sexta-feira, 26 de outubro de 2007

VICTOR GOMES, O REI DO TWIST


Victor Gomes e os Gatos Negros foram os grandes vencedores do primeiro grande concurso de ritmos modernos que se realizou em Portugal.

O concurso teve por título Rei do Twist e foi organizado no Teatro Monumental, em Lisboa, por Vasco Morgado, o único empresário de então com direito a essa designação.

A final realizou-se no dia 07 de Setembro de 1963 e nela participaram Victor Gomes e os Gatos Negros, Nelo do Twist e o seu Conjunto e Fernando Conde e os seus Electrónicos. A apresentação foi de Henrique Mendes.

O júri era constituído pelos maestros Tavares Belo e Costa Pinto e pelo compositor Jerónimo Bragança.

Em palco, Victor Gomes, todo ele - incluindo luvas - de cabedal preto vestido, dava saltos felinos "à Tarzan".

A Imprensa deu ampla cobertura ao evento.

Escreveu "O Século":

A elegante sala do Saldanha - cuja lotação estava esgotada - apareceu com o aspecto de um estádio onde se disputasse uma rija peleja desportiva: os adeptos dos conjuntos musicais em concurso faziam pender dos camarotes vários dísticos proclamando a supremacia dos seus preferidos e entoavam-lhe os nomes em coro entusiástico de grito de guerra.

O espectáculo decorreu, porém, na melhor ordem. Vibração, frenesi, nervos excitados, doentes - mas tudo se resolveu com alguns esgares e piruetas, mais ou menos acrobáticas, cadenciadas no ritmo sem melodia, que muitos acusarão de ser um ruído como outro qualquer, mas que entusiasma a mocidade cabeluda e nevrótica das mais recentes gerações.


E o "Diário Popular":

Esta onda (twist) que há três anos anda na Europa e está já a desaparecer, chegou agora a Portugal (...) Filas inteiras dançavam e a certa altura o pessoal do teatro teve de ameaçar alguns mais entusiastas de que os mandava pôr na rua se prosseguissem na exibição.

A juventude portuguesa, porém, está longe de se entregar aos divertimentos como o fazem os franceses, os italianos ou mesmo os londrinos, que esquecem tudo e têm causado prejuízos sérios em salas e teatros dos seus países. Os "blusons noirs" portugueses não assustam e limitam-se a dançar e a aclamar com palmas e gritos a vitória dos seus ídolos.

No final do espectáculo, a Polícia teve de novo que intervir para evitar que que a juventude fosse para o palco dançar. mas mesmo assim umas largas dezenas de rapazes e raparigas "twistaram" entre clamores e aplausos, sendo imitados nos corredores e nas coxias por "furiosos" que não se contiveram perante os apelos dos acordes lançados no ar pelas guitarras eléctricas e pela voz estentórica de Victor Gomes e os seus Gatos Negros, os reis do twist de 1963
.

E a "Plateia":

Victor Gomes, logo que terminou a sua actuação, tinha assegurado o título de Rei do Twist, pois será difícil, seja onde fôr, na América ou na França, encontrar alguém que possa interpretar muito melhor este ritmo trepidante que caracteriza bem o dinamismo do nosso século.

E "O Século Ilustrado":

Embora já atenuada nos restantes países da Europa, a onda do twist invadiu agora Portugal. Fruto de uma organização de Vasco Morgado, surgiram os sábados do twist, no Monumental, cujo fim era a eleição dos reis desta curiosa e bem contorcida dança para o ano de 1963.

E, finalmente, a "Flama":

Victor Gomes é exuberante, fantasticamente desenvolto e possui uma auto-confiança notável.

Victor Manuel dos Santos Gomes nasceu em Lisboa a 06 de Fevereiro de 1940, no Alto do Pina. Aos 4 anos partiu com os pais para Lourenço Marques. A mãe, Maria Duarte Santos, foi, em 1948, segunda classificada no concurso "Rainha do Fado de Moçambique" e uma tia, Cecília Santos, foi cançonetista do Rádio Clube local.

Dos 7 aos 15 anos, Victor Gomes frequentou um colégio de padres salesianos na Namaacha.

Depois, segundo a "Flama", a sua vida tornou-se um contínuo desbobinar de emoções alternantes: actor teatral, cançonetista no Rádio Clube de Nampula, mecânico de automóveis em Lourenço Marques, pugilista profissional (sete combates na écurie de Tafoi), hoquista em defesa das cores de Malhangalene, Desportivo e Sindicato (ao lado dos mundiais Adrião, Bouçós e Velasco), futebolista no Sporting Clube de Nampula (companheiro de Eusébio na selecção de Moçambique) e, durante dois anos, caçador profissional de caça grossa.

Possuía três armas e um jeep: internava-se no mato e por lá passava semana a fio. Abateu búfalos, antílopes, jacarés, javalis, zebras, macacos-cães e hipopótamos e traficava com os nativos a carne seca.

Percorreu a Rodésia, Congo ex-belga e África do Sul cantando e caçando: na segunda faceta actuou ao lado de Cliff Richard e Marty Wilde, venceu um concurso de "caloiros do ritmo" e traçou Angola do Norte a Sul, cantando para militares e civis.

Em 1963 apareceu na Metrópole. Descoberto por Vasco Morgado na parada de artistas que desfilaram no festival de homenagem a Freddy, teve a sua grande oportunidade no Concurso do Rei do Twist que venceu.

Pouco depois, a estrelinha deixou de brilhar. Já não participaram no Concurso Ié-Ié, também no Monumental, e foram eliminados no dia 20 de Setembro de 1963, do Concurso tipo Shadows, no Cinema Roma, enquanto Nelo do Twist foi à final e Fernando Concha (com o Conjunto Mistério) foi o vencedor.

Agastado, voltou a Moçambique, prometendo que regressaria em grande, o que não viria a acontecer.

Em 1993 foi publicado um CD, "Victor Gomes e o Regresso do Rei do Rock" (já não do twist) com versões actualizadas de "Juntos Outra Vez" e "Há-de Voltar" e outras 12 canções, entre as quais interpretações de "Kanimambo" e "My Way" (em português).

8 comentários:

Anónimo disse...

No texto onde se lê FERNANDO "CONCHA" e os seu ELECTRÓNICOS, não será exactamente FERNANDO CONDE e os ELECTÓNICOS?

Carlos José Santos

ié-ié disse...

Obrigado, correcção feita!

LT

Anónimo disse...

enviem-me por favor estas músicas "Juntos Outra Vez" e "Há-de Voltar" para o meu mail ou se por acaso exitir no youtube digam-me onde encontrar...
abraços
Fernando

macielhrt@hotmail.com

O Fantasma da Ópera disse...

Olá Carlos Santos. Não, era fernando conde e os seus electrónico. À època "SEUS tinha muito a ver com posse e a malta da banda não gostava. Se fosse "OS" queria dizer que não lhes pertencia mos. Curioso, mas era +/- assim. Coisas de miudos de 15 anos.

O Fantasma da Ópera disse...

Olá caro anónimo
eu tenho as em vinil (1 dos 10 primeiros que sairam) poque eu gravei esse disco com o Vitor e integrava na altura "Os Siderais".
Curiosidades:-
Essas musicas foram compostas na escada que dava acesso à entrada dos artistas no velho Maxime.
Tenta sacar no my space do victor Gomes.
Carocha
Pergunta sempre

Anónimo disse...

Infelizmente não consigo encontrar na NET a musica Juntos outra vez.
Haver+a uma alma caridosa que queira (ou possa) satisfazer um pedido? e enviá-la para:
beiraosolitario@gmail.com
Um grande, grande abraço...
Com agradecimentos!

Carlos Carvalho disse...

Boas.
Conheci o Vitor Gomes em Tete, Moçambique no inicio dos anos 70 tinha eu uns 10 ou 11 anos, mas há coisas que não se esquecem. O Vitor Gomes vivia na época com uma senhora sul africana (ou rodesiana) ao pé da casa de um amigo meu. Via-o também a cantar no Aeroclube de Tete aos sábados à noite onde havia sempre baile abrilhantado por ele e por uma banda local chamada os Roamers!
Sabem-me dizer se o Vitor Gomes ainda é vivo.

Abraço

ié-ié disse...

sim, ainda é vivo e, de quando em quando, ainda canta!,
obrigado!