sexta-feira, 18 de abril de 2008

GRÂNDOLA, VILA MORENA 01


"Escolhi a "Grândola", em primeiro lugar, porque sou alentejano, depois porque gosto muito da canção. Se fosse minhoto, provavelmente a senha teria sido um "vira", não sei", assim explica, 20 anos depois, o capitão de fragata na reserva, Almada Contreiras, a opção por esta canção de Zeca Afonso para o sinal do 25 de Abril.

Actualmente em Moçambique, onde é administrador e sócio de uma empresa privada de pescas, Almada Contreiras, 52 anos, conta como escolheu "Grândola, Vila Morena":

"Depois do 16 de Março, havia a necessidade de dar um sinal credível para que as tropas do Movimento soubessem o que se estava a passar. Em primeiro lugar, pensou-se num sinal pelas comunicações da Marinha, mas isso não foi possível por razões tácnicas.

"O sinal pela rádio surgiu-me depois, ao lembrar-me de um livro que me tinham oferecido na Páscoa sobre a ditadura chilena. Nessa altura, as forças democráticas chilenas tinham combinado a transmissão pela Rádio Agricultura de um tango de Carlos Gardel com a leitura da primeira estrofe como sinal. Era o plano ZEPA. Como vê, não inventei nada. Foi só copiar o que outros já tinham pensado.

"Aprovada a ideia da transmissão do sinal pela rádio, o tenente-coronel Santos Coelho propôs a canção "Venham Mais Cinco", também do Zeca Afonso. Só que o Álvaro Guerra, que era o nosso contacto para o Leite de Vasconcelos na Rádio Renascença, informou-nos da impossibilidade dessa canção, a qual estava proibida na Renascença.

"Foi então que puxei pela minha costela alentejana e sugeri "Grândola", que foi imediatamente aceite. Além disso, era amigo do Zeca Afonso, que conheci antes do 25 de Abril. Mas o importante é que efectivamente era necessário dar um sinal credível às tropas e, ao mesmo tempo, não comprometer as questões de segurança. Não estou nada arrependido de ter escolhido a "Grândola". É uma canção bem bonita".

Almeida Contreiras, que em 1988 passou voluntariamente á reserva, passando a viver em Moçambique, era, à data do 25 de Abril, com 32 anos, capitão-tenente e chefe do centro de Comunicações da Armada.

in "25 de Abril Memórias", Documentos Lusa, 1994

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