(Alfredo Lanranjinha, Mike Sergeant e Pedro de Freitas Branco)
Um dos meus sonhos de criança era um dia participar das (nas, em português de Portugal - eheheh) lendárias packtours dos anos 50, lado a lado com Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly e James Brown.
Ou do início dos 60, em que Everly Brothers, Ronettes e Rolling Stones percorriam juntos os teatros de Inglaterra. Como nunca mais era dia e eu ainda nem sequer tocava guitarra, um espelho, uma raquete de ténis, e "That’ll Be The Day" a altos berros, imitavam o sonho.
Até que, inesperadamente, vi-me em idade adulta incluído numa dessas tours. À escala nacional. Por isso, até hoje não sei se foi um sonho tornado realidade, se uma realidade tornada sonho.
Nos camarins, viveu-se o verdadeiro espírito do Ié-Ié. Tudo ao molho e fé em Deus. Entusiasmo, amizade, whisky, competição, carolice, vedetismo. As vozes sobrepunham-se umas às outras.
Enfim, um bando de crianças à solta – nas quais me incluía –, recusando-se a ser “adultos profissionais” nem que fosse por um dia.
Guitarras circulavam de mão em mão. Lembro-me como se fosse hoje. O Duarte Mendes a mostrar-me como se toca "Every Night" do McCartney e eu a responder-lhe com "Blackbird". O Edmundo Silva, lenda dos Sheiks, a chamar-me à atenção de um acorde em falta no "Sunny Afternoon". Todos queríamos subir ao palco e brilhar mais do que o anterior. Como Jerry Lee faria, e fez, com Chuck Berry.
À parte, quem sabe a milhares de anos-luz, o Quarteto 1111 não se misturava muito. Estrela é sempre estrela, e assim deve ser. Porém, simpaticamente, Cid e companhia recebiam no seu cantinho quem lá quisesse entrar – não me fiz rogado –, deixando correr, ao sabor da conversa, estórias dos tempos áureos.
Do staff, chegava a notícia de que Victor Gomes fugira do edifício num acesso de realeza. Rezam as crónicas que Jaime Pereira, mentor do show, ofereceu 1 milhão de dólares ao “rei” para que ele voltasse e mais tarde incendiasse o auditório. It’s Only Rock’n’Roll!!!
Subi ao palco. Sozinho, com a Martin e uma harmónica. E quase tremi ao deparar com um auditório lotado, a deitar por fora. No entanto, devo ter sido possuído pelo espírito de Dylan e fui capaz de uma memorável versão de "Like a Rolling Stone" – perdoem-me a imodéstia. Depois, disse, "também eu sou dos anos 60" e a sala explodiu em aplausos, mal ouvindo a conclusão da frase… "nasci em 1967"…
Finalmente, o meu pai, ele sim verdadeira lenda dos anos 60, ex-Claves, vencedor do Campeonato Ié-Ié do Monumental, juntou-se à festa.
Ele, e Pedro Soares, exímio guitarrista de Pedro e os Apóstolos. Primeiro, "Sunny Afternoon" dos Kinks, depois a voz grave e sexy do meu pai – dizem elas – emocionou-me na interpretação de "Can’t Help Falling In Love" do Elvis. "Ruby Tuesday" dos Stones foi a nossa despedida.
No grande final, assumi orgulhosamente a voz principal de "Get Back", acompanhado pelo magistral Quarteto 1111.
Foi uma viagem e tanto. E até hoje, não sei se foi sonho tornado realidade, se realidade tornada sonho.
Pedro de Freitas Branco
Rio de Janeiro
Um dos meus sonhos de criança era um dia participar das (nas, em português de Portugal - eheheh) lendárias packtours dos anos 50, lado a lado com Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly e James Brown.
Ou do início dos 60, em que Everly Brothers, Ronettes e Rolling Stones percorriam juntos os teatros de Inglaterra. Como nunca mais era dia e eu ainda nem sequer tocava guitarra, um espelho, uma raquete de ténis, e "That’ll Be The Day" a altos berros, imitavam o sonho.
Até que, inesperadamente, vi-me em idade adulta incluído numa dessas tours. À escala nacional. Por isso, até hoje não sei se foi um sonho tornado realidade, se uma realidade tornada sonho.
Nos camarins, viveu-se o verdadeiro espírito do Ié-Ié. Tudo ao molho e fé em Deus. Entusiasmo, amizade, whisky, competição, carolice, vedetismo. As vozes sobrepunham-se umas às outras.
Enfim, um bando de crianças à solta – nas quais me incluía –, recusando-se a ser “adultos profissionais” nem que fosse por um dia.
Guitarras circulavam de mão em mão. Lembro-me como se fosse hoje. O Duarte Mendes a mostrar-me como se toca "Every Night" do McCartney e eu a responder-lhe com "Blackbird". O Edmundo Silva, lenda dos Sheiks, a chamar-me à atenção de um acorde em falta no "Sunny Afternoon". Todos queríamos subir ao palco e brilhar mais do que o anterior. Como Jerry Lee faria, e fez, com Chuck Berry.
À parte, quem sabe a milhares de anos-luz, o Quarteto 1111 não se misturava muito. Estrela é sempre estrela, e assim deve ser. Porém, simpaticamente, Cid e companhia recebiam no seu cantinho quem lá quisesse entrar – não me fiz rogado –, deixando correr, ao sabor da conversa, estórias dos tempos áureos.
Do staff, chegava a notícia de que Victor Gomes fugira do edifício num acesso de realeza. Rezam as crónicas que Jaime Pereira, mentor do show, ofereceu 1 milhão de dólares ao “rei” para que ele voltasse e mais tarde incendiasse o auditório. It’s Only Rock’n’Roll!!!
Subi ao palco. Sozinho, com a Martin e uma harmónica. E quase tremi ao deparar com um auditório lotado, a deitar por fora. No entanto, devo ter sido possuído pelo espírito de Dylan e fui capaz de uma memorável versão de "Like a Rolling Stone" – perdoem-me a imodéstia. Depois, disse, "também eu sou dos anos 60" e a sala explodiu em aplausos, mal ouvindo a conclusão da frase… "nasci em 1967"…
Finalmente, o meu pai, ele sim verdadeira lenda dos anos 60, ex-Claves, vencedor do Campeonato Ié-Ié do Monumental, juntou-se à festa.
Ele, e Pedro Soares, exímio guitarrista de Pedro e os Apóstolos. Primeiro, "Sunny Afternoon" dos Kinks, depois a voz grave e sexy do meu pai – dizem elas – emocionou-me na interpretação de "Can’t Help Falling In Love" do Elvis. "Ruby Tuesday" dos Stones foi a nossa despedida.
No grande final, assumi orgulhosamente a voz principal de "Get Back", acompanhado pelo magistral Quarteto 1111.
Foi uma viagem e tanto. E até hoje, não sei se foi sonho tornado realidade, se realidade tornada sonho.
Pedro de Freitas Branco
Rio de Janeiro
3 comentários:
Assustei-me com a foto, do tempo em que parecia um cachalote... estava gordo, de facto... uma espécie de Meat Loaf à portuguesa... ou talvez, devido à barba, um Jim Morrison na fase decadente...
Enfim, felizmente depois emagreci 30 quilos!!!
(a vaidade é uma coisa tramada)
Bem observado Ié-Ié, o "das" brasileiro em vez do "nas" português. Uma vergonha... deve ser da osmose com os cariocas!!!
ehehehehe...
Afinal está descoberta a identidade do Filhote...
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