sábado, 5 de abril de 2008

"FOI UMA VIAGEM E TANTO"


(Alfredo Lanranjinha, Mike Sergeant e Pedro de Freitas Branco)

Um dos meus sonhos de criança era um dia participar das (nas, em português de Portugal - eheheh) lendárias packtours dos anos 50, lado a lado com Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Buddy Holly e James Brown.

Ou do início dos 60, em que Everly Brothers, Ronettes e Rolling Stones percorriam juntos os teatros de Inglaterra. Como nunca mais era dia e eu ainda nem sequer tocava guitarra, um espelho, uma raquete de ténis, e "That’ll Be The Day" a altos berros, imitavam o sonho.

Até que, inesperadamente, vi-me em idade adulta incluído numa dessas tours. À escala nacional. Por isso, até hoje não sei se foi um sonho tornado realidade, se uma realidade tornada sonho.

Nos camarins, viveu-se o verdadeiro espírito do Ié-Ié. Tudo ao molho e fé em Deus. Entusiasmo, amizade, whisky, competição, carolice, vedetismo. As vozes sobrepunham-se umas às outras.

Enfim, um bando de crianças à solta – nas quais me incluía –, recusando-se a ser “adultos profissionais” nem que fosse por um dia.

Guitarras circulavam de mão em mão. Lembro-me como se fosse hoje. O Duarte Mendes a mostrar-me como se toca "Every Night" do McCartney e eu a responder-lhe com "Blackbird". O Edmundo Silva, lenda dos Sheiks, a chamar-me à atenção de um acorde em falta no "Sunny Afternoon". Todos queríamos subir ao palco e brilhar mais do que o anterior. Como Jerry Lee faria, e fez, com Chuck Berry.

À parte, quem sabe a milhares de anos-luz, o Quarteto 1111 não se misturava muito. Estrela é sempre estrela, e assim deve ser. Porém, simpaticamente, Cid e companhia recebiam no seu cantinho quem lá quisesse entrar – não me fiz rogado –, deixando correr, ao sabor da conversa, estórias dos tempos áureos.

Do staff, chegava a notícia de que Victor Gomes fugira do edifício num acesso de realeza. Rezam as crónicas que Jaime Pereira, mentor do show, ofereceu 1 milhão de dólares ao “rei” para que ele voltasse e mais tarde incendiasse o auditório. It’s Only Rock’n’Roll!!!

Subi ao palco. Sozinho, com a Martin e uma harmónica. E quase tremi ao deparar com um auditório lotado, a deitar por fora. No entanto, devo ter sido possuído pelo espírito de Dylan e fui capaz de uma memorável versão de "Like a Rolling Stone" – perdoem-me a imodéstia. Depois, disse, "também eu sou dos anos 60" e a sala explodiu em aplausos, mal ouvindo a conclusão da frase… "nasci em 1967"…

Finalmente, o meu pai, ele sim verdadeira lenda dos anos 60, ex-Claves, vencedor do Campeonato Ié-Ié do Monumental, juntou-se à festa.

Ele, e Pedro Soares, exímio guitarrista de Pedro e os Apóstolos. Primeiro, "Sunny Afternoon" dos Kinks, depois a voz grave e sexy do meu pai – dizem elas – emocionou-me na interpretação de "Can’t Help Falling In Love" do Elvis. "Ruby Tuesday" dos Stones foi a nossa despedida.

No grande final, assumi orgulhosamente a voz principal de "Get Back", acompanhado pelo magistral Quarteto 1111.

Foi uma viagem e tanto. E até hoje, não sei se foi sonho tornado realidade, se realidade tornada sonho.

Pedro de Freitas Branco
Rio de Janeiro

3 comentários:

filhote disse...

Assustei-me com a foto, do tempo em que parecia um cachalote... estava gordo, de facto... uma espécie de Meat Loaf à portuguesa... ou talvez, devido à barba, um Jim Morrison na fase decadente...

Enfim, felizmente depois emagreci 30 quilos!!!

(a vaidade é uma coisa tramada)

filhote disse...

Bem observado Ié-Ié, o "das" brasileiro em vez do "nas" português. Uma vergonha... deve ser da osmose com os cariocas!!!

ehehehehe...

Zeca do Rock disse...

Afinal está descoberta a identidade do Filhote...