quinta-feira, 18 de outubro de 2007

ALÔ DIAMANTES NEGROS!


Os Diamantes Negros tiveram a amabilidade de me contactar. Eis o excelente site que produzem: http://www.diamantesnegros.org/.

Quem tiver o bom gosto de possuir a colectânea "All You Need Is Love" (EMI, 2004) tem lá uma canção pelos Diamantes Negros, uma versão em português (o que é raro) de "I Don't Want To Spoil The Party" ("Quero-te Sempre A Meu Lado").

Fora isso, não é fácil ouvir os Diamantes Negros. São um cromo difícil.

Retrato-os aqui através de uma notícia da Flama de 23 de Fevereiro de 1968:

Apesar da sua juventude, os Diamantes Negros, formados há quatro anos em Sintra, foram os vencedores do II Festival da Costa do Sol e realizaram digressões pelo Algarve, Alentejo e Beira litoral. Actuaram já, também, na Madeira, canárias, Espanha, França e Itália.

Os Diamantes Negros são compostos por seis elementos: Carlos Manuel Henriques, organista e viola-baixo. É o único fundador que ainda se encontra integrado no grupo. Tem 20 anos de idade e frequenta o 7º ano liceal. Gosta de ouvir Adamo, Beatles e Monkees. Como escritores prefere Sommerset Maugham e Leon Uris. Carlos Branco, viola-ritmo. Tem 19 anos. É estudante e admirador de Ann Margret. É leitor de Jorge Amado. Luís da Silva Cardoso, viola-baixo. Mestre de uma escola Comercial e Industrial, é fã de Caroll Lindly, dos Bee Gees e de Scott McKenzie. José Raimundo, bateria. tem 28 anos, é desenhador e admira Silvya Koscina e Tom Jones. Francisco Martins, vocalista. É estudante e tem 22 anos de idade. Tom Jones e Rolling Stones têm a sua preferência. Lê livros sobre filosofia e destaca, como autores, Bertrand Russell e Jorge Amado.

Estes são os Diamantes Negros, de Sintra, que têm Victor Ricardo como agente artístico. Gravaram um disco e registarão outro em breve.


Em 08 de Janeiro de 1966 foram à 1ª meia-final do Concurso Ié-Ié no Teatro Monumental, em Lisboa, tendo sido eliminados pelos Sheiks.

Tinham ganho a 3ª eliminatória, no dia 11 de Setembro de 1965, com 34,5 pontos,

1 comentário:

Caínhas disse...

1968 - Acontecimentos e histórias

No quarto ano da sua existência os DIAMANTES NEGROS alcançaram enormes sucessos nomeadamente com as suas participações nas várias eliminatórias do Concurso Académico de Música Moderna promovido pelo CITU.

Nesta página são destacados os principais acontecimentos assim como o historial das actuações realizadas e que foram registadas para a posteridade pelo 6.º Diamante Vítor Ricardo o Manager!
A primeira eliminatória foi "lapidada" como referiu o jornalista!

Mais uma eliminatória do 1.º Concurso de Música Moderna se realizou no Cinema Império, na passada semana, sob o patrocínio do C.I.T.U.
Com uma chusma de assobios e gritaria, foi anunciado o 1.º conjunto: .«Os Barões» de Lisboa. Composto pelo vocalista Tino Borges, estudante de 17 anos, baterista Jorge Faro (empregado de balcão, 17 anos), o viola-ritmo Mário Jorge (estudante, de 16 anos), viola-­baixo Fernando Manuel (funcionário público com. 17 anos) e o viola-solo Luís Ramos (de 15 anos). Muito fiéis ao repertório dos Bee Gees e Beatles.
Segundo conjunto: «Os Hymanns» de Cascais, nados há seis meses, com os seguintes elementos: Cardoso Jacinto, viola-baixo (18 anos e estudante), Z eca Calabês, viola-solo (I8 anos e também estudante), Vítor Elias, víola-ritmo (18 anos, empregado da indústria hoteleira), Jorge Barros, bateria (16 anos, estudante). Decalcaram também o repertório dos Bee Gees e Beatles. Entretanto, no intervalo, por incompatibilidade de génios e opiniões entre alguns es­pectadores do 2.º balcão, houve uma ligeira escaramuça, com ameaça de policia e tudo.Apartados os brigões, as energias recalcadas voltaram a libertar-se na segunda parte d o espectáculo, de maneira muito mais adequada com a actuação dos «Cristais.O 2.º balcão levantou-se e começou a dançar; Na plateia gritava-se. «Os Cristais», são de Lisboa. Jorge Rufino, viola-solo (19 anos, empregado de escritório), António José, baterista (19 anos, técnico de electrónica), Vítor M. Botelho da Silva viola-ritmo (18 anos, empregado de escritório), João Pinho. vocalista (17 anos, empregado de balcão) e Vítor Manuel Santos, viola-baixo (de 18 anos, empregado de comércio).

Mas o grande delírio da sessão chegou. finalmente: entraram em cena os de­sejados «Diamantes Negros». Bem apoiados pela claque e por instrumentos de boa qualidade, muito tropicais nas suas blusas floridas e floreadas, eles participaram já em cruzeiros de Verão, porque o pai dum dos seus componentes, o Xixó, pertence a uma firma de agentes de navegação. Os Diamantes Negros impuseram-se desde logo com grande à-vontade. São eles: Cardos Henriques, o Xíxó (de 20 anos, estudante), viola-solo e organista; Luís Manuel (estudante de 18 anos); viola-baixo; Camena (de 19 anos, estudante) viola-ritmo; José Raimundo (21 anos, desenhador) baterista; Francisco Martins (de 21 anos, estudante) vocalista.

Classificações:

* 1.º - «Diamantes Negros» - 26 pontos
* 2.º. - «Os Barões» - 14 pontos.
* 3.º - «Os Cristais» - 10 pontos.
* 4.º - «Os Hymanns» - 4 pontos.

A FINAL D0 I CONCURSO ACADÉMICO DE MÚSICA MODERNA DECORREU COM GRANDE AGITAÇÃO

Após várias eliminatórias chegou a grande final. Os Diamantes sonhavam com a vitória e ela teria sido possível não fosse o facto de se irem confrontar com um grupo de músicos quase profissionais do Porto. Os "Psico", nome adoptado para este concurso pelos "Espaciais" que tinham ficado mal classificados no "Yé-Yé" do Monumental.Para a história ficam as cenas rocambolescas do espectáculo assim como os prémios para os grupos não terem passado de promessas. Nem os Espaciais foram a Londres, muito menos os Diamantes a Paris.Vale a pena ler o artigo publicado na altura acerca da FINAL (reparem bem no estilo da prosa):

Realizou-se na tarde de ontem, no Cinema Império, a final do I Concurso Académico de Música Moderna. De eliminatória em eliminatória, tinham saído apurados para a última prova quatro conjuntos: «Os Charruas» de Santarém; «Psico» do Porto; «Diamantes Negros» de Sintra e «Equipa 88» de Lisboa.
Antes do espectáculo, o locutor repetiu o que já constava de folhetos distribuídos à entrada: Que nenhum espectador abandonasse o seu lugar durante as exibições; Que as falanges de apoio se não manifestassem indignamente umas em relação às outras; Que se guardasse silêncio durante as actuações, etc. E o aviso era sancionado com a ameaça da interrupção do espectáculo e eventual intervenção da autoridade.
...Mas o publico era constituído quase exclusivamente por adolescentes e o programa compunha-se de conjuntos académicos, tocando «yé­-yé». Que mais ingredientes seriam requeridos para que a sessão primasse pelo bulício, pela excitação arduamente contida pelos agentes da Polícia em serviço - enfim, por uma euforia que, algumas vezes, atingiu as raias do esforço físico- Uma das «claques», a mais forte, a mais bem organizada, apoiava «Os Charruas»: compunham-na alunos da Escola de Regentes Agrícolas de Santarém, que apareceram, em grupo impetuoso, com os seus fatos de trabalho e as suas botas de ofício, exuberantes, alegres, num entusiasmo com o seu quê de agressivo.
O primeiro grupo que o sorteio levou ao palco foi o de Lisboa. Dificilmente conseguiu o locutor acabar de anunciar a sua presença: A violência dos apupos dos adversários e a intensidade dos «fans» no aplauso, geraram uma autêntica rebelião. De repente, porém, essa juventude irreverente, desrespeitadora dos avisos preliminares, ameaçadora nas suas manifestações, provou a seu próprio favor e foi, durante um minuto, o espelho fiel de si própria: O locutor anunciara a morte da mãe de um dos elementos da «Equipa 88» e propusera um minuto de silêncio. Digna, responsável, autêntica, a jovem multidão silenciou e, de pé, prestou sincero apoio moral ao camarada que, do lado de lá do pano, vivia um dia de dor. E este gesto porque de essências desculpou e confundiu todos os que se lhe seguiram, naquelas duas horas e meia de verdadeira batalha. Quatro vezes se interrompeu o espectáculo, e se pôs em perigo a sua continuação: Dezenas de vezes se esboçaram conflitos entre os grupos; Durante cento e cinquenta minutos os escalabitanos, na plateia, guerrearam com gestos e palavras os lisboetas, sintrenses e nortenhos, espalhados pela sala principalmente concentrados nos dois balcões. E frequentemente «grupos de choque» se aventuravam escadas acima, em direcção ao «inimigo». E tudo ao ritmo alucinante da, música moderna, esquartejada pela sala graças a potentes amplificadores.
Assim se exibiram, nos vinte minutos dedicados a cada um, os «finalistas» da tarde. Dois apontamentos se impõem: O facto de qualquer dos quatro conjuntos, mesmo ao interpretar composições de sua autoria, terem cantado exclusivamente em língua inglesa (nem uma só excepção quebrou a regra); A cuidadosa apresentação (no vestuário) do conjunto «Diamantes Negros», mais os extraordinários recursos do seu vocalista.
Enfim, num ambiente «quente», numa atmosfera de tensão «efervescente», o júri, constituído por Pedro Figueira. Vítor Santos, Paula Ribas, Pedro Castelo e Vítor Teixeira, fez anunciar o seu «veredictum» classificado em 1.º o conjunto «Psico» do Porto, que obteve 47 pontos sobre o máximo de 50; 2.º o conjunto «Diamantes Negros», com 40 pontos; 3.º «Os Charruas» com 34 pontos; em 4.º lugar «Equipa 88», com 23 pontos.