terça-feira, 23 de outubro de 2007
ARRIBA, BEE GEES!
Sempre me custou ver os Bee Gees sistematicamente vilipendiados pela pseudo-inteligência nacional. OK, concedo que na parte final da carreira, nos anos 80, a coisa era mais ou menos deprimente, mas isso não mancha definitivamente o colectivo.
Para dar algum conforto aos que imaginam que ouvir Bee Gees é engolir sapos, aqui vos deixo um texto do "Em Órbita", de 15 de Junho de 1967, na rubrica "Arquivo-Dito":
New York Mining Disaster 1941 (cujo EP português, Polydor 60 029, encima o post) é uma gravação que sempre nos cativou. O som dos Bee Gees revela uma nostalgia patente nos primeiros tempos da sonoridade beatleniana.
Todavia, convém notar que o som dos Beatles já pertence ao património comum da música popular anglo-saxónica. As influências têm portanto essa porção de legitimidade. Para além disso, há muito para observar nesta gravação e em especial o escrúpulo interpretativo dos seus criadores e o chamatismo da sua parte lírica.
Nela se conta numa linguagem simples a história cheia de simbolismo de um desabamento de terras no interior de uma mina. É a história dos que ficaram emparedados, dos condenados à esperança, ao silêncio, às recordações do mundo exterior.
New York Mining Disaster 1941 terá, quanto a nós, apenas essa falha: o tom trágico da sua narrativa que nem por ser um facto real e vivido deixa de ser um facto que convida à especulação de tipo sentimental.
New York Mining Disaster 1941 trata um assunto de aceitação imediata. Um tema demasiadamente eloquente. Peca por demasiadamente descritivo. É um tema para poetas acabados, não jovens inconformistas e com fé.
Para além disso, há um número considerável de qualidades potenciais a observar com justificado optimismo.
Tal foi o que dissémos numa apreciação isolada de um único single da 1ª gravação dos Bee Gees. O que então se disse mantém plena validade. Destacamos apenas que hoje, já com três singles e um LP, a formarem um contexto, estamos plenamente satisfeitos por termos chamado a atenção para este grupo que já deixou de ter apenas qualidades potenciais.
Hoje em dia os Bee Gees fazem boa música e gozam de formidável reputação em Portugal e em todo o Mundo.
Já agora que falamos do "Em Órbita", ofereço um pirolito com bola a quem souber qual era o primeiro indicativo do programa e como, a dada altura, o programa terminava. Fico à espera.
Hei-de voltar com mais textos.
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14 comentários:
Luís:
Hoje já não há pirolitos, muito menos com bola e nem me lembro de ver imagens( da fábrica José Maria de Carvalho da Lourinhã), mas agora também é fácil saber essas coisas, rapidamente.
A primeira emissão do Em Órbita abriu, em 1.4.1965, com Kind of girl dos Zombies e o indicativo era..Revenge, dos Kinks, certo?
Se acertei, digo-lhe como soube.
Claro que era o Revenge, que já vinha do Ritmo 64. :-)
oi aqui, de onde aliás roubei este texto:
"No dia 1 de Abril de 1965, um pouco depois das sete horas da tarde, Pedro Castelo anunciava, após alguns acordes do instrumental “Revenge”, dos Kinks, composto por Ray Davies e Jimmy Page (que não era membro do grupo mas que levaria, mais tarde, os Led Zepelin à glória) na frequência modulada (uma novidade) do Rádio Clube Português, “Em Órbita”: “um programa feito por nós e dito por mim”. Não sei se a frase foi dita logo na abertura do primeiro programa, ou mais tarde por Cândido Mota o seu apresentador nos anos subsequentes, mas sei que se tornou frequente, ao longo dos anos, e é isso que importa. Uma frase que funcionava como se de uma assinatura, uma síntese se tratasse, encapsulando em si um novo conceito ou parte dele: não estávamos perante um programa que promovia “estrelas da rádio” (muito comuns na época), quer fossem os seus autores ou o apresentador (na altura dizia-se “locutor”), mas anunciava, isso sim, uma certa radicalidade, um corte com a tradição de falsa intimidade com o ouvinte, tantas vezes expressa, pelos chamados “locutores da voz doce” e suas companheiras de emissão, no “amigos ouvintes, muito boa noite; somos a vossa companhia durante estes próximos minutos”.
Radicalidade, intransigência, fidelidade aos princípios definidos pelos seus autores (Jorge Gil, João Manuel Alexandre e Pedro Albergaria, entre outros) sem qualquer tentativa de ir “ao encontro do gosto do público”, era este o conceito, o que só era “permitido” por se tratar da rede de frequência modulada, algo que, ao tempo, era uma novidade que só um número limitado de receptores possuía, o que a tornava numa frequência elitista e o custo da respectiva emissão, e da publicidade que a mantinha, substancialmente mais baixos e acessíveis a um maior número de anunciantes. Aliás, até no caso da publicidade o “Em Órbita” foi de certo modo pioneiro, pois, se bem lembro, tinha um patrocínio único seleccionado pelos próprios autores do programa com “spots” adaptados ao seu “mood and tone”, o que, longe de ser um acaso, era essencial à apresentação da sua unidade conceptual."
A Rede é um manancial de informação disponível, hoje em dia.
Por isso é que não adianta muito andar a escrever coisas sobre música e outros assuntos que outros bem melhor do que nós já o escreveram.
Aquilo que não escreveram foi tudo o que tem a ver com a nossa experiência pessoal.
E foi por isso que incentivei o yardbird a fazê-lo. Além do mais, tem um estilo de escrita muito interessante.
AQUI
Não percebo porque é que o html não entra. Mas foi num blog- eusouogatomaltes.blogspot.com
Sim, sim, mas como acabava?
Luís
Ora aí...i can´t get no satisfaction.
Como na altura havia muitos programas a tentar imitar o "Em Órbita" (o "Página Um" era um deles), o "Em Órbita", à laia de provocação, terminava com "Catch Us If You Can", dos Dave Clark Five.
Luís
O pior é que não se ficavam pela imitação. Alguns tinham a lata de gravar as músicas e retransmiti-las como se fossem novidades deles, até porque transmitiam em onda média onde se centrava a maioria esmagadora dos ouvintes, enquanto o Em Órbita transmitia em FM, uma novidade.
Se se lembram, às tantas a solução que se encontrou para evitar este abuso, foi meter o locutor a fazer a apresentaçao da música uns segundos depois dela começar. Logicamente, a gravação ficava estragada, e o humor dos abusadores um bocado por baixo.
A propósito deste assunto, o dos Bee Gees, no qual já pensei algumas vezes, hei-de escrever o meu ponto de vista, embora já tenha escrito sobre o assunto, mas numa perspectiva diferente.
Eis o que escrevi antes:
Na música, como afinal em tudo na vida, há sempre motivos de sobra para que nos surpreendamos.
Não há ninguém perfeito, e qualquer um de nós sabe que, no seu íntimo, em várias situações foi faccioso, injusto, tendencioso. Quem poderá dizer que uma vez na vida não teve dois pesos e duas medidas?
O que hoje aqui trago, na minha opinião, é muito curioso e exemplificativo do que afirmo: trata-se da manifesta dualidade de critérios com que determinadas correntes avaliaram em épocas diferentes, dois grupos muito semelhantes: os Bee Gees e os Scissor Sisters.
Gostei dos Bee Gees numa primeira fase, em que o grupo apresentava uma música bem construída e que se inseria perfeitamente no que de melhor se fazia então no âmbito da música anglo-saxónica. Teve dois ou três Lp’s de muito boa qualidade, um dos quais o que ilustra o post, e que continham músicas que marcaram uma época.
Mas no início dos anos 70, vem o declínio do grupo, que vê a sua criatividade definhar, e o consequente afastamento dos tops. Na altura, previa-se mesmo o desaparecimento do grupo marcado pelos 3 irmãos Gibb. Porém, o advento do “disco-sound” traz consigo uns Bee Gees reconstruídos, que terão conhecido então o pico mais alto da fama com músicas como “Stayin’ Alive” ou “You should be dancing”.
Mas grande parte da crítica não era nada favorável e apontava o grupo como sendo demasiado comercial e definitivamente rendido aos cifrões. Confesso que a mim também nunca me agradou esta fase (nem as seguintes) da música dos Gibb, em que se abusava dos falsetos e da falta de imaginação.
Ora é aqui que a coisa não bate certo: há uns tempos apareceu um grupo, Scissor Sisters, que sendo um quase decalque dos piores tempos dos Bee Gees, têm uma crítica muito favorável
Agarrem-nos se puderem. Grande slogan! E malta nova, com certeza.
Um espírito emulativo interessante que já não se vê muito por aí.
Ouvi dizer que o Jorge Gil gravou os programas em bobine. Mesmo passados 40 anos, se o tipo for tão picuínhas como dizem, devem ainda ter aproveitamento.
Mas...o que é feito dele?
Tenho uns minutos gravados em cassete do À Sombra de Edison e acho ainda um portento: excertos de bandas sonoras, textos curtos, música erudita, pop, new wave etc.
Ouço uma passagem de Margueritte Duras a recitar L´Inde e fico admirado porque foi algo que nunca mais ouvi.
Rádio a sério, é isso.
Não me venham falar em xaropadas tipo Pâo com manteiga, por muito respeito que tenha pelo Carlos Cruz radialista.
Bee Gees. O falsetto de Maurice Gibbs é quase tudo, porque a maior parte é o talento de composição. Tal como os Sparks, com Ron e Russel Mael.
Durante anos, tentei escolher um álbum completo e que me permitisse dizer que os Bee Gees eram um grande grupo.
Cheguei á conclusão que é mesmo Saturday Night Fever. Isso apesar do Words, I started a joke e don´t forget to remember e ainda mais que não recordo.
Eu sou doida por eles.
E o magnífico Odessa terá sempre de estar onde eu estiver!
O "Odessa" teve agora uma edição especial!
LT
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