No 7º andar deste edifício da Rua Barata Salgueiro, 28, em Lisboa, funcionou (funciona) uma das boîtes mais requisitadas dos anos 60/70: Ad Lib.
Não consegui verificar se a boîte ainda funciona, mas a Charlot e a Materna, no rés-do-chão, já foram... ou estão em remodelação.
Lisboa conta com mais uma "boîte" que a partir de agora passa a estar aberta ao público. Chama-se "Ad Lib" e fica situada no último andar de um prédio recém-construído na rua Barata Salgueiro. (Tão "recém" que apenas dois dos sete andares estão ocupados):
- "Ad Lib"... porquê?
- Bem - esclareceram-nos - porque "ad lib" é a contracção de uma expressão latina ("ad Libitum") que significa "à vontade" - e à vontade é como queremos que as pessoas sesintam aqui. Depois, , porque já em Londres alguém se lembrou de dar a uma "boîte" semelhante o mesmo nome. Enfim, havia o precedente...
O ambiente é mais o de um luxuoso "living" do que o de uma "boîte": cadeiras de encosto semicircular forradas de pele, predominância do vermelho (no chão, nas paredes, no tecto), do metálico (no chapeado das colunas, nas ripas do "canal" de entrada) e do negro. Planos diferentes para os sectores do bar, da pista, das mesas atrás do varandim. Uma vista esplêndida da Baixa, do rio, das luzes nocturnas.
Conquanto o estilo consista mais exactamente numa sábia dosagem de estilos - do conforto do Império aos jogos de espelhos do moderno - é inquestionável que o "tom" é francamente oriental. Dado por soberbas estatuetas indianas (segundo soubémos executadas em Portugal e "tratadas" até adquirirem aquele aspecto de peça enterrada durantes séculos mas descoberta miraculosamente intacta por equipas de competentes arqueólogos...) escolhidas por esse profissional do bom-gosto que é o decorador Pedro Leitão - o responsável pela decoração da "Ad Lib" e também da "Vão Gogo" e da "Canoa".
A festa de inauguração foi tranquila, sossegada. Muita música, é certo, mas também muita conversa de gente que há longo tempo não se via ou ques está constantemente a ver-se. Estavam Raul Solnado e outras figuras conhecidas, mas o proprietário da "Ad Lib", sr. João Manuel de Castro Júnior, teve a preocupação de só convidar amigos seus ou amigos dos seus amigos. Por isso toda a gente se conhecia e se sentia bem. Toda a gente se sentia "ad lib".
"Diário Popular", 10 de Maio de 1968, pág.24
Não consegui verificar se a boîte ainda funciona, mas a Charlot e a Materna, no rés-do-chão, já foram... ou estão em remodelação.
Lisboa conta com mais uma "boîte" que a partir de agora passa a estar aberta ao público. Chama-se "Ad Lib" e fica situada no último andar de um prédio recém-construído na rua Barata Salgueiro. (Tão "recém" que apenas dois dos sete andares estão ocupados):
- "Ad Lib"... porquê?
- Bem - esclareceram-nos - porque "ad lib" é a contracção de uma expressão latina ("ad Libitum") que significa "à vontade" - e à vontade é como queremos que as pessoas sesintam aqui. Depois, , porque já em Londres alguém se lembrou de dar a uma "boîte" semelhante o mesmo nome. Enfim, havia o precedente...
O ambiente é mais o de um luxuoso "living" do que o de uma "boîte": cadeiras de encosto semicircular forradas de pele, predominância do vermelho (no chão, nas paredes, no tecto), do metálico (no chapeado das colunas, nas ripas do "canal" de entrada) e do negro. Planos diferentes para os sectores do bar, da pista, das mesas atrás do varandim. Uma vista esplêndida da Baixa, do rio, das luzes nocturnas.
Conquanto o estilo consista mais exactamente numa sábia dosagem de estilos - do conforto do Império aos jogos de espelhos do moderno - é inquestionável que o "tom" é francamente oriental. Dado por soberbas estatuetas indianas (segundo soubémos executadas em Portugal e "tratadas" até adquirirem aquele aspecto de peça enterrada durantes séculos mas descoberta miraculosamente intacta por equipas de competentes arqueólogos...) escolhidas por esse profissional do bom-gosto que é o decorador Pedro Leitão - o responsável pela decoração da "Ad Lib" e também da "Vão Gogo" e da "Canoa".
A festa de inauguração foi tranquila, sossegada. Muita música, é certo, mas também muita conversa de gente que há longo tempo não se via ou ques está constantemente a ver-se. Estavam Raul Solnado e outras figuras conhecidas, mas o proprietário da "Ad Lib", sr. João Manuel de Castro Júnior, teve a preocupação de só convidar amigos seus ou amigos dos seus amigos. Por isso toda a gente se conhecia e se sentia bem. Toda a gente se sentia "ad lib".
"Diário Popular", 10 de Maio de 1968, pág.24
42 comentários:
Devo ter ido já centenas de vezes, se bem que sempre tenha preferido o Stone's, a minha casa-Mãe (a música era incomparavelmente melhor).
O Ad Lib já não existe há muitos anos. Passou a ser a casa de jantar do conselho de administração do BES.
Ad Lib como designação de boite, só ouvi no disco de Júlio Pereira, Fernandinho vai ao vinho ( um dos marcos da pop portuguesa), de 76.
Por isso fico a saber onde fica.
Já agora, Stone´s foi no mesmo disco e verso.
Um dos meus amigos costuma dizer que nem saía do prédio: comprava roupa no Charlot (fechou), tomava uma bebida num bar que existia cá em baixo (alguém se lembra do nome?), jantava no Chez Anne e depois subia para o Ad Lib. Outros tempos... Mas, tal como a Teresa sempre fui mais Stone's, embora, ao contrário dela, não fosse lá todas as noites.
JC,
Lembro-me perfeitamente do bar, fui lá algumas vezes, já o nome...
E havia também um Great American Disaster (mas andava em guerra em tribunal com os legítimos da Elias Garcia e do Hotel Florida), eu costumava ir lá comer bolo de amêndoa antes de subir no elevador. E há aquela história lendária com o porteiro, o célebre Teixeira, e uma pessoa muito conhecida (não vou pôr aqui o nome), quando uma vez chegou lá com duas meninas do Elefante Branco. Aposto que conhece a história...
Já o Stone's... ah, o meu querido Stone's! No tempo em que ainda havia dois porteiros, se eu estava duas noites sem ir lá o Vítor Menino (que depois foi fazer a inauguração do Bananas) punha uma cara muito severa (eu tinha 20 anos) e dizia: «A menina faz favor de se dirigir à secretaria, tem muitas faltas a justificar.»
Ainda hoje a velha gurda dos empregados do Stone's (Artur, Luís, Quim, etc.) me trata por Menina Teresinha. :))
a minha despedida de solteiro, em 1982, acabou no Ad Lib, depois de um périplo que começou na Arrábida (Mafalda), passou por Galápagos e terminou nessa ponta do Triângulo das Bermudas em que se transformou o "evento" - houve quem tivesse "desaparecido em combate" ou tenha esquecido tudo o que se passou...
antes do julio pereira ja o sergio borges tinha referido "as noites do ad lib" da sua maravilhosa "gina"
Ai era a tua despedida de solteiro? Tenho uma vaga ideia disso, de uma fantástica viagem de automóvel e de uma outra busca por uma outra boîte ao pé de uma cimenteira lá pelos idos de Setúbal.
E, já agora, deixem-me que conte que lá pelos idos dias do PREC, qual MFA garboso, dei ordem de encerramento do Stone's, na sequência de queixas de ruído da comissão de moradores.
LT
Aposto que o Zé Pracana, que vivia mesmo por cima do Stone's, não foi um dos queixosos :))))
Já agora, quem estiver no Facebook pode aderir a este grupo, tem muitas fotografias do antigamente.
http://www.facebook.com/group.php?gid=86063058709
O Chez Anne, Teresa, era onde depois foi o G.A. Disaster. Tenho uma vaga ideia dessa história das meninas do "trombinhas" (apenas vaga), mas a mais famosa cena de porteiros de boîte foi a do porteiro do Van Gogo, onde eu ia c/ alguma frequência antes da abertura do Stone's, que, quando das festas do Patiño e do Schlumberger, não deixou entrar uma atrizes famosas. Salvo erro, uma delas era a Gina Lollobrigida. Quando lhe perguntámos porquê, um pouco ao jeito de recriminação, respondeu: "que querem? Pareciam umas p.... A história ficou famosa...
A boite de Galápo era a Seagull, que também era muito famosa na altura - estava sobre o mar, parte em palafita. Fechou depois de um incêndio.
JC,
Essa história do Van Gogo não conhecia, e não admira. Tinha oito anos quando foi a famosa festa do Patiño! Só viria a conhecer o Van Gogo dez anos mais tarde.
A história do Ad Lib conta-se num instante. O ABC (são mesmo as iniciais dele) chega à porta com as duas meninas. O Teixeira desvia-o, e cheio de tacto diz «Ó Sr. ABC, vai-me desculpar, mas as senhoras que vêm consigo são um bocadinho duvidosas...»
Responde o ABC: «DUVIDOSAS?! Duvidosas são as que estão lá em cima!!! Estas são p**** mesmo!!!»
Também tenho uma história divertidíssma no Seagull, mas tem de ficar para depois. Tenho um enco9ntro com Sir Elton John.
Pelos vistos íamos aos mesmos sítios,mais o chinês em frente o Macau que tinha a melhor carne de vaca com molho de ostras de Lisboa!
Dez anos mais tarde já o Van Gogo não era o que tinha sido, Teresa. E o tal ABC não era, de certeza, o Álvaro Barreirinhas Cunhal! Já agora, com a frase que cita já me lembro perfeitamente da história!
Teresa,
ABC stands for... António Brito e Cunha?
Muito engraçadas as histórias do AD LIB - onde ainda fui nos anos 80 e parte de 90...!
Nem imaginam as memórias que despertaram...
1. Rezam as lendas de que eu, com 1 ano de idade, dormia no bengaleiro do Ad Lib, enquanto os meus pais dançavam - e os Claves tocavam, eventualmente.
2. No dia em que cheguei a Lisboa vindo do show do McCartney em Madrid (1989), fui directo para o Ad Lib. Ao longo dessa noite 1nesquecível, ficou selado um importante romance da minha vida. Aquele espaço era especial, não era?
3. A primeira vez que entrei nos Stone's nem 10 anos tinha! Início de noite, claro, o Vítor deixou a minha mãe mostrar-me o local onde assinava o ponto dia sim dia não. E o DJ - alguém se lembra do nome? -, a meu pedido, pôs o "Drive My Car" dos Beatles a tocar!
4. Zé Pracana? Grande amigo dos meus pais, e melhor amigo do meu padrasto...
5. Seagull? Aquilo é que era Rock'n'Roll!
6. Banana Power? A Meca dos meus 17/18 anos!!!
O bar no prédio do AdLib chamava-se "Piccolo".
Em "Não Convém", José Cid (Vicious)canta o Ad Lib, o Stones, o Van Gogo, a Ferrari, a Bénard e o "Em Órbita". Grande música!
LT
Pressinto uma pontinha de inveja? Acasala-te com o Gin Tonic - eh eh eh!
LT
Tenho ideia que o dj era o Artur...
Alô colegas portugueses!
Sou brasileira. Estive em Lisboa em janeiro de 1969, na "infância" de meus 22 anos, quando tive o prazer de frequentar o Ad Lib. Casa acolhedora e majestosa, onde dancei "O Bla Di - O Bla Da", recém lançada pelos Beatles. Hoje, novamente em Lisboa, ao pesquisar sobre esta casa que me deixou boas lembranças, li estes depoimentos aos quais junto o meu. Saudades de um bom tempo! Ana Luiza
Velhos tempos, mesmo...
Quem não se lembra do barman Fantástico?
Sabíamos sempre quem encontraríamos e onde. Que saudades.
E o caldo verde às 3 da manhã? Divino. Ainda recordo o sabor.
Lembro me de ver a Nara Leão e o Vinicius no Ad Lib
E havia outro que não me lembro
Vinicius de Morais e Nara Leão estiveram no Ad Lib num concerto
Eu estive presente
Lembra se do ano?!
A notícia do diário popular relata tudo corretamente. Não é verdade que a história contada por Teresa tenha acontecido com finalneABC mas sim com XP. Finalmente a inauguração foi em 7 de Maio de 1968.
E com o Vinicius de Moraes veio também o Baden Powell e foi tb em 1968
Não era a Lollobrigida. Era a Ira de Fürstenberg.
Grandes noites!!! Grandes recordações e muitos episódios para contar! Coitada da Graça (que estava no bengaleiro) e do Teixeira que muito tiveram que me aturar! Bons tempos que se viveram em Lisboa nos anos 70 e 80. As minhas memórias são tantas de todos estes espaços que nem saberia por onde começar (Stones, Ad Lib, Primorosa, Banana Power, Whispers - este último também conhecido pelo Vietnam a partir das 03h00).
Fui lá muitas vezes e tb ao Stones
Muitas ao AD lib e Stones muito poucas bananas. Bons tempos.
Meu muito saudoso amigo Ze Pracana. Eu tinha um cartao para entrar no Ad lib
O Artur era do Ad Lib.
Tão bom , tantas vezes nos finais dos anos 80 e até meio dos anos 90 Era sair de Porto de mós e num estantinho la estava eu a subir aquel elevador mais da esquerda.Em que ano teria fechado ?
Foi a minha segunda casa. Tantas saudades
E uma saltada a Primorosa de Alvalade
Eu trabalhava na Joaquim António de Aguiar e gostava de ir so Great American Disaster comer uma pizza com banana que nunca mais encontrei em lado nenhum. Já passaram uns 40 anos e ainda recordo o sabor
E sair dos stones e ir à padaria quase em frente ….. delícia.
Quando ouvia a música a anunciar o fecho ( and now…. This IS the end … ( frank Sinatra, acho), ficava triste a ou vir os “stones”
No mosaico , na graça . Do Carlos e do? . Ia lá todos os dias e conhecia toda a gente. 2.ª casa!
Zé precana…. No Arreda em Cascais . Não dava para falhar. Só qdo ia ao picadeiro
Que saudades Teixeira e Graça do bengaleiro….
lembro-me de um convite p uma festa privada que dizia: personatum adlibitum saltarem 😂
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