clube da Covilhã e Pousada de Alpedrinha.

Além destes bailes e festas ainda tocámos durante um mês de verão no Hotel Savoy, do Funchal, no “Officer’s Mess Club” da Base Americana das Lajes (Açores) e com o Orferão Académico de Coimbra em várias cidades de Angola. Fizémos também “shows” na Televisão em programas dedicados à propaganda da Queima das Fitas de Coimbra.

No auge da nossa carreira tivémos a possibilidade de tocar na Suíça, numa conhecida estância turística de Inverno, mas nem sequer analisámos a proposta, pois estávamos todos em idade militar, com adiamento por motivo de estudos, e não nos seria certamente concedida licença militar para nos ausentarmos para o estrangeiro, tanto mais que havia um angolano e um moçambicano no grupo.

A partir de 1967 e até à dissolução dos Álamos em 1969 por combustão espontânea (cuja data nenhum de nós se recorda) e sem nenhuns problemas internos, houve várias mudanças no formato e no estilo musical do conjunto, que aproveitou a extinção do Conjunto Ligeiro do Orfeão Académico e do Conjunto Scoubidous, para integrar o Rui Ressurreição (órgão eléctrico), Tozé Albuquerque (piano e xilofone) e ainda Carlos Correia-Bóris (guitarra solo e vocalista, saindo Duarte Brás que formou o duo Duarte e Ciríaco). Deixaram o grupo nessa altura o Xico Faria (para a tropa) e o Zé Pereira (substituído pelo Luís Monteiro).

Para a memória e para a estória dos Álamos ficam três coisas muito importantes: uma amizade estreita e fraternal entre os seus membros que perdura até hoje; um testemunho audio de três discos em vinil de 45 r.p.m, o 1º dos quais de qualidade medíocre; um grande grupo de fiéis amigos e colegas (a nossa velha e incondicional claque de apoio de Coimbra) que periodicamente reunimos em convívio ao som de boa música dos anos 60/70, com fartas comidas e bebidas e, claro está, fados de Coimbra para encerrar, em especial a Balada da Despedida do VI ano Médico, cujo genial autor e intérprete foi Fernando Machado Soares.

Colaboração de Luís Filipe Colaço, em Luanda

8 comentários:

Anónimo disse...

Boa.
E Pinro

Anónimo disse...

Passou-se meio século desde que nasceu a ideia dos ÁLAMOS, por isso alguns promenores da sua estória escaparam-me. A idade não perdoa! Várias observações e correcções cronológicas foram sugeridas pelos ex-Álamos Zé Veloso e Duarte, que deixo aqui expostas: O Xico Faria entrou para o conjunto antes do Zé Veloso, e embora cantasse muito bem, apareceu num ensaio nosso apenas para ensinar o Nuno a tocar rock na bateria e por lá ficou como vocalista; O Nuno saíu do grupo em 1964 por ter terminado o 3º ano de engenharia e ter ido para o IST, Lisboa, continuar o curso; a nossa estreia foi no salão da FNAT, no baile dos caloiros de letras e a formação era composta por: Colaço, Duarte, Veloso, Nuno, Chico e Zé Gouveia. Contratados por 500$00, a surpresa e o êxito foi tal que a Comissão resolveu dar-nos 800$00. Como os bailes de faculdades aconteciam no segundo trimestre, penso que nos teremos estreado entre Janeiro e Março de 1963. Devo fazer uma referência especial à nossa ligação ao Coro Misto da Universidade de Coimbra, do qual cumprimos a missão de conjunto de variedades durante vários anos, o que nos permitia ter sala de ensaios nas instalações da própria AAC. Para a memória e para a estória dos ÁLAMOS, além das três coisas importantes que citei no texto, fica a grande ligação à Academia de Coimbra, tendo feito diversas digressões com o Coro Misto da Universidade de Coimbra e com o Orfeon Académico de Coimbra. Mas talvez a coisa mais importante da vida dos Álamos é o facto de, no conjunto de todos aqueles que o integraram, termos "parido" três médicos, três engenheiros, dois juristas e um físico, dos quais dois Prof. Dr. (o Bóris e eu próprio). Para finalisar, o próprio nome ÁLAMOS surge como uma ligação a Coimbra, através do mítico Choupal: os álamos são árvores ornamentais da família das Salicáceas, espontâneas nos lugares húmidos, que fornecem madeira clara e leve e que pertencem a espécies conhecidas por choupo, choupo-branco, choupo-negro! Enfim os álamos nascem, crescem e morrem num Choupal.

Bobbyzé disse...

ALAMOS grande banda que tive a oportunidade de apreciar nesses bailes em Coimbra.

Dentro de alguns dias vou estar com o PAUL ANKA, que vem cantar a Basileia!!!FOREVER YOUNG!!

Zé Veloso disse...

Boa malha, Phil!
Deixa-me apenas repor a verdade dos factos, para que a dita conste não apenas da estória do Álamos mas também da História da Física:
A minha viola eléctrica artesanal, de cavilhas de madeira, baseada no princípio físico de que um auscultador é um microfone a funcionar ao contrário, não tinha apenas um auscultador de galena mas sim dois!!! Era, pois, uma viola estereofónica!!!

Rui Pato disse...

Magnífica esta reunião aqui patrocinada pelo nosso comum amigo, também doidinho pelas músicas, o Luis P. A.
Juntar o Veloso, o Duarte, o Colaço, ( claro que não poderemos contar com o "Boris" , a não ser que nos desloquemos ao café Vasco da Gama às 8 e meia da madrugada!), juntar-me agora a mim que, na altura deambulava na música de Coimbra e até dava também uns toques na guitarra eléctrica juntamente com o Rui Ferraz no piano, o Maia de Carvalho na Bateria e o Abílio no contrabando....
Obrigado Luis Pinheiro de Almeida!

ié-ié disse...

Obrigado eu, Rui, pela vossa disposição, disponibilidade e música, uns no yé-yé e bailaricos, outros mais com o Zeca. Sem desprimor para ninguém. O Boris respondeu aos meus pedidos de esclarecimento, mas é muito parco. E, Rui, como se chamava mesmo o teu conjunto com o Abílio? O Zé Veloso já disse que não eram os Scoubidous...

Abraço para todos!

LT

Anónimo disse...

Desculpem e onde é que tenho acesso à música sem ter que a piratear no Tube?

ié-ié disse...

Lamento, caro Anónimo, mas este é o blogue apenas de informação... sem música!

LT