No dia 03 de Outubro de 1965 - fez agora 42 anos - realizou-se no Teatro Monumental, em Lisboa, a 10ª eliminatória do Concurso Ié-Ié ("um concurso de gente nova para o público de todas as idades"), organizado pelo Movimento Nacional Feminino a favor das Forças Armadas no Ultramar (era a linguagem da época).
Ainda hoje estou para perceber a razão por que coube à extrema-direita portuguesa organizar um evento que, à partida, tinha tudo a ver com a rebeldia e com a contestação do sistema, mormente a guerra colonial. Do júri, faziam parte colegas meus conotados com a extrema-direita da minha Faculdade...
Enfim, vá-se lá saber porquê, mas ainda tenho esperanças de tirar isso a limpo.
Considero fascinante esta minha ideia de ir colocando aos poucos e poucos as eliminatórias do Concurso (até onde tiver informação). Assim, faço render o peixe!
Nesta 10ª eliminatória, participaram os Guitarras de Fogo (Caparica), Invisíveis (Lisboa), Corsários Negros (Águeda), Penumbras (Olhão) e Tártaros (Porto).
Como se pode ver, o concurso era mesmo nacional.
Para ilustrar esta anotação escolhi uma (péssima) fotografia dos Invisíveis. É que se não se perceber nada, fica cabalmente justificada a designação do conjunto.
Quem venceu esta eliminatória? Desculpem, mas terão de me acompanhar até ao fim.
Já agora, comecemos pelos Invisíveis. Eram 4 (vê-se na fotografia?): José Luís, 20 anos (agora tem 62), viola solo, Helder Coelho, 17 anos (agora tem 59), viola ritmo, Carlos Fernandes, 16 anos (agora tem 58), viola baixo, e Tony, 18 anos (agora tem 60), bateria. Que será feito deles?
Trajo característico: camisola negra de gola alta com a inicial I em branco, calças de bombazina e sapatos também pretos. Tocaram "The Enchanted Sea", "Summertime" e "Twist N. 2", este último da autoria do grupo.
Segundo a Imprensa da época, tiveram uma "exibição muito apreciável, embora a classificação alcançada tenha sido fraca".
Os Corsário Negros, de Águeda, eram 5. Para não me repetir (e aos que vierem a seguir), à idade indicada somem 42 anos e façam a mesma pergunta: que é feito deles? (pode ser que haja alguém que saiba). Eram eles: Manuel Franklin dos Santos, 18 anos, viola solo, António de Miranda, 17 anos, viola baixo, Manuel da Costa, 16 anos, viola ritmo, José Pedro de Almeida, 17 anos, vibrofonista e vocalista, e Acílio de Oliveira, 18 anos, baterista.
Trajo característico: calça preta, camisola de gola alta também preta com as iniciais CN e botas "à Beatle". Tocaram "Canção Yé-Yé", "Perdido", "Um Sonho, Dois Corações" e "Twist And Shout".
Foram os menos classificados, mas a sua presença não desmereceu os aplausos da sala. Tinham apenas mês e meio de existência, motivo por que, dizem os jornais, não puderam atingir o nível desejado.
Os Penumbras eram formados por José da Cruz, 18 anos, vocalista, Carlos Dias, 18 anos, bateria, António Leal, 19 anos, viola solo, António Granja, 19 anos, viola ritmo, e Francisco da Cruz, , 21 anos, viola baixo.
Trajo característico: camisola negra de gola alta (pelos vistos era moda - também usei uma, mas bordeaux), e blue-jeans escuras. O vocalista, José da Cruz, envergava também um blusão prateado. Tocaram "Don't She Ever" e "I'm The One", entre outras. A Imprensa não lhes atribuiu predicados especiais.
Os Tártaros - esses sim conhecidos nos dias de hoje - eram formados por Eduardo Alves, 19 anos, bateria, Hernâni de Melo, 25 anos (um avô), viola baixo e harmónica, Alberto Abreu, viola ritmo e órgão, e Joaquim Gualter, 20 anos, viola solo.
Particularidade: os Tártatos interpretam apenas música portuguesa. "É uma intenção louvável, tanto mais que a maioria dos conjuntos do género procura as composições estrangeiras".
Trajo característico: fato azul, sendo o casaco com gola de veludo.
Tocaram "Apelo", "Pistoleiro", "Sonho dum Poeta", "Beijos Teus", "Engano" e "Vento", tendo recebido "ferverosos aplausos".
Finalmente, os Guitarras de Fogo, da Caparica, eram formados por Carlos Gândara, 22 anos, viola baixo, António Gândara, 22 anos (seriam gémeos?), viola solo, João Charana, 20 anos, vocalista, e João Ramos, 26 anos, viola ritmo.
Trajo característico: smoking preto, embora não o tivessem utilizado nesta eliminatória.
Sem o vocalista, que estava no estrangeiro, tocaram "Eight Days A Week", "I Don't Want To Spoil The Party" e "Help!" - tudo dos Beatles - e "Memphis". É claro que foram os vencedores! "Os fortes aplausos que sublinharam a actuação foram totalmente justos".
Resta acrescentar que a apresentação desta eliminatória esteve a cargo de Carlos Cruz (ainda um miúdo).
Finalmente, a classificação desta eliminatória:
1 - Guitarras do Fogo - 40,5 pontos
2 - Tártaros - 37 pontos
3 - Penumbras - 13,5 pontos
4 - Invisíveis - 11 pontos
5 - Corsários Negros - 2 pontos
Ah! Já me esquecia, o Monumental já não existe, é claro. Em seu lugar está lá um palácio de vidro espelhado meio alaranjado com o pomposo nome de "Monumental Dolce Vita".
sábado, 6 de outubro de 2007
10ª ELIMINATÓRIA DO CONCURSO IÉ-IÉ (1965)
Etiquetas:
Concurso Yé-Yé,
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10 comentários:
Muito bom o seu blog, parabêns.
Convido desde já a partilhar os links, este blog merece uma boa divulgação. Se quiser deixo desde já o meu endereço
http://cultodovinil.blogspot.com
e aguardo o seu.
Um abraço
Coisas passadas que nem são do meu tempo, mas que gosto de ler para tentar refazer memórias remotas.
O comentário que antecede, é meu. Não sei por que carga de água, aparece o nome Carlos, colega de blog, mas que nada tem a ver com o comentário.
O que mais quero é partilhar informação (dar e receber), mas ainda sou muito nabo nestas coisas da net. vou aprendendo. quero pôr som, links, recomendar outros blogs, colocar mais imagens por informação, etc, etc. dêm-me tempo. Obrigado!
Luís
Parabéns pelo teu blog. Já está nos links o meu blog (Rock Em Portugal)
Aristides
obrigado. logo que souber mexer melhor nesta coisa, incluo o seu blog bem como todos aqueles que tiverem alguma coisa a ver com este tipo de tema. é só eu saber.
Luís
Yé Yé no culto do vinil. um abraço
Obrigado. É uma honra e um privilégio fazer parte do vosso blog. Espero retribuir em breve.
Luís
Gostei imenso do que li e acho que estas a fazer um bom trabalho ja agora para quando a 9 eliminatoria?
Sou de Águeda, e do tempo dos "CORSÁRIOS NEGROS". Pergunta-se o que será feito desses Jovens. Pararam com a musica aquando do serviço militar...como muitos outros naquele tempo! Felizmente ainda por cá andam. Embora os 50 anos que passaram tenham trazido algumas marcas. Especialmente para o António Miranda ! Curiosamente reencontrei ontem o génio do grupo, o Franklin, que se encontra em boa forma. Parabéns pelo v/ trabalho ! Fausto Maia
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