sábado, 5 de abril de 2008

PADRE FANHAIS


ORFEU - ATEP 6325 - 1969

Cantilena - Juventude - Areia da Praia - Canção do Vento

Seguindo orientações do Papa Paulo VI, que instituíra o primeiro dia do ano como Dia Mundial da Paz e convidava os católicos a meditar sobre a Paz no mundo, no dia 31 de Dezembro de 1972, cerca de uma centena de católicos, em vigília, reuniu-se na Capela do Rato, em Lisboa, com esse objectivo: “Vemos, Ouvimos e Lemos não podemos ignorar”.

A PSP cercou a Capela e prendeu para cima de meia centena de pessoas. Mais tarde, alguns deles, foram entregues à PIDE/DGS e encarcerados no Forte de Caxias.

A ditadura não achava bem que se fizesse da Casa do Senhor um local de subversão e de indisciplina.

Dias depois, o Episcopado fazia saber que a vigília era “obviamente de caracterização melindrosa num país em guerra, como a que se processa no Ultramar” mas, clara e inequivocamente, condenava a iniciativa.

Os católicos começavam a enfrentar o regime. “Havemos de ser mais, eu bem sei", dirá um dia o Zeca Afonso.

Uns anos antes, em 1969, para espanto geral, um padre, Francisco Fanhais de seu nome, aparecia no Programa Zip-Zip, a cantar a balada “Cantilena”, com música de sua autoria para um poema de Sebastião da Gama.

Por esses tempos, Henrique Segurado, num poema, fazia a apologia dos pequenos nadas, lembrando a asa de uma mosca que introduzindo-se no gerador central deixara a cidade sem luz.
Saibamos antever a nossa meta no cadáver duma mosca incompleta".

Ainda em 1969, o Padre Fanhais edita este EP, onde surge a já citada “Cantilena”, e ainda “Juventude”, poema de João Apolinário (poeta que também é cantado também pelos Secos & Molhados - nota do editor), “Areia da Praia”, poema de Manuela Pina, ambos com música do Padre Fanhais e também “Canção do Vento”, um trecho bíblico com música de Pedro Lobo Antunes.

Este disco, como tantos outros, foram os tais pequenos nadas, os pauzinhos na engrenagem do regime, da então chamada “Primavera Marcelista”.

O 25 de Abril chegaria 5 anos depois.

A fotografia da capa é de Augusto Cabrita.

Colaboração de Gin-Tonic

14 comentários:

josé disse...

O João Apolinário era (é) de Ponte de Lima. Sei, porque namorei com uma prima e o disco dos Secos & Molhados,homónimo, é um dos grandes discos do início da década de setenta, de toda a música popular.

ié-ié disse...

Completamente de acordo, caro José. Guardo LPs e CDs da banda. Meu Deus, que canções! Não dá para arranjar um contacto com ele? Uma entrevista vinha mesmo a calhar... Que tal o telemóvel da prima?


LP

josé disse...

ié-ié: posso sempre tentar. Mas tem que ser com a irmã, porque a minha namorada de então, já não está cá.

Desde Janeiro de 1979. Tragicamente. Um dos maiores abalos da minha vida.

Do que sei, porém, é que o João Apolinário ( que suponho seja o João Ricardo) já nessa altura, era um desaparecido da família directa, de que todos se lembravam, porém.

No entanto, julgo que será mais fácil contactar o dito, através do email, no sítio da própria banda.

aqui

josé disse...

Aqui:

http://www2.uol.com.br/secosemolhados/secos/crono.htm

ié-ié disse...

Obrigado, vou já no encalço!

LT

gin-tonic disse...

João Apolinário: poeta, jornalista, antifascista, exilou-se no Brasil onde permaneceu vários anos. Nasceu em 1924 e morreu em 1988, na lindíssima vila de Marvão onde existe uma placa a assinalar que ali viveu e morreu. Vários livros publicados, encontra-se representado na “Antologia de Poesia Portuguesa do Pós Guerra”, Editora Ulisseia, 1965 , onde se encontra o poema ´´E Preciso Avisar Toda a Gente”, creio, também musicado por Francisco Fanhais.
João Ricadro é o filho de João Apolinário. Não tenho o LP “Sangue Latino” dos "Secos e Molhados" à mão, bateu asas, voou, mas estou em crer que é o João Ricardo que compõe toda, ou grande parte, das canções do disco e onde há-de estar “Flores Astrais” poema do seu pai João Apolinário. Nesses “Secos e Molhados” a voz era de Ney Matogrosso antes de encetar carreira a solo.

josé disse...

Na revista Cinéfilo de 6.4.1974 ( a que traz uma reportagem sobre o I Encontro da Canção Portuguesa, no Coliseu, dias antes de 25 de Abril), há uma entrevista com João Ricardo que diz assim, a dado passo:

"De facto, nasci em Ponte de Lima. Muito novo, bastante pequeno ainda, fui para o Porto onde vivi até aos 14 anos ( com essa idade vim para o Brasil em 1964). Na capital do Norte, estudei no Liceu Alexandre Herculano. Tenho portanto uma formação cultural de base europeia."

josé disse...

Ah! E se o ié-ié alguma vez contactar o João Ricardo, basta citar o apelido Talina e Ponte de Lima. E já agora o Cardeal Saraiva, porque também está relacionado.

Com esse santo e senha, o João Ricardo, talvez se lembre que há pelo Norte de Portugal quem se lembre do mesmo, como filho da terra portuguesa.

josé disse...

O primeiro disco dos Secos & Molhados, de 1973, saiu em Portugal, em 1974.
É o que tem Rosa de Hiroshima.

O Flores Astrais, saiu em 1974 no Brasil.

O primeiro disco, é um todo em que todas as canções são de qualidade irrepreensível.

O segundo nem tanto.

Por alguma razão, o primeiro disco , lembra-me o Kimono My House dos Sparks.

Talvez pela voz de falsete, semelhante. Talvez por serem do mesmo ano ( por cá) ou talvez por causa da variedade e originalidade da instrumentação.


E João Ricardo é mesmo o filho de João Apolinário.

filhote disse...

Daqui do Rio, acompanho esta história com interesse... e fiquei surpreendido pelo facto do José também ouvir ligações entre os Secos e Molhados e os Sparks... sempre senti essa conexão!!!!!

Zeca do Rock disse...

Desculpem, mas tenho que fazer uma correcção aritmética. O 25 de Abril aconteceu 5 anos (e não 15) após o disco do Fanhais... ou será que estou a sonhar?

ié-ié disse...

Claro, estás bem acordado! Mais do que eu, que deixei passar o lapso.

Obrigado pela correcção!

LT

Rato disse...

Conheci pessoalmente o Augusto Cabrita, que ainda era primo da minha mulher. E tivemos o privilégio de todo o portfolio do nosso casamento ter sido fotografado por ele.

leonardo.verde disse...

O luis cilia tamb~em musicou vários poemas do João Apolinário. Podem consultar todos os poetas que o luis musicou e seus poemas aqui

http://www.luiscilia.com/index_ficheiros/ordenadapoeta.htm