domingo, 13 de abril de 2008

O NOVO "ANTI-CRISTO"


FLAMA nº 963 - 19 de Agosto de 1966

John Lennon como "Anti-Cristo"? Foi o que a redacção da Flama entendeu chamar-lhe na sequência da famosa declaração do músico, abaixo transcrita, em que compara a popularidade dos Beatles à de Jesus Cristo.

A "mais infeliz frase do século", nos dizeres da revista - será que hoje em dia este tipo de declarações ainda causaria controvérsia?

Curiosamente, e apesar de a entrevista de onde provém ter sido publicada em Inglaterra a 4 de Março de 1966, apenas a 29 de Julho do mesmo ano, e nos E.U.A., uma revista para adolescentes a publicaria com grande destaque, dando então início a uma verdadeira cruzada anti-Beatles e anti-rock como poucas terão existido desde então - e que, pelos vistos, até a Portugal estendeu os seus efeitos.

Colaboração de João Carlos Callixto

A declaração original foi a seguinte:

"Christianity will go. It will vanish and shrink. I needn't argue with that; I'm right and I will be proved right. We're more popular than Jesus now; I don't know which will go first - rock 'n' roll or Christianity. Jesus was all right but his disciples were thick and ordinary. It's them twisting it that ruins it for me".

Na sequência da polémica, John Lennon explica melhor as suas posições numa entrevista publicada nos E.U.A.:

John: "If I had said television is more popular than Jesus, I might have got away with it, but I just happened to be talking to a friend and I used the words "Beatles" as a remote thing, not as what I think - as Beatles, as those other Beatles like other people see us. I just said "they" are having more influence on kids and things than anything else, including Jesus. But I said it in that way which is the wrong way."

Reporter: "Some teenagers have repeated your statements - "I like the Beatles more than Jesus Christ." What do you think about that?"

John: "Well, originally I pointed out that fact in reference to England. That we meant more to kids than Jesus did, or religion at that time. I wasn't knocking it or putting it down. I was just saying it as a fact and it's true more for England than here. I'm not saying that we're better or greater, or comparing us with Jesus Christ as a person or God as a thing or whatever it is. I just said what I said and it was wrong. Or it was taken wrong. And now it's all this."

Reporter: "But are you prepared to apologize?"

John (thinking that he had just apologized, because he did): "I wasn't saying whatever they're saying I was saying. I'm sorry I said it really. I never meant it to be a lousy anti-religious thing. I apologize if that will make you happy. I still don't know quite what I've done. I've tried to tell you what I did do but if you want me to apologize, if that will make you happy, then OK, I'm sorry."

4 comentários:

Edward Soja disse...

Que sacrilégio no tempo das verdades inquestionáveis...

Hoje já não há hereges.

josé disse...

Lembro-me muito bem dessa polémica e dos padres do sítio onde andava, a mencionarem, de modo a tentarem influenciar negativamente o gosto pela música de guedelhudos.

Durante vários anos, John Lennon foi vítima do síndroma que atingiu depois o Otelo, por cá:
disse uma coisa e foi interpretado de maneira um pouco mais extensiva.

Otelo disse qualquer coisa como: deveríamos talvez pensar em meter no Campo Pequeno, alguns daqueles que gostariam de nos fazer o mesmo.

Isto dito de modo impensado, foi rastilho que alimentou intenções perversas, imputáveis ao Otelo, ao longo dos anos.
Na altura, o tipo procurou desmentir a interpretação mais maligna, o que não conseguiu, até hoje.


Tal como Lennon, com a declaração infeliz...

Rato disse...

E infelizmente as nossas vivências pautam-se muitas vezes por estes equívocos, porque é o que dá gozo à maioria das gentes e também porque é mais fácil mantê-los do que os desmentir. Até o Cristo disse uma coisa e a interpretação foi outra. Neste caso um pouco mais grave do que o Lennon ou o Otelo pois já "levamos" com mais de dois mil anos de religião em cima.

paulo disse...

Mas o John tinha razão! Os Beatles eram, de facto, mais populares que Cristo! Para mim, ainda são! Aliás, eles são os Cristos!