segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A GRANDE FEIRA DO DISCO ERA BARATA

A Grande Feira do Disco era uma discoteca muito especial. Era um misto de pimba (como agora se diz) e de discos de referência (como agora também se diz).

Mas não se limitava à edição nacional. Possuía a sua própria etiqueta - Marfer - e representava e importava muitas outras.

Foi criada em 1960 por José Barata, irmão do Barata da Avenida de Roma (Lisboa), onde a malta encontrava os livros, as revistas e até os discos proibidos. O Barata tinha-os sempre escondidos debaixo do balcão à espera do cliente certo.

(Acho que este é um pormenor pouco conhecido, o da Grande Feira do Disco ser Barata).

Por isso, também a Grande Feira do Disco sabia o que fazia, tornando-se no entanto muito mais abrangente (também é um termo de agora) para atingir todo o tipo de públicos.

Tinha lojas no Porto, Coimbra, Viseu, Alcobaça e Cascais. Em Lisboa, ficava na Rua do Forno do Tijolo, 25-C.

Neste Domingo solarengo passei por lá. Encontrei uma loja fechada (mas não era por ser Domingo), escondida por detrás de vidros com papel e um grande cartaz da Escola de Actores.

Lá dentro duas ou três pessoas de vassoura da mão.

Presumi então que vá lá abrir uma Escola de Actores, com curso livre de representação para teatro, cinema e televisão. Boa!

Vejam lá a quantidade de etiquetas que a Grande Feira do Disco representava. OK, a grande maioria tinha um catálogo duvidoso, para não dizer medíocre (do meu ponto de vista): Vergara, Musidisc, Visadisc, Alma, Marbella, Percola, Bel Air, Kapp, Metro, Discophon, Vega, Time, Ekipo, RGE, Custon, Monitor, Liberty, Atlantic, Clarion, Panorama, Request, Universe, Vox, Blue Ribbon, Forum, Ricordi, Cetra, Pye, Berta, Golpix, Halo, Seeco, International e Alegria.

E agora vejam lá a lista de artistas que gravavam para a Marfer. Só cito os mais conhecidos (ou os que eu conheço), já que ele é numerosa:

Artur Garcia, Ada de Castro, Celeste Rodrigues, Manuel de Almeida, Maria José Valério, Deolinda Rodrigues, Moniz Trindade, Argentina Santos, Tristão da Silva Jr., Daniel Bacelar, Claves, Fernando Maurício e Victor Gomes.

3 comentários:

VdeAlmeida disse...

O Barata era uma criatura indescritível.
Por acaso, o meu primeiro emprego, uma coisa de férias para ganhar uns cobres, pôs-me em contacto, ainda que pouco directo, com o sujeito, quando ele entrou em negociações - que chegaram a bom termo - com os meus patrões para abrir uma discoteca numa loja de electrodomésticos que eles tinham em Campo de Ourique, mesmo ao lado do Cinema Europa.
A discoteca não teve qualquer sucesso, os discos eram antigos e ultrapassados, e as pessoas passavam pela loja e nem sabiam que nos fundos havia uma discoteca.
Mas a experiência deu para saber como aalgumas coisas da música por cá fuuncionavam.
Por exemplo: a revista Plateia organizava o concurso do Rei da Rádio. Ora o Barata era representante do Artur Garcia, que disputava quase sempre o título com o António Calvário (aquilo devia-se chamar o Rei da Piroseira). Então o sujeito mandava 2 ou 3 dos seus empregados comprar Plateias em massa, recortava os cupões e punha o desgraçado do Artur Garcia a preenchê-los e a votar em si próprio.
Embora tivesse uma opinão muito pouco lisonjeira do Garcia, acabei por ter pena dele quando vi que o Barata o tratava abaixo de cão. Era um autêntico capacho do inefável Barata.

josé disse...

Imapagáveis estas histórias. E não julguem que venho aqui luxar lustro ao blog, porque acho mesmo notáveis estas historietas. Já escrevi no blog do yardbird que deveria contar as histórias na primeira pessoa.

Não imaginam como isso é importante, para se perceber o Portugal antigo, de há 40 anos.

A Plateia e também a R&T, eram um nicho do pimbalismo. Gabys Cardosos contra Calvários bichosos e outros que tais como o que tinha dois amores.

No entanto, era o que havia. Portugal era um país sufocado? Era, em certa medida era.

Mas em 1971, em Vilar de Mouros, mostrou-se que havia um outro lado que estava atento aos fenómenos de mudança.

E havia veículos para tal. Já aqui se falou no Em Órbita que nunca ouvi nesses tempos. Havia o Página Um e havia depois de 73-74, os programas em que apareciam os carolas como aqui o autor, que foi responsável pela divulgação de muito boa música.
Conheciam e gostavam de dar a conhecer, partilhando generosamente os gostos e músicas, com outros que a eles não acediam.

Tenho uma dívida, para com essas pessoas, claro que tenho. De gratidão.

ié-ié disse...

Impagáveis, mesmo! Este yardbird é uma peça! Porque não escreve um livro? Ou já escreveu?

A história dele faz-me lembrar o que fazíamos com o José Jorge Letria. Quando um disco dele estava para sair, um grupo de amigos desatava a telefonar para as discotecas a perguntar se o disco já estava à venda.

Perante tal "avalanche" de pedidos, as discotecas reforçavam as encomendas.

ah! ah! ah!

Luís