quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

SAN FRANCISCO


VOGUE - EPL 8581 - edição francesa (1967)

The Cat In The Window (Gordon/Bonner) - San Francisco (John Phillips) - FRancy Dancin' Man (Gordon/Bonner) - Resist (Grant)

8 comentários:

Anónimo disse...

Se na música também podem existir reactivas antíteses, por exemplo “Let it Be” dos Beatles vs “Let it Bleed” dos Stones, nenhuma antítese conseguiu ser tão qualitativamente superior quanto a entre “San Francisco” ( versão original de Scott Mackenzie) e “Massachusetts” dos Bee Gees, esta última composta no mesmo ano cavalgando sobre o êxito da anterior, justamente uma provocação reactiva a “San Francisco” ao cantarem sobre alguém que tinha estado em San Francisco mas que optou por voltar a Massachusetts motivado pelas suas luzes ( certamente que um estado de uma Federação tem mais luzes que a cidade de San Francisco ).

Curiosamente, os irmãos Gibb nunca tinham estado em Massachusetts e, não obstante, escolheram o nome de um estado tão difícil de pronunciar para o comum dos mortais que até poderia muito bem constar do teste de fonética a aplicar pelo Prof. Higgin à menina Eliza no “My Fair Lady”, nome este que pura e simplesmente não rima na respectiva lírica.

Se fossem mais cosmopolitas ( eles que até têm uma canção dedicada a Israel) e escolhessem Lisboa em vez Massachusetts, então é que a coisa doía a valer contra San Francisco . É que Lisboa é a cidade do mundo mais parecida com San Francisco, uma vez que ambas :
. têm oito colinas
. têm uma “Golden Gate”
. eléctricos similares a descer e subir as colinas
. as elevações a sul do Tejo muito idênticas às observadas da outra margem de San Francisco.
. turisticamente muito procuradas a nível estadual e internacional
.muito liberais nos costumes
. como não podia deixar de ser, foi um português, João Rodrigues Cabrilho, o primeiro a atingir por via marítima as costas da Califórnia
. se San Francisco tem Sillicon Valley nas redondezas, Lisboa tem a Web Summit sendo ambas geradoras de “start-ups”
. a principal equipa desportiva de San francisco, os 49ers, também equipam de camisola vermelha como o SLBenfica.
.se em San Francisco se deve levar flores no cabelo, Lisboa não passa sem os vasos de manjericos à cabeça.
.se em San Francisco têm um Chinatown, aqui os chinos estão cada vez mais por todo o lado, até nos bancos, eléctricas e seguradoras.
.pertencem ambas a estados muito endividados
.se San Francisco alude a um notável santo italiano, Lisboa tem Santo António igualmente franciscano e italiano (dizem eles), o qual, além de teólogo, é casamenteiro e ainda ajuda a encontrar objectos perdidos ( p.e. corações que estavam perdidos e acabaram a dar o nó mais difícil de desatar ).

Mas o que San Francisco não têm é a monumentalidade de Lisboa que remonta à ocupação romana e a luz incomparável de Lisboa.

Massachusetts ? Brrrrrrrr, que frio de rachar !
As luzes a que eles aludem em Massachusetts mas que sem sequer as enxergaram devem ser as dos caloríficos eléctricos e as dos néons a anunciar pizzas, franganitos KFC, tacos, burritos e toda a demais panaceia de “fast food”, um vómito se comparado com o bacalhau, as ameijoas à Bulhão, as iscas com elas, os nacos na pedra etc etc.

Com Lisboa em vez de Massachusetts, os Bee Gees tinham acertado definitivamente na “mouche”.

JR

Anónimo disse...

A Bee Gees tinham acertado na “mouche" com a mudança do nome da canção mas teria sido um sucesso global. Por vezes há pormenores que podem alterar o sucesso ou insucesso de algo.

ié-ié disse...

Belíssimo texto, muito obrigado!

As suas participações valorizam em muito este blogue adoentado pela hegemonia do feicebuque!

Não me importava de conhecer a sua identidade!

Obrigado!

Anónimo disse...

Uma grande diferença que um Blog tem sobre o “Feicebuque” é um “like” vindo de si , que agradeço e retribuo, fazendo-me sentir que um relampejo de um escrito pôde de alguma forma contribuir para ajudar a saldar a minha grande dívida por tudo o quanto aqui aprendi e por tantas e multifacetadas memórias que me fez reavivar, derivadas de tanto trabalho e investimento seu, para além do privilégio que é poder escrever algo, mesmo que disparatado.

Ainda na passada semana vi um daqueles sketches que passam nos intervalos na RTP Memória fazendo referência ao concurso ié-ié do Cinema Império e aos Claves o que me levou de imediato a a pensar :
Isto é um “deja vu”, recente de mais e mais que documentado!

Voltando ao “Feicebuque”,“likes” despersonalizados que ali se obtêm soam a robotizadas cortesias escritas na água de um tsunami que tudo alaga e arrasta sem que deixe memória relevante, assim como um lamento soaria a uma furtiva lágrima derramada na chuva que cai incessantemente sobre quase dois mil milhões de utilizadores.

Na verdade, uma rede aparentemente social como o “Feice” apesar de alguma inegável valia para grupos de interesses comuns e turmas de estudantes, é na verdade uma rede anti social porque promove e potencia uma desligamento físico entre as pessoas – para tal já servia um “instant messaging” colectivo - “Feice” onde o contacto se confunde com marketing e telemetria, o utilizador em vez de dominar é dominando e onde o acervo partilhado deixa de ser próprio para se prestar a uma depredação muitas vezes abusiva desconectada de um respeitável contexto, para além de, face à imensidão galáctica, pretender encontrar uma bem tratada, continuada e multifacetada temática é um trabalho de Hércules na busca de uma agulha em palheiro,"You Can't Always Get What You Want" (onde terei ido eu buscar este anglicismo ??).

É preferível pois apreciar a beleza de um rio estreito que resiste oprimido pelas suas margens ( p.e o rio Douro,) do que a opressão de um rio que, galgando as margens, tudo arrasa e alaga à sua passagem como o fariam Átila e os Hunos, razão porque prefiro passar por aqui do que pelo “Feice”.

Porém, no turbilhão da constante revolução tecnológica, assim como a rádio ainda sobrevive no seu espaço, o Blogging também pode vir a ser reanimado e reestruturado, qual Fénix renascida a exemplo do vinil, assim o quisesssem os promotores do respectivo software e da integração web levados por laivos visionários ao nível do Jobs ou do Gates contribuindo para que o Feice ainda possa afundar como o Titanic. E o sinal já está dado, não é por acaso que é moda candidatos presidenciais usarem o microblogging em vez do “Feice”para se dirigirem ao povo e, pelos vistos, com um inimaginável sucesso.

Quanto à minha identidade, vulgar de Lineu, sou apenas o conjunto dos meus limitados pensamentos, alguns deles aqui partilhados, um “Nowhere Man” ( onde terei eu ido buscar também este? A minha alma de borracha já não consegue discernir como antes ! ).
Já quanto a si, para além do Blog , fui conhecendo pelas ondas do FM estéreo onde fez história, pela televisão e pelo livro e não está excluído que um dia tenha o prazer de o conhecer pessoalmente.

JR

Gin-tonic disse...

Cada vez que aqui chega, caem-lhe pingos de tristeza.
Lembra-se, então, da «velha» Melanie Safka e murmura:
«O que fizeram ao meu blogue, Ma».
Só ele sabe do exílio de alma que, então, se lhe agarra à pele como sarna.
Mas, hoje, o comentário de JR, - a inteligência é sempre um prazer! - trouxe-lhe um sorriso de leve esperança: pode ser que o dono do Kioske, se deixe de infantilidades facebookianas e regresse ao trabalho e permita a possibilidade de voltar ao gosto antigo.
Em cada dia vai ficando mais velho e, talvez por isso, saltam-lhe saudades várias: de convívios, de capas e textos de viajantes vários que por aqui passaram, das medíocres escritas que por aqui esgalhou.

gps disse...

O facebook é muito mais efémero, pelo que deixe-se desses delírios facebookianos e "keep on with the good work"

Quanto ao Scott McKenzie vs. Bee Gees ganharam claramente os anglo-australianos pois o norte-americano só teve um grande sucesso, sendo considerado um one hit wonder

Anónimo disse...

Já tinha um “like” de Mr IÉ-IÉ, mas agora somado ao de GIN TONIC, que agradeço e retribuo, faze-me relembrar o quanto me deixou tão “delectado” com o subtil vapor da tão tonificada prosa das suas crónicas. O Nirvana nunca esteve tão próximo !

E eu não merecia, por que houve uma (des)monumental falha no primeiro dos textos ao esquecer duas falhas, as quais tomara que o diabo também não relembre e que continue mais entretido com o “Feicebuque”.

Refiro-me à falha “Marquês de Pombal”, 100 quilómetros a oeste do cabo de São Vicente e à falha "Tomales-Portola", as quais originaram, respectivamente, o maior terramoto de Lisboa e de Portugal em 1755, e o maior terramoto de San Francisco e dos EUA, o “The Great Quake” em 1906.

Assim, até na catástrofe, San Francisco se pode comparar a Lisboa embora esta, muito lamentavelmente, fosse tão mais martirizada em termos de vítimas e não só. Antes não houvesse azo a qualquer comparação deste tipo e as duas saíssem incólumes. Mas a verdade histórica obriga a citar tão triste semelhança, para além de, se as tão similares cidades vierem algum dia a ser objecto de geminação, o que seria muito boa ideia, seriam-no para o bem e para o mal como num casamento, mesmo tendo em conta que os casamentos de hoje parecem acabar mais no mal do que no bem se tivermos em conta o elevadíssimo número de divórcios, ou seja, tal como num terramoto, depois da falha gerada pelos tremeliques dum namoro, tremem rapidamente e acabam por abalar.

Disse (des)monumental falha justamente porque imagino o que seria hoje a monumentalidade de Lisboa se não tivesse sido tão dizimada na sua parte histórica o que até fez, muito longe do epicentro, mudar a vida de Voltaire ao levar este a congeminar “Cândido” sob pseudónimo.

Só não compreendo porque teimam em chamar à falha o nome “Marquês de Pombal” que tanto fez pela reconstrução de Lisboa e que, redundante e rotundantemente já encima a Avenida da Liberdade, falha que voltaria a dar sinais em 1969 e ainda pode vir a dar réplicas. Seria vingança de algum descendente dos Távoras ?
Por falar em réplicas, dizem os sismólogos que uma das zonas mais vulneráveis, além da baixa e da zona ribeirinha, é a zona de Arroios onde se situa a Praça do Chile, país este também martirizado por tantos terramotos e ao mesmo tempo o maior produtor mundial de nitratos que fazem abalar tanta coisa.
IRRA! Chega de semelhanças !

Reitero só a discordância em relação ao nome do marquês dado à falha. O nome mais indicado seria “Boca do Inferno”, que acabou por ser dado a um belíssimo panorama marítimo situado na costa de Cascais onde o diabo ainda não conseguiu dizimar e Dante Alighieri se esqueceu de mencionar.

JR

Anónimo disse...

CORRIGENDA :"faz-me" em vez de "faze-me"

JR