Lembra-se de um verso, num poema de António Reis, “há sempre um rapaz triste em frente a um barco”.
Gosta de começos de livros e agrada-lhe muito o de “ O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago, quando o autor revela que o “Highland Brigade”, vapor inglês da Mala Real que atravessava o Atlântico entre Londres e Buenos Aires, chegou por uma tarde chuvosa ao cais de Alcantara e dele desembarcou Ricardo Reis.
Ocorre-lhe a engraçada a história de Jorge Lima Barreto a explicar, no primeiro disco de Eugénia Melo e Castro, que lhe tinha sugerido o nome artístico de Eugénia C, porque se lembrava de um elegante paquete, que andava entre Lisboa e o Rio de Janeiro.
Gosta de ver, do alto das Janelas Verdes, os paquetes ancorados no cais de Alcantara e, não sabe bem porquê, cada vez que os olha, fica a trautear a “Annie Song”, do John Denver, “enches os meus sentidos como uma noite na floresta, como as montanhas na primavera, como um passeio à chuva, como uma tempestade no deserto, como o azul oceano adormecido” e pensa que talvez um dia ainda há-de viajar num paquete.
Mas gosta de barcos, essencialmente, por causa de uma velha canção de Burt Bacharach, “Trains, Boats and Planes”, ouvida em tempos remotos, interpretada pelos Association, pelo que também gosta de comboios e aviões, mas guardará isso para falar numa outra ocasião.
Este disco tem a referência C92-13392, a etiqueta está em cirílico, mas a tradução, a fazer fé no que "Mr. Ié-Ié”, algures lá para trás nas páginas do blogue escreveu, deverá ser “Melodia”.
É um “EP” de 33 rpm, coisa pouco vulgar. Pensa que funcionava como “musical souvenir” para os passageiros que viajavam no paquete soviético “A. Pushkin” e é tocado pelo agrupamento musical de bordo, que animava as tardes e noites dançantes. Pelo menos é isso que as fotografias, publicadas na contra capa, sugerem.
São tocadas e cantadas quatro canções do folclore russo com a inevitável “Kalinka”.
Conclui que é um disco de propaganda, pois não está a ver os passageiros do cruzeiro que, normalmente são gente do norte da Europa, com algum gosto, a interromperem o jantar de iguarias, regado a champanhe e “glamour”, para irem dançar a “Kalinka”. “Strangers in the Night” talvez, já lhe parece mais adequado.
Hoje ainda adormecerá deixando que "trains, boats and planes" passem lentos pela imaginação a caminho de uma direcção que pretende certa, ou um encontro não sabe com quem, mas ao encontro.
Colaboração de Gin-Tonic
Gosta de começos de livros e agrada-lhe muito o de “ O Ano da Morte de Ricardo Reis", de José Saramago, quando o autor revela que o “Highland Brigade”, vapor inglês da Mala Real que atravessava o Atlântico entre Londres e Buenos Aires, chegou por uma tarde chuvosa ao cais de Alcantara e dele desembarcou Ricardo Reis.
Ocorre-lhe a engraçada a história de Jorge Lima Barreto a explicar, no primeiro disco de Eugénia Melo e Castro, que lhe tinha sugerido o nome artístico de Eugénia C, porque se lembrava de um elegante paquete, que andava entre Lisboa e o Rio de Janeiro.
Gosta de ver, do alto das Janelas Verdes, os paquetes ancorados no cais de Alcantara e, não sabe bem porquê, cada vez que os olha, fica a trautear a “Annie Song”, do John Denver, “enches os meus sentidos como uma noite na floresta, como as montanhas na primavera, como um passeio à chuva, como uma tempestade no deserto, como o azul oceano adormecido” e pensa que talvez um dia ainda há-de viajar num paquete.
Mas gosta de barcos, essencialmente, por causa de uma velha canção de Burt Bacharach, “Trains, Boats and Planes”, ouvida em tempos remotos, interpretada pelos Association, pelo que também gosta de comboios e aviões, mas guardará isso para falar numa outra ocasião.
Este disco tem a referência C92-13392, a etiqueta está em cirílico, mas a tradução, a fazer fé no que "Mr. Ié-Ié”, algures lá para trás nas páginas do blogue escreveu, deverá ser “Melodia”.
É um “EP” de 33 rpm, coisa pouco vulgar. Pensa que funcionava como “musical souvenir” para os passageiros que viajavam no paquete soviético “A. Pushkin” e é tocado pelo agrupamento musical de bordo, que animava as tardes e noites dançantes. Pelo menos é isso que as fotografias, publicadas na contra capa, sugerem.
São tocadas e cantadas quatro canções do folclore russo com a inevitável “Kalinka”.
Conclui que é um disco de propaganda, pois não está a ver os passageiros do cruzeiro que, normalmente são gente do norte da Europa, com algum gosto, a interromperem o jantar de iguarias, regado a champanhe e “glamour”, para irem dançar a “Kalinka”. “Strangers in the Night” talvez, já lhe parece mais adequado.
Hoje ainda adormecerá deixando que "trains, boats and planes" passem lentos pela imaginação a caminho de uma direcção que pretende certa, ou um encontro não sabe com quem, mas ao encontro.
Colaboração de Gin-Tonic
4 comentários:
A "Annie's Song" também me traz importantes recordações. De adolescente. Ouvia o meu pai a cantar a canção de John Denver como se fosse sua, sonhando um dia poder imitá-lo.
nao eram os box tops que cantavam isso? nao me lembro dos association (banda de que muito gosto) cantarem esse tema de brt bacharach
Sim, também acho que são os Box Tops.
LT
São mesmo os Box Tops.
Há diversas versões de "trains, boats and planes" mas desconhece-se se os Association têm alguma.O que têm isso é uma lindissima canção, "Never My Love" canção emblemática não só dos anos mas, desde que não sejam surdos, de todas as gerações.
O Sr. Hugo Santos terá que cortar um pouco no gin.
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