quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

CENSURA NA MÚSICA


Respondendo a alguns desafios, vou ver que canções estariam proibidas em Portugal antes do 25 de Abril. E desafio todos os interessados a participar. Não basta, porém, dizer que tal e/ou tal canção estava proibida.

É preciso fundamentar, OK?

Alguns exemplos neste livro relacionados com música:
01 - 12SET68 - Versos que acompanhavam as flores enviadas por Amália Rodrigues a Salazar:

"Cultura é experiência,
Já ouvi dizer a alguém;
É de viver a ciência
Que eu tenho de lhe querer bem.

Gosto de si e de flores,
Um jeito igual de gostar.
Fui sentindo estes amores
Sem os saber explicar.

Ponha-se-me bom depressa,
Meu querido presidente,
Depressa, que essa cabeça
Não merece estar doente.

Não sei de regulamento,
E se isto é má criação,
Perdoe o procedimento
E aceite-me a intenção.

Um beijinho grande da Amália".

CORTAR

02 - 23SET68 - Concurso do Rei da Rádio, organizado pelo Diário de Lisboa - CORTAR

03 - 30JAN69 - Baile na Faculdade de Medicina de Lisboa - CORTAR

04 - 08DEZ69 - Na Igreja do Lumiar o padre defende a música moderna, música pop nas cerimónias do culto - CORTAR

05 - 29JUN70 - Gravura, no Diário de Lisboa, de Frank Sinatra numa manifestação contra o FBI. Só pode sair assim: "Frank Sinatra, que entreterá italo-americanos".

06 - 28JUL70 - Coroa de flores oferecida por Amália Rodrigues - CORTAR a frase "um beijinho".

07 - 29AGO70 - Festival Pop na Caparica - NADA

08 - 24NOV70 - Disco Década de 60, de Luís Filipe Costa - SUSPENDER anúncio ou qualquer referência.

09 - 24SET71 - Manuel Freire nos Bombeiros Voluntários de Cete para cantar baladas - CORTAR

10 - 18OUT72 - Reaparecimento do página 1 na Rádio Renascença. A notícia tem CORTES.

REVISTAS PROIBIDAS (relevantes para este post)

- O Mundo Moderno nº 26 (1970)

- Bravo nºs 32, 33 e 34 (1971) e 45 (1973)

16 comentários:

josé disse...

A canção que me deu mais gozo ouvir, logo nos dias a seguir ao 25 de Abril, foi a Ronda do Soldadinho, de José Mário Branco.
A passagem da cançoneta na rádio, era um sinal de que se podia ouvir quase tudo.
Aliás, de JMB havia mais canções proibidas e nem preciso de fundamentar, porque é um facto público e notório.

Creio que as de Luís Cília, também.

Mas a imensa maioria, incluindo as de José Afonso, não estavam censuradas. A Comissão de Censura, aliás, era um grupo de jarretas que por vezes nem percebia o sentido de algumas delas.
E as de conteúdo abertamente político e explicitamente politizadas, claro que eram proibidas. E quem não compreende isso? Portugal na altura não era uma democracia de tipo ocidental. Era uma ditadura à nossa maneira.

Por isso, também não eram tantas como isso. E as que foram censuradas, poderiam tê-o sido em qualquer país que preze o seu patriotismo.

Por exemplo, Shipbuilding, canção de Elvis Costello, cantada por Robert Wyatt, foi censurada nos anos oitenta, na pérfida Albion. Essa e outras, aliás.

E a Inglaterra, é um modelo de democracia que... tomáramos nós!

josé disse...

Para sustentar a minha tese ( de que a censura não era apanágio tipicamente da ditadura portuguesa e havia democracias que a praticavam e praticam ainda hoje), é preciso lembrar e relembrar e voltar a lembrar aos esquecidos, o seguinte:

A editorial Caminho é do PCP. César Príncipe, jornalista, era do PCP, segundo julgo ou pelo menos da Esquerda típica.

O PCP defendia uma ditadura, como hoje continua a defender sem qualquer problema de maior e sem qualauer vergonha em esconder isso no seu programa. A ditadura do proletariado já não consta como era no início do séc XX, mas ainda assim, o Povo é quem mais ordena, para o PCP, desde que haja uma direcção de Comité Central, bem entendido.

Assim, quem vitupera a Censura na ditadura de Salazar/Caetano, tem que vituperar também a censura, mil vezes mais rígida e intolerante, que se praticava nos antigos países de leste, paraíso para os comunistas.

É um problema de coerência e que lhes retira qualquer credibilidade para censurar o que por cá se passava.

JC disse...

Duas notas para o José:
1. "A Comissão de Censura, aliás, era um grupo de jarretas que por vezes nem percebia o sentido de algumas delas". A lógica era exactamente essa, José: sendo a Comissão de Censura formada por pessoas que, apesar de jarretas - confirmo, tinham uma educação escolar muito superior à média(a maioria eram oficiais superiores das FA na reserva), se eles não percebiam a esmagadora maioria do povo mtº menos. Por isso, não tinha grande importância deixar passar! A lógica era a mesma no que diz respeito a publicações: a censura era mais apertada para as de maior difusão e menos para aquelas cuja distribuição se limitava aos meios intectuais e/ou ao "inner circle" da oposição. Deixe lá de pensar que a ditadura era estúpida! Antes o tivesse sido... já que não teria durado tanto tempo. E, note, mtªs das músicas não estavam censuradas pela "Comissão de Censura" mas pelas próprias rádios (RCP e RR, p.ex.)
2. Quando Marx se referia à "ditadura do proletariado" não se referia a uma ditadura no sentido que nós lhe atribuímos hoje em dia e que, com diferentes características, vigoraram na Europa de leste e nos regimes nazi-fascistas e outros. Aliás, nunca a definiu nos seus contornos. Denominava assim um regime alternativo àquele que ele considerava serem "ditaduras da burguesia" que não eram mais do que os regimes democráticos ocidentais, aliás na altura ainda um pouco embrionários (em Portugal 75% dos cidadãos não votavam). Não tenho qualquer simpatia pelo PCP e pelos regimes políticos que ele defende, mas se não formos rigorosos e analisarmos as coisas no seu contexto dificilmente conseguimos compreender o mundo. E talvez fosse bom que quem refere Marx o tenha lido com alguma atenção...
JC

VdeAlmeida disse...

A mais emblemática das canções censuradas antes do 25 de Abril, foi sem dúvida “Os Vampiros”, do Zeca. Numa noite de Junho de 73, o Zeca e um grupo galego, actuou no Sindicato dos Bancários, na Rua de S. José, e foi uma das poucas vezes que a ouvi cantada ao vivo, e em coro por uma multidão que lotava a “sala cinzenta”. Os pides, não se atreveram a entrar no edifício, uma vez que o assassinato da mulher do sindicalista Daniel Cabrita ainda estava muito “fresco”, e assim, preferiram recolher-se nas sombras das portas vizinhas, donde terão ouvido aquele enorme coro que facilmente galgou as paredes do sindicato, com uma imensa raiva a corroer-lhes as entranhas.
Quando saímos, lá estavam eles, cozidos às sombras, golas levantadas para que não fossem reconhecidos, como se toda a gente não soubesse já quem eles eram.
Curiosamente, nessa noite após o concerto, Zeca iria receber em nome de José Mário Branco (exilado em Paris), o prémio para o melhor disco do ano, por Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

josé disse...

jc:

A ditadura do proletariado, conceptualizada por Marx, é do inicio do séc. XX, com ideias do séx. XIX.

O primeiro país a retomar o conceito, foi a Rússia, em breve URSS.

Sabemos o que sucedeu, com essa ditadura, aperfeiçoada por Lenine e depois Estaline.
Lá fora, ( em França, por exemplo) é notícias estes dias, um apanhado de publicações sobre o tempo de Estaline. Não, não falo da desestalinização de Kroutchev. Falo, agora mesmo, com denúncias de morticínios em massa, aos milhões, em nome do Povo.

Esse regime, estalinista puro, era o seguido por Álvaro Cunhal e pelos seus adeptos, nos anos setenta.

É nessa perspectiva que o relato de César Príncipe, tem valor: contextualizado.

Vítor Soares disse...

Voltando à música, e à censura na rádio antes do 25 de Abril, aqui fica o meu contributo com um testemunho pessoal. Em http://infoinclusoes.blogspot.com/2007/03/censura-na-rdio-antes-do-25-de-abril.html

JC disse...

Olhe, meu caro José, se quiser dar-se ao incómodo, vá ao Google e escreva: "Marx e o conceito de ditadura do proletariado". Tem por lá muito por onde se entreter. O suficiente para ultrapassar a fase da propaganda. E acalme-se, o perigo comunista já lá vai há mtº tempo e temos mtº mais com que nos preocupar! Digo eu, que nunca votei no PCP. Pois então, voltemos á música, discos, memorabilia, rádio, etc. No hard feelings!

josé disse...

Ok. Estive a ler o blog Infoinclusões e a entrada sobre a censura na rádio.

A BBC também fazia censura. Se não era semelhante, porque a de cá era efectivamente mesquinha e reveladora de quem a fazia, o espírito era o mesmo: poupar o povo à subversão.

No tempo do episódio da guerra das Malvinas, foi pior do que por cá.

Estamos a falar da Inglaterra, cujo conceito de democracia não me importava nada que importassem integralmente.

filhote disse...

Não vivi de forma consciente - politicamente falando -, os anos anteriores à revolução. No dia 25 de Abril de 1974, tinha apenas 7 anos de idade. Por isso, não vou tecer comentários sobre um assunto do qual só tenho conhecimento pela História - e todos sabemos como se "cozinha" a História.

No entanto, deixo aqui algumas questões minhas à vossa consideração:

1. Que raio de PIDE era essa que deixava um coro entoar "Os Vampiros" a plenos pulmões? Será que o novel democrata Putin deixaria passar em claro tal manifestação?

2. No lançamento do livro "Os Beatles em Portugal", David Ferreira afirmou que nos anos 60 não se podia ouvir os Beatles. O meu pai diz que é mentira. É verdade? Ou é assim que se transforma a História?

3. O meu tio paterno, comunista ferrenho disse-me que o Champalimaud era um explorador. Dezenas de trabalhadores que trabalharam para o famoso capitalista, garantem que ele trabalhava de sol a sol e era de uma justiça laboral exemplar.

4. Outro comunista meu amigo, diz que antes do 25 de Abril ninguém podia sair do país. Enfim, os meus pais iam a todo o lado e nunca lhes aconteceu nada.

5. O meu avô paterno, o musicólogo João de Freitas Branco, sempre se assumiu de esquerda. Isto, antes e depois da revolução. Não consta que tenha sido preso ou torturado. Por quê?

6. Depois da revolução foi dito que o Eusébio não saiu do Benfica para o Milan por causa do Salazar, imagine-se! Agora, sabe-se, que o "pantera negra" não saiu por causa de uma lei do calcio que impedia a contratação de estrangeiros.

7. Parece-me que a página mais negra da moderna História de Portugal terá sido a descolonização, não concordam?

Todas estas questões para resumir o meu espanto pela importância que ainda se dá ao regime de Salazar e Caetano. Não foi o Caetano que fez o exame final ao seu aluno Álvaro Cunhal? No país do "é o que se diz", diz-se...

Deviam estar mais preocupados com a estátua do Marquês de Pombal a vigiar a capital. O Marquês, esse sim, foi um tirano, queimando vivas muitas pessoas de bem na praça pública!!!

Que raio de ditadura tivemos, afinal?

filhote disse...

Ah, esquecia-me desta... há dias, num debate da SIC internacional, um notável representante do partido comunista - não me recordo do nome -, levantava a voz, tresloucado, defendendo que a guerra colonial fora o maior crime cometido pelo regime fascista, << é preciso não esquecer! >>.

Todas as guerras são violentas, traumáticas e racionalmente desnecessárias. Porém, não restam dúvidas de que o CONFLITO é característica do ser humano. A igreja diz que não, mas assassinou milhares e milhares de "infieis".

E Portugal, existiria sem a guerra movida aos muçulmanos? E como foram criadas todas as restantes soberanias? Não foi à custa de muito sangue derramado? Para quê então os exércitos? E a polícia???

Sejamos sérios...

filhote disse...

Para terminar... na minha opinião, todos os conceitos políticos de Marx permanecem válidos. No domínio da Historiografia são mesmo até agora essenciais.

É sabido que o mundo projectado por Marx é utópico - a natureza humana assim o impõe. Mas já viram o paradoxo?... são as utopias que nos movem!

JC disse...

Tanta coisa, "Filhote". vamos lá ver, o mais sinteticamente possível.
1. A PIDE não era estúpida e actuava de forma selectiva. Não se ia preocupar demasiado com uns pacatos e inofensivos, embora corajosos e louváveis, cidadãos que ouviam os Vampiros numa pequena sala. Se viessem para a rua, o caso seria diferente, e lá teriam que se haver com o capitão Maltês e a polícia de choque.
2. Claro que se podiam ouvir os Beatles, embora o rock n' roll não fosse mtº do agrado do regime, pois prevertia a juventude, a moral e os bons costumes. E havia aquieles ecos de concertos tumultuosos, no estrangeiro...
3. O Champalimaud? Era ambas as coisas, pois, segundo Marx, apropriava-se das mais-valias produzidas pelos trabalhadores. Mas era tb, de facto, um trabalhador incansável. Resta acrescentar que os grandes grupos económicos (por exemplo, CUF e Champalimaud), apesar de viverem e prosperarem à sombra da ditadura eram os que melhores salários e mais benefícios sociais concediam aos trabalhadores. Tb os que tinham uma gestão mais moderna. De um modo geral, alguns deles, não todos,no 25 de Abril viam com bons olhos uma certa abertura gradual do regime.
4. Se ainda não tinham feito a tropa, só com uma grande cunha conseguiam passaporte e por tempo limitado. Caso contrário, não havia problemas em obtê-lo. Mas, claro, era vedado ir aos países comunistas, excepto por questões profissionais. Mas os contactos deste tipo eram raros por que as relações comerciais quase inexistentes. Tb as mulheres só o podiam obter com autorização dos maridos.
5. Não se prendia ninguém por ser "do contra", embora fosse preciso ter cuidado. Quando mtº vigiava-se. Mas, claro, se houvesse actividade política activa que não fosse só falar com os amigos ao serão, já o caso era bem diferente.
6. Quanto ao "King" terá sido um pouco das duas coisas.
7. Em minha opinião, a descolonização não terá sido mto diferente do acontecido com outras descolonizações (o Congo, p.ex). De qualquer forma, acho que nas circunstâncias políticas da altura, com os soldados a recusarem-se a embarcar e a confraternizarem com os seus pares dos movimentos de libertação, com um poder político frágil e dividido em Lisboa, com a luta entre as duas superpotências no terreno pelo controle do processo, era impossível ter acontecido de modo mtº diferente. E não devemos esquecer o sucesso que foi a integração dos "retornados".
8. Quanto ao Marquês, era de facto um tirano, mas isso era o habitual no séc. XVIII e sem essa rirania era impossível tentar modernizar o país. E olhe que o conceito de morte sem dor, por condenação, é uma conquista civilizacional do iluminismo, do pós revolução francesa. Antes disso...
9. Quanto ao Cunhal, discordo da sua política, claro, mas olhe que as passou boas, torturado, doze anos preso e uma boa parte incomunicável. E, de facto, os comunistas tiveram um papel importante na luta contra a ditadura, principalmente nos anos 50 e 60, e a PIDE não os poupava.
Abraço
JC

bissaide disse...

Belos testemunhos, Pedro! Não podia estar mais de acordo com as questões/dúvidas que levantas, apesar de também não ter vivido o 25 de Abril. Tudo isto me faz pensar que hoje em dia não faz sentido continuar a falar em esquerda e direita - apenas contribui para criar divisões desnecessárias na sociedade. Ou será que servem a alguém?

filhote disse...

Obrigado pela excelente resposta, JC. Equilibrada e elucidativa para quem não viveu esses tempos da "velha senhora".

Só discordo quanto ao << sucesso da integração dos retornados >>. Retornados negros. No continente, os portugueses são bastante racistas. E a segunda geração de africanos residentes vive uma crise gravíssima de identificação cultural e integração social. Daí o crime e o atraso sempre conotados com os "pretos".
O mesmo se passa em França, por exemplo.

Há uns 5/6 anos um excelente jornalista da TVI, negro, foi colocado como Pivot do Jornal Nacional. Por pouco tempo. Os protestos foram tantos que a direcção da estação recuou na sua escolha. << falta de credibilidade >>, foi um dos argumentos mais utilizados pelos telespectadores...

Em relação ao Marquês, tratou-se de uma pequena brincadeira histórica... até sou descendente do homem!!!

Anónimo disse...

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Anónimo disse...

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