terça-feira, 15 de janeiro de 2008
PORTUGAL VENCERÁ
ORFEU STAT 038 - 1975
Haja O Que Houver, Pátria - Para A Frente Chile - Esta Terra Há-de Ser Nossa - Se Um Fascista Conspira - Tu Que Dessa Janela - Venceslau da Silva - Quem Tem Medo do Comunismo? - Nas Mãos do Patrão - Com As Armas Desta Vida - Abre Os Olhos Camarada - Portugal Vencerá
Este disco possui algumas particularidades interessantes, além do seu carácter marcadamente político, datado, condizente com a época. José Jorge Letria era então um perigoso comunista, ou melhor, era militante do PCP.
Para já, a capa é gatefold, ou seja, dupla, o que não era habitual nos LPs portugueses, por ser mais cara.
Na "colaboração instrumental" participa - vejam lá - Herman José, no baixo. Os arranjos e a direcção musical é de Júlio Pereira que também toca guitarra acústica, viola eléctrica e moog. Há ainda Fernando Tordo nos coros.
A faixa "Portugal Vencerá" é a versão portuguesa da canção revolucionária cubana "Patria O Muerte - Venceremos". "Constitui ainda - diz-se no disco - uma justa e necessária homenagem ao povo de Cuba, na sua luta pelo socialismo e pela edificação do poder popular. Para as massas trabalhadoras portuguesas a alternativa é também "Pátria ou Morte".
Escreve ainda José Jorge Letria: "É urgente vigiar. As hienas e os chacais, os carrascos do povo, os cães de fila do grande capital procuram uma aberta para atacar. Trazem com eles a morte e a miséria, o silêncio e a amargura. Calarão, sem hesitar, a voz dos resistentes. Semearão o fogo e a tristeza em cada milímetro da nossa esperança violentada".
Que violência de linguagem! Eram aqueles tempos...
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26 comentários:
"É urgente vigiar. As hienas e os chacais, os carrascos do povo, os cães de fila do grande capital procuram uma aberta para atacar. Trazem com eles a morte e a miséria, o silêncio e a amargura. Calarão, sem hesitar, a voz dos resistentes. Semearão o fogo e a tristeza em cada milímetro da nossa esperança violentada".
Ah! Valente! Onde estás agora, José Jorge?
Que valem essas palavras apocalípticas, após trinta anos de marcha atrás que só nos conduziu à liga dos últimos?
Achas mesmo, caro José Jorge que o povo a mandar em cooperativas e unidades colectivas de produção, conseguiriam produzir, sei lá, um disco como esse em que cantavas essas balivérnias importadas do embuste geral do colectivismo estatizado?
Ah, José Jorge. Como tu, houve ( e ainda há) muitos, a acreditar que "é preciso acreditar, é preciso acreditar!"
Ainda acresitas, José Jorge?
Nota que é com simpatia que escrevo isto, mesmo que nem pareça...
Este disco mais coisa menos coisa, é do tempo da gravação do Fernandinho vai ao vinho, do Júlio Pereira, um dos LP´s seminais da música popular portuguesa, com raízes lá de fora.
É de 1976 e também lá cantam, o Herman e o Zeca Afonso.
Tempos heróicos da resistência ao...quê, afinal?
Hoje mesmo, no carro, em 20 minutos, ouvi parte do LP do Júlio Pereira, na parte em que canta " já Pensava nessa altura que o desporto era importante; por estranho que pareça, ouvia a todo o instante: ah! se o Benfica ganhar, vamos então passear!"
E a toada era de música popular portuguesa.
Bom disco.
"Contra a ideia de violência, a violência da ideia", trocadalho do carilho, do Luís Cília
A dimensão apocalíptica da tolice foi com o tempo reduzida à dimensão apocalíptica do ridículo.
O Letria está agora com o "melhor Governo dos últimos 30 anos". Gosto deste disco e detesto esta fase do José Jorge
Apenas um exemplo de mtº má música, como sempre foi apanágio de JJL. A política está lá apenas para disfarçar... E ajudar a vender o que, de outro modo, não venderia.
Até o Aristides, dissona...caro José Jorge.
De quem eu gostava, era do Alexandre O´Neill. Esse, não se entregava por um prato de lentilhas, ou se o fazia, era com humor ácido.
Um herói.( mas nem tinha filhos, acho.)
As fases do Letria eram todas iguais: más. A música era apenas um pretexto, e por isso mesmo inexistente.
Para quem vos ouve (lê) parece que não viveram os tempos do PREC. Se calhar não viveram, por não terem idade para isso e estarem ainda enredados nas saias das vossas mães, com medo, sei lá, de algum feroz comunista, comedor de criancinhas. Mas qualquer português com mais de 50 anos, independentemente da sua conotação política ou maneira de pensar deveria saber que aqueles anos de excessos existiram pela simples razão de que alguém lhe ofereceu, de mão beijada, uma coisa que não há dinheiro no mundo que compre: essa coisa chama-se liberdade e não é uma palavra vã; é graças a ela que por exemplo todos nós sem excepção podemos estar para aqui a opinar, a dizer bem ou a dizer mal. Neste caso a dizer mal. Que o lado musical do JJ Letria nunca valeu um tostão furado é uma opinião mais ou menos partilhada por que tem algum gosto musical. Mas estar a atacar o homem pelas sua atitude política durante o período revolucionário é não compreender sequer o significado daqueles anos. Enfim, adiante. Por coincidência comprei esta semana o 1º livro com assinatura do visado. A escolha, confesso, teve mais a ver com o título do livro ("Amados Cães") do que popriamente com o autor. Mas no fim da leitura (uma hora é mais do que suficiente para acabar de ler o livrinho) dei por mim a ter um pensamento de agradecimento para com o JJ Letria, por me ter dado a conhecer todas aquelas histórias e memórias.
Era apenas esse testemunho que aqui vos queria deixar, e já agora este excerto da obra:
«Se houver, como dizem que há, um Céu dos Cães,
é lá que quero ter assento, a ver a luz a minguar no horizonte,
com a sua palidez de crepúsculo num retrato da infância.
Hei-de então bater à porta e pedir para entrar,
e sei que eles virão, contentes e leves, receber-me
como se o tempo tivesse ficado quieto nos relógios
e houvesse apenas lugar para a ternura,
carícia lenta a afagar o pêlo molhado pela chuva.
Então poderemos voltar a falar de felicidade
e de mim não me importarei que digam:
teve vida de cão, por amor aos cães. »
Liberdade? "Ai, só há liberdade a sério quando houver, a paz, o pão, habitação, saúde, educação..."
O post de Nowhere dá-me ensejo a uma declaração de interesses.
Mas, para já, devo dizer o seguinte: tenho a honra de ter participado no 25 de Abril, militar e civilmente. A grande imagem que retenho é a de um cartoon, presumo de um jornal sul-africano, de uma lata de sardinhas que se abre. Foi o que aconteceu em Portugal. De repente, foram os excessos (explicáveis) de um povo oprimido.
Mas adiante.
A minha declaração de interesses tem a ver com José Jorge Letria.
Não sou amigo de peito dele, mas sou amigo.
Conhecemo-nos antes do 25 de Abril, esteve refugiado em minha casa numa perseguição da GNR, partilhámos em dada altura a mesma namorada.
Sempre gostei dele, como músico, letrista e intérprete, quando todo a gente dizia que não cantava nada ("Até Ao Pescoço" está ao nível de um José Afonso).
Não temos relações regulares, mas sempre que preciso de algo sobre música portuguesa é logo com ele que vou ter. Sim, é um ídolo.
E sim, odeio cães, mas também comprei "Amados Cães" para oferecer ao meu filhote mais velho que tem 3 no meio da Irlanda.
Sim, José Jorge Letria teve a sua fase, mas também Sócrates foi do PSD, Durão Barroso do MRPP, Pacheco Pereira da OCMLP, Mário Lino do PCP, Zita Seabra do PCP, Alberto Costa do PCP, Jorge Coelho da UDP, eu sei lá...
LT
No comments quanto à partilha da namorada, mas todo o apreço e respeito quanto à declaração de interesses.
Nowhere man: obrigado pelo esclarecimento, estávamos mesmo a precisar. Mesmo assim, com mais de 50 anos, com envolvimento no período pré e pós 25 de Abril (portanto creio que preencho os pressupostos), julgo que não estou inibido (como não estava na altura) de considerar a música má e a peroração tola. Sem juízos quanto às opções políticas.
Caro Ié-Ié:
Limitei-me a fazer um comentário s/ a qualidade musical de JJL, que mantenho. É um exemplo da forma como as posições políticas, em determinado momento extremado da História, tb serviram para caucionar o mtº de mau que se fez na música, arte, literatura, etc, e a ignorar ou desprezar o que outros, com posições contrárias ou s/ envolvimento político activo, faziam ou tinham feito de bom. Mas é natural que assim tenha acontecido - tb embarquei, por vezes, nesse nº, e por isso sei do que estou a falar - e recomendo aos mais novos, que por lá não passaram, que não analisem a História à luz dos valores da sociedade democrática e estabilizada de hoje. Arriscam-se a ser sectários em vez de radicais... Quanto ao resto, até a Esther Mucznich e o Zé Manel Fernandes foram da UDP!!!
Abraço
"E sim, odeio cães (...)"
Então e a Suki?
NS (nascido em Jun-74)
Estou fora disso tudo. Para mim, liberdade é outra coisa, bem mais simples.
Eram tão sectários e cegos os do Antigo Regime quanto os que lhes sucederam. Quantos portugueses não foram perseguidos e espoliados no pós-25 de Abril sem fazerem mal a ninguém? Quantos notáveis acervos de rádios não foram destruídos em nome do sonho, da nova ideologia? E o que dizer de tiranias como aquela que o senhor José Saramago levou a cabo no Diário de Notícias?
O meu avô, comunista confesso, Secretário de Estado da Cultura no Governo Vasco Gonçalves, tentou lutar contra todas essas injustiças. As novas injustiças, as novas censuras, as novas não-liberdades! Em vão. Não há meio termo. Ou se está de um lado ou de outro.
Não! Não existe religião ou ideologia que me leve ao sacrifício do meu intelecto. Estou pronto para participar, ajudar, ser solidário, mas não contem comigo para encher o bolso dessas frutas podres, como lhes chamava o coerente sr. Álvaro Cunhal.
JJL, não. GAC, sim. Mesmo nos sectarismos,compreensivelmente movidos por uma conjuntura histórica, era possível fazer música brilhante. O GAC é o exemplo!
Ah! Só para terminar... obviamente tenho todo o respeito por aqueles que seguiram o seu sonho, lutaram por ele, mesmo que a recompensa tenha sido pouca.
Caro, Ié-Ié, tem todas as razões do mundo para sentir-se orgulhoso por aquilo que fez. Melhor fazer do que ficar na contemplação segura e burguesa, a criticar!
Passei, li e pensei: e se também metesse o bedelho?
Até porque, concordo genericamente com o que escreve "Nowhereman", e de alguma forma, tocou-me o quue ele escreveu.
Também tenho o "Até ao pescoço" e considero-o, não ao nível do Zeca, mas interessante o bastante para o ter comprado.
Depois...bem depois veio o 25 de Abril e as minhas ideias tinham pouco a ver com as do JJL. Tenho-lhe apreço como homem, tal como tenho apreço por todos os que lutam pelas suas convicções, mas essas não eram as minhas. Tenho-lhe apreço porque aprecio a coerência, e o JJL antes do 25 de Abril, manteve-se o mesmo depois dessa data. E como decerto acontece com ele, essa terá sido uma das datas mais importantes da minha vida, porque foi nessa data que alguns homens notáveis, conquistaram para mim (a minha contribuição foi quase dispicienda, o que lamento) e para os que me são queridos, uma liberdade com que todos sonhávamos e muitas vezes pensávamos não passar de uma quimera.
Já agora, e como veio a talhe de foice, apesa de não apreciar especialmente a música panfletária, penso que, como diz o filhote, os GAC tiveram uma produção notável.
P.S.- Passados tantos anos, recalcar que A ou B foram do PCP como se isso fosse pecado, é quase ridículo, tanto como continuar a agitar o espantalho do comunismo.
Vergonha mesmo, era ter pertencido à Acção Nacional (e mesmo alguns desses nem sabiam no que estavam metidos) ou à Pide.
"Vergonha mesmo, era ter pertencido à Acção Nacional (e mesmo alguns desses nem sabiam no que estavam metidos) ou à Pide."
Para mim, a vergonha é igual e explico porquê.
A PIDE prendia por motivos políticos e torturava, embora com brandos costumes.
A KGB e a STASI que o PCP adulava ( é preciso usar as palavras certas), prendia por motivos políticos e matava. Matou milhares e milhares e milhares. Deportou milhões. Aniquilou a vida de milhões.
Comissão Prévia, Censura, cerceava a liberdade de expressão, reprimindo, através de cortes cirúrgicos a comunicação social.
Nos regimes que o PCP adulava ( a palavra certa é para se usar), havia Censura, repressão ideológica e muito mais restrição de direitos do que por cá.
Estes, são factos. Não são fantasias.
Quem continua a insistir em distinguir ditaduras, em modo de preferências pessoais, erra, a meu ver.
Oh meu caro José, mas a diferença reside em que o PCP nunca esteve no poder, pelo que nunca se poderá afirmar sobre o que faria se estivesse em tal situação. Fazê-lo não passa de um mero processo de intenções.
Portanto, para mim só há uma certeza, a de que vivi debaixo de uma ditadura que tinha ao seu serviço uma polícia política que prendia e executava a seu bel-prazer, uma justiça que era um arremedo de justiça - quem, dos que viveram aqueles tempos esquecerão os famigerados tribunais plenários - e uma censura que só não nos vasculhava o pensamento e os sonhos porque não podia.
E de tudo isso eu não me esqueço, e espero que nunca mais este país volte a passar pelo mesmo.
E é isso que suponho que os autóctones dos outros países que menciona desejam para eles também.
É v. erra, caro José, porque contraria o que tinha acabado de afirmar ao distinguir ditaduras, - "Nos regimes que o PCP adulava ( a palavra certa é para se usar), havia Censura, repressão ideológica e muito mais restrição de direitos do que por cá" -. Até talvez possa ter razão, mas é difícil comparar realidades tão diferentes. Ditadura é ditadura. Ponto. E quanto à censura cirúrgica... como dizia o "outro" "é um suponhamos"... Mtªs vezes lá morria o doente da cirurgia!
O PCP nunca esteve no poder, mas houve para aí dois meses em que a coisa parecia ajustar-se.
Eu lembro aos esquecidos, porque essa época, vivi-a muito bem e lembro-me ainda melhor. Não falo de cor...
Em Julho de 1975, o alucinado Vasco Gonçalves veio à TV ( depois de ter gabado a Itália e a Suécia como modelos!), dizer que havia para aí "uns pasquins", uns jornais reaccionários que não compreendiam o esforço do PREC que ele defendia, e que eram ( nomeou-os um a um, na tv que me lembro muito bem): O Expresso; o República e o Jornal Novo.
Esses. Nem se lembrou de citar A Rua, ou O Diabo ( este foi proibido e teve que sair com outro nome durante uns tempos...).
Isso foi um lampejo daquilo que nos esperava. Censura? Qual quê? Vigilância revolucionária.
Vocês recusam-se a ver a realidade, mesmo com todos estes anos de distância e com o que se passou em 1989, no bloco de leste?
É possível continuarem com a utopia negacionista e vir dizer que o PCP nunca foi poder e por isso não sabem como seria?!!
Não sabem?! Querem mais exemplos? Têm alguma pequena dúvida acerca de "como seria"?
Aliás, têm alguma dúvida de que haveria execuções revolucionárias como nunca houve no tal "fassismo"?
Epá! Acordem!
E olhem que escrevi aí acima que nem gostava da merda da AD nem do Sá Carneiro.
E não admito a extrema direita como modelo seja para o que for.
Portanto...
Eu só queria uma coisa decente que aproveitasse o que o "fassismo" tinha de bom ( porque tinha algumas coisas de bom, é preciso agora dizê-lo e cada vez mais).
Mas ao mesmo tempo, nunca me deixei iludir como esses heróis que citaram e que andaram pelas UDP e OCMLP e o diabo a sete.
Há uma via democrática que poderíamos ter seguido, como os espanhóis de Adolfo Suarez e o Rei, seguiram: a moderada.
É isso que defendo, defendi e defenderei. A honestidade como valor e a rectidão de princípios democráticos como bandeira.
A ver:
O fascismo tinha coisas boas? Pois, se calhar tinha, eu é que nunca dei por nada.
Por mim, é igual: o que se passava por cá e o que se passava na URSS ou na Roménia, ou na RDA. Às ditaduras só distingue o nome, o resto é igual. Para mim, a única diferença é que a uma sei ao que sabe, da outra só lhe senti a sombra.
P.S.- Já agora, e uma vez que procura pontos positvos, não esqueça a educação (ainda agora se nota na qualificação que trazem os ucranianos, moldavos e outros que por cá vão aparecendo), que nesses países ao menos, era bastante mais atenta do que cá, onde convinha manter o povo na ignorância
Luís Pinheiro de Almeida é amigo de JJL e escolheu o tema "Tango dos Pequenos Burgueses" como um dos 5 temas da sua vida no âmbito da rubrica "50 Anos de Canções Portuguesas" da Antena 1.
Já agora o outro tema já divulgado foi "Amor Novo" de Luís Rego.
Será que alguém sabe quais são os outros 3 temas ?
Conheço o LPA, posso perguntar-lhe.
LT
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