sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

DAVAM-SE BEM, MUITO BEM...


Escreve Daniel Gouveia, do Quinteto Académico:

"Naquele tempo, a camaradagem entre músicos não era palavra vã. Por exemplo, quando havia um baile abrilhantado por dois conjuntos, decidia-se que os melhores instrumentos é que ficavam em palco, independentemente de a quem pertencessem. De facto, não fazia sentido duas baterias, dois contrabaixos, dois teclados.

"Do mesmo modo com as aparelhagens sonoras. Para evitar uma floresta de microfones, colunas, amplificadores, combinava-se: «Tocamos com a nossa aparelhagem, ou com a vossa?».

"Acontece que o Quinteto, porque começou a ganhar bons «cachets» e tinha a filosofia, raríssima na época, de que metade do que se ganhava era para investir em aparelhagem e instrumentos, andava sempre à frente em tecnologia e, na maior parte dos casos, os outros grupos cobiçavam a hipótese de tocar com o nosso material, ao que nunca nos opusemos.

"Salvo com o Thilo's Combo, em que a bateria «Premier» do Fernando Rueda fazia os encantos do nosso Fernando Mendes, até comprarmos uma «Sonor», claro.

"Acontecia, até, com Eugénio Pepe, uma forma de camaradagem e amizade que excedia o habitual. Como ele tinha de tocar todas as noites na sua "boîte" «A Cova do Galo», no Parque Mayer, frequentada por todo o meio artístico noctívago lisboeta, pedia-nos sempre para usar tudo o que era nosso, a fim de poderem tocar uma série de meia-hora no sítio onde fosse o baile, irem a correr fazer uma série idêntica no «Galo», voltarem para o baile, voltarem para o «Galo», e assim sucessivamente durante a noite toda, enquanto durasse o baile.

"Fizemos isto durante vários anos, ficaram-nos eternamente gratos e quis o Destino que, quando casei e vim morar para Linda-a-Velha, um dia encontrasse Eugénio Pepe (um dos bons compositores da música ligeira portuguesa, com «Agora choro à vontade», «Quando cai uma mulher», o indicativo da RTP «Vamos Dormir», etc.) a entrar para o meu prédio.

"Depois de efusivas saudações, perguntei-lhe: «Que é que fazes aqui?» «Moro neste prédio, no 7.º andar.» «E eu moro no 5.º!» Continuámos a bela amizade, vendo-nos quase todos os dias, indo às reuniões de condóminos, até hoje".

2 comentários:

DANIEL BACELAR disse...

Meus queridos amigos
São histórias como esta,que me trazem á memória agradáveis factos que se passaram na nossa juventude e que me fazem repetir como o outro:
Nós eramos tão felizes e nunca dèmos por isso.!!!
Há muitos anos,eu e "os Gentlemen"compartilhámos um baile no "Espelho Dourado"com o "Quinteto Académico" do qual guardo gratas recordações de enorme camaradagem.
Era nessa altura o Mário Assis Ferreira guitarra deste grupo e com certeza estudante de direito.
Houve uma certa simpatia entre nós,e passámos a noite a conversar como bons amigos.
Muito mais tarde, vim a descobrir através de minha mulher que trabalhou 21 anos na Valentim de Carvalho que o DR.Mário (já nessa altura advogado)trabalhava lá na secção de Artistas e Reportório.
Claro,caímos nos braços um do outro,e foi uma tarde a recordar velhos tempos,visto tanto ele como eu termos seguido caminhos profissionais diferentes (eu pelo menos não tinha nada a ver com a música,mas sim com os aviões).
Os anos voltaram a passar e tempos depois,vim a descobrir que o Mário era o presidente do conselho de administração da Estoril Sol.
Que grande salto profissional,Mário !!!Parabéns!!!
Espero que continues a ser o mesmo tipo afável e educadíssimo que conheci.Claro está que, segundo vi outro dia na tv numa entrevista,estás um pouco mais louro,mas é a tal coisa,"noblesse oblige".
Eu cá continuo bastante branquinho!!!!
A idade não perdôa,mas há uma coisa que não esqueço!!!
O que a gente se divertiu (todos)com aquela sâ camaradagem!!!
Como será hoje em dia?????

DANIEL BACELAR disse...

Meus amigos
Desculpem.quando disse "Espelho Dourado",queria dizer "Espelho de Água".
DESCULPEM LÁ,A IDADE JÁ NÃO PERDÔA.!!!!