"Parece Lisboa"??? Essa realmente eu não entendi. Aliás, as diferenças entre a "Pérola do Índico" e a capital do Império até se notavam no chão que pisávamos. Sempre fui grande opositor da calçada à portuguesa como material de zona pedestre: aquilo deveria ser usado apenas em locais com interesse decorativo e não em tudo o que é passeio, dado ser muito perigoso e pouco práctico - as madames de salto alto que o digam. Em Moçambique era apenas essa faceta decorativa que estava reservada à calçada portuguesa, usada sobretudo em jardins públicos. Em tudo o mais que fosse considerado travessia pedonal o pavimento era constituído por largas placas de cimento, onde os nossos pés assentavam comodamente, sem qualquer perigo de queda ou derrapagem (eu ainda hoje, sobretudo em dias de chuva, evito deslocar-me em cima da calçada à portuguesa, preferindo usar a faixa de rodagem junto ao lancil - é que sinto menos perigo na companhia dos veículos do que na das pedras). Isto tudo para dizer que sempre que voltava de férias do continente, a primeira coisa que fazia era dar um longo passeio pelos passeios da minha cidade e sentir de novo a segurança e a comodidade debaixo dos pés. Era algo como um "ritual de regresso", como se aquele contacto tivesse uma voz própria para me dizer que estava em casa outra vez.
Calculo que Lourenço Marques nada tenha a ver com Lisboa... mas como nunca lá estive...
Aliás, África nada tem de semelhante com qualquer outro continente. Estive em Cabo Verde (2 vezes), Zimbabwe, e África do Sul (3 vezes)e posso dizer que, especialmente no Sul, por isso próximo a Moçambique, o céu é diferente... a luz é outra...
Quando escrevi "parece Lisboa", referia-me somente à fotografia. Aos edifícios apresentados e monumento no centro da rotunda, estilo Marquês de Pombal...
Ah pois, a luz, filhote... E aquele calor húmido e pegajoso que nos fazia tomar banho três e quatro vezes por dia... E os cheiros, cada um mais indescritivel do que o outro... E aqueles horizontes largos, a perder de vista, que fazia o tempo correr mais devagar. Tudo isso eu conservo dentro de mim, mesmo que não o saiba. Quando dezassete anos depois lá regressei bastou que a porta do avião se abrisse para todas essas sensações me assolassem de novo e por todos os poros do corpo. A "verdadeira" África só começa do Equador para baixo; e quem nunca o passou não faz ideia de que existe um outro mundo nesta Terra.
Eu então sou diametralmente oposto. Não gosto e nem nunca gostei de África, exactamente pelas "sensações que assolam os poros do corpo" do Rato quando se abrem as portas do avião.
Nunca vivi em África, mas em razão da minha profissão conheci alguns países como Angola, Moçambique, Zimbabwe, Costa do Marfim, São Tomé, Cabo Verde, Nigéria, África do Sul e enclaves, Senegal, este último em férias.
Dei-me muito mal com a comida, pessimamente com o clima, os cheiros. Nem quero pensar. Só de pensar naquela humidade de Lagos.
Mas também houve coisas de que gostei: a praia de Évora, na ilha do Príncipe, o verde de S. Tomé, as quedas de Victoria, Cabora-Bassa, o "europeísmo" de Cabo Verde, a tempestade seca na África do Sul. Pouco mais.
8 comentários:
Nem tudo era feio no Antigo Regime. Parece Lisboa...
"Parece Lisboa"???
Essa realmente eu não entendi. Aliás, as diferenças entre a "Pérola do Índico" e a capital do Império até se notavam no chão que pisávamos. Sempre fui grande opositor da calçada à portuguesa como material de zona pedestre: aquilo deveria ser usado apenas em locais com interesse decorativo e não em tudo o que é passeio, dado ser muito perigoso e pouco práctico - as madames de salto alto que o digam. Em Moçambique era apenas essa faceta decorativa que estava reservada à calçada portuguesa, usada sobretudo em jardins públicos. Em tudo o mais que fosse considerado travessia pedonal o pavimento era constituído por largas placas de cimento, onde os nossos pés assentavam comodamente, sem qualquer perigo de queda ou derrapagem (eu ainda hoje, sobretudo em dias de chuva, evito deslocar-me em cima da calçada à portuguesa, preferindo usar a faixa de rodagem junto ao lancil - é que sinto menos perigo na companhia dos veículos do que na das pedras).
Isto tudo para dizer que sempre que voltava de férias do continente, a primeira coisa que fazia era dar um longo passeio pelos passeios da minha cidade e sentir de novo a segurança e a comodidade debaixo dos pés. Era algo como um "ritual de regresso", como se aquele contacto tivesse uma voz própria para me dizer que estava em casa outra vez.
A imagem junta exemplifica um dos usos dados à calçada portuguesa em Moçambique, que eram as zonas envolventes a monumentos.
Calculo que Lourenço Marques nada tenha a ver com Lisboa... mas como nunca lá estive...
Aliás, África nada tem de semelhante com qualquer outro continente. Estive em Cabo Verde (2 vezes), Zimbabwe, e África do Sul (3 vezes)e posso dizer que, especialmente no Sul, por isso próximo a Moçambique, o céu é diferente... a luz é outra...
Quando escrevi "parece Lisboa", referia-me somente à fotografia. Aos edifícios apresentados e monumento no centro da rotunda, estilo Marquês de Pombal...
Ah pois, a luz, filhote... E aquele calor húmido e pegajoso que nos fazia tomar banho três e quatro vezes por dia... E os cheiros, cada um mais indescritivel do que o outro... E aqueles horizontes largos, a perder de vista, que fazia o tempo correr mais devagar.
Tudo isso eu conservo dentro de mim, mesmo que não o saiba. Quando dezassete anos depois lá regressei bastou que a porta do avião se abrisse para todas essas sensações me assolassem de novo e por todos os poros do corpo.
A "verdadeira" África só começa do Equador para baixo; e quem nunca o passou não faz ideia de que existe um outro mundo nesta Terra.
Sei bem o que significa tudo isso... até por que há 3 anos que vivo baixo do Equador... Rio de Janeiro... e hoje já vou no terceiro duche!!!
errata: << abaixo do Equador >>.
Eu então sou diametralmente oposto. Não gosto e nem nunca gostei de África, exactamente pelas "sensações que assolam os poros do corpo" do Rato quando se abrem as portas do avião.
Nunca vivi em África, mas em razão da minha profissão conheci alguns países como Angola, Moçambique, Zimbabwe, Costa do Marfim, São Tomé, Cabo Verde, Nigéria, África do Sul e enclaves, Senegal, este último em férias.
Dei-me muito mal com a comida, pessimamente com o clima, os cheiros. Nem quero pensar. Só de pensar naquela humidade de Lagos.
Mas também houve coisas de que gostei: a praia de Évora, na ilha do Príncipe, o verde de S. Tomé, as quedas de Victoria, Cabora-Bassa, o "europeísmo" de Cabo Verde, a tempestade seca na África do Sul. Pouco mais.
Ná, sorry, sou muito europeu.
LT
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