sábado, 3 de novembro de 2007

OS NOVOS MARIALVAS


Legenda original: Luís de Freitas Branco, 7º ano do liceu, pratica o desporto e canta "yé-yé".

O semanário da Radiotelevisão Portuguesa, "TV" de seu nome, publicou no dia 15 de Dezembro de 1966 um curioso artigo, "Os Novos Marialvas", que me permito reproduzir:

"Quando começamos a envelhecer ou já somos velhos, é costume, é hábito antigo, dizer mal dos novos: "Esta gente de agora! No meu tempo! Esta geração é de uma irresponsabilidade! Com o que eles se divertem! É uma mocidade perdida! "Aranjam cada dança!". Etc, etc.

"A dança, então, talvez porque cada época cria a sua maneira própria de dançar a sua dança, tem sido tomada como símbolo das gerações.

"Foi assim no tempo do swing, foi assim no tempo do charleston, foi assim no tempo do tango, foi assim no tempo da valsa, deve ter sido assim desde que se inventou o primeiro passo de dança.

"As críticas feitas a estas "inovações" pelos que, por isto ou por aquilo, não as podem interpretar, são infalíveis...

"Evidentemente que há e houve sempree quem faça as críticas na melhor das intenções, quem seja honesto a analisar as gerações mais novas, avaliando imparcialmente o que de bom e de mau nelas existe.

"No entanto devemos confessar que há normalmente um pouco de desacerto nessas apreciações. Aqueles passos que nós consideramos grotescos, idiotas, caricatos, amacacados, animalescos, etc, com que a juventude se diverte, fazem-nos recordar o que não queremos - a nossa velhice, o caruncho a atacar as articulações, a barriga a aumentar de volume...

"Ora a tv, presente em todas amanifestações de juventude - quando parte para ir defender o sólo pátrio da cobiça estrangeira, quando ganha troféus em competições desportivas, nas suas manifestações culturais, nas festas dipicamente fadistas e nas tipicamente "yé-yé" e quando corajosa e vigorosamente bate palmas a um touro -, fala hoje dessa mocidade tão seceramente criticada.

"Através da nossa reportagem quisemos demonstrar que esta geração, que muitos já consideram perdida, é igual a tantas outras - irreverente, atrevida, convencida que vai endireitar o mundo, que quem sabe é "Ela" e não os "velhos", que o mundo governado pelos novos é que estava bem.

"Enfim... gente nova... Engana-se quem vir a juventude só a dançar "yé-yé".

Através de três ou quatro casos pessoais, pode ver-se como são e o que fazem os jovens de hoje. Os Novos Marialvas, aqueles que continuam e mantêm afinal as mais nobres características e tradições do homem português".

O artigo, que está assinado por um Chaubet, inclui várias outras fotografias: Tozé, jogador de futebol do Benfica e aluno do Técnico. Está na tropa onde pertence à polícia militar e - sem embargo - dança "yé-yé". No conjunto "Os Claves", Luís (o viola-ritmo) é furriel miliciano. João Manuel, oficial miliciano, natural de Moçambique, joga ténis e faz uma "perninha" no "yé-yé". José Manuel Concha, do famoso conjunto "yé-yé" "Os Conchas", regressou há pouco da Guiné, onde, como os portugueses de lei de antigamente, se bateu em defesa da Pátria. Raul José, internacional júnior de ragueby, forcado amador e finalista do liceu, dança "yé-yé".

Nota de Pedro de Freitas Branco, directamente do Rio de Janeiro: além do meu Pai, Luís (viola-ritmo e voz), os Claves eram ainda José D'Athouguia (bateria), João Valeriano (baixo), João Ferraz da Costa (órgão) e Luís Pinto Freitas (guitarra-solo e voz principal).

2 comentários:

Fantomas disse...

Eu tenho essa revista!!! O melhor são as fotos porque o texto é de chorar a rir!!!! As fotos dos CLAVES ao vivo, penso que são no Porão da Nau. Sitio onde OS ROCKS tambem actuavam bastantes vezes.

Rato disse...

Mas este texto que o Luís decidiu em boa hora partilhar conosco é belissimo e continua bem actual.