quarta-feira, 14 de agosto de 2013
DOIS ÍCONES
Como alternativa à Jamaica, encontrei um retiro em Parrot Cay, um sítio nas ilhas Turcas e Caicos, a norte da República Dominicana.
(...)
Andava eu pela praia e escalava rochedos quando me aparece à frente o Paul McCartney. Estava para tocar no Super Bowl de 2005. Passados tantos anos, encontrávamo-nos no mais improvável dos sítios. Por outro lado, era ideal: ali tínhamos tempo de sobra para conversar, talvez pela primeira vez desde os tempos em que os Beatles vendiam canções antes de nós as escrevermos.
E assim me apareceu ele à frente, como que caído de paraquedas.
Tinha-lhe dito o meu vizinho Bruce Willis onde era a minha casa.
"E lembrei-me de te fazer uma visita: espero que não te importes. Desculpa não ter telefonado a avisar".
Como eu também nunca atendo o telefone, pouca diferença teria feito. Pareceu-me que o Paul estava mesmo a precisar de uma pausa. É uma praia comprida, e claro que hoje, "a posteriori", é fácil perceber que estava a passar um momento difícil. A Heather Mills tinha-o acompanhado na viagem: não tardaria muito até que se divorciassem.
De modo que o Paul começou a aparecer todos os dias, enquanto o filho dormia (deve ser a filha Beatriz - nota do editor do blogue). Eu nunca o tinha chegado a conhecer bem, ao contrário do John e até do George e do Ringo; com o Paul nunca tinha passado muito tempo.
A alegria do reencontro foi recíproca. Houve entre nós um entendimento imediato: falámos do passado, da arte de escrever canções. Falámos de coisas tão estranhamente simples como a diferença entre os Stones e os Beatles: os Beatles eram sobretudo uma banda vocal porque qualquer um deles podia cantar a melodia principal, ao passo que nós éramos mais uma banda de músicos - só tínhamos um "front man".
Contou-me também que, como era canhoto, ele e o John tocavam guitarra contrapondo-se um ao outro, como num espelho. Cada um seguia as mãos do outro. E pusemo-nos a tocar assim também nós. Começámos até a compôr uma canção juntos, um tema McCartney/Richards, cuja letra mantive afixada na parede durante semanas.
Desafiei-o a tocar "Please Please Me" no "Super Bowl", mas ele respondeu-me que a banda precisava de ensaiar os temas com semanas de antecedência.
Lembro-me da sua hilariante imitação da versão que o Roy Orbison fez da canção e juntei-me a ele. Discutimos assuntos tão fascinantes como o daquelas casotas insufláveis que têm o aspecto dos cães para as quais se destinam - às pintas para os dálmatas e por aí fora.
E tivémos ainda a ideia de um projecto único em que poderíamos trabalhar: bosta de celebridades seca ao sol, purificada com água da chuva. Pediríamos a umas quantas celebridades que tivessem a gentileza de nos facultar as suas poias. A seguir, era envernizá-las e pedir a artistas de renome que as decorassem. De certeza que o Elton alinhava; o gajo é um porreiraço. O George Michael, provavelmente, também. E a Madonna? Fartámo-nos de rir. Passámos uns bons bocados juntos.
Keith Richards, in "Life", Theoria, 2011, págs 552, 553, 554 e 555.
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1 comentário:
Agora, só falta ver os dois juntos num palco... perto de nós, de preferência!
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