sábado, 26 de julho de 2008

PETE SEEGER EM LISBOA


Por diversas vezes, Pete Seeger foi sondado para vir cantar a Portugal, mais concretamente à Festa do Avante. Indisponibilidade de datas não o permitiu.. Mas em 2 de Dezembro de 1983 foi mesmo possível trazer Pete Seeger a Lisboa.

Veio com a mulher Toshi, as suas canções, o seu banjo, onde está escrito “esta máquina cerca o ódio e força-o à rendição”. Pelo seu lado, Woodie Guthrie tinha escrito na sua guitarra: “This machine kills fascists”.

Desse memorável concerto foi feito registo sonoro que mais tarde seria publicado em disco. Uma edição limitada de 3.000 exemplares numerados numa caixa que contém 1 LP, o livro-programa do espectáculo, folheto com textos da gravação com tradução para português das canções, as fotos do espectáculo.

Tanto quanto sei, não há, em Portugal, registo deste concerto em CD (não sei se ainda há, mas já houve, uma edição de luxo da Movieplay, de 1998 - nota do editor), mas no “Amazon” está à venda, por US$ 18,97, uma edição americana com o título “Pete Seeger - Live in Lisbon”.

Se excluirmos as condições acústicas do Pavilhão do Desportos, os meios modestos de reprodução do som, pode dizer-se que poucas vezes um espectáculo, em Portugal, teve uma concepção e uma edição tão bem cuidada.

O programa é um livro de 142 páginas que apresenta vasto material documental da vida, do trabalho e da obra de Pete Seeger, um homem calmo, “ianque de esquerda” como gosta de se chamar, ou, como disse ao jornalista Viriato Teles: “espero que vocês pensem que sou comunista”.

Aborda o seu aparecimento na música folk americana a partir dos anos 30, os primeiros passos dados com Woody Guthrie, Leadbelly, Allan Lomax, a sua passagem pelos Almanac Singers, pelos Weavers: “nunca me considerei simplesmente um artista. Considero-me um contador de histórias, algumas vezes, um organizador. Mas talvez tenha sido uma sorte estar na lista negra – talvez nunca tivesse feito boa música, se não estivesse”.

Um capítulo do programa abarca o enquadramento histórico e político que envolve a vivência musical de Pete Seeger, com especial incidência para o tempo do mccarthysmo e os testemunhos de Seeger na Comissão de Actividades Anti-Americanas:

“Não responderei a nenhuma pergunta sobra as minhas actividades associativas, sobre os meus credos filosóficos ou religiosos, sobre as minhas convicções políticas ou, ainda, sobre como votei em qualquer das eleições.

"Considero tais questões impróprias para serem postas a qualquer americano, particularmente sobre coerção, como acontece aqui. (…) Sei que, em toda a minha vida, jamais fiz o que quer que fosse de natureza conspiratória e sinto profundamente que, na intimidação para comparecer perante esta comissão esteja implícita a diferença existente entre as minhas opiniões e as vossas e que por isso me considerem menos americano que qualquer outro.

"Mas amo muito o meu país(...) Há vinte anos que, por toda a parte, canto canções populares da América e doutros países. A canção, cujo título foi especificamente citada neste julgamento, “Wasn’t That a Time”, é uma das que prefiro. Gostaria de ter a vossa autorização para a cantar aqui antes de terminar".

- Não pode, retorquiu seco o juiz Murphy.

O concerto de Pete Seeger em Lisboa foi promovido por uma comissão constituída por António Macedo, Daniel Ricardo, João Paulo Guerra, José Jorge Letria, Ruben Carvalho, Sérgio Godinho e que dedicam o livro programa a “Adriano Correia de Oliveira que também estaria com todos nós".

A gravação do espectáculo foi feita por Moreno Pinto, Joca, Paulo Junqueiro e misturado nos Estúdios RT 1 por Moreno Pinto. O arranjo gráfico da caixa, do folheto, do programa é de José Araújo.

Colaboração de Gin-Tonic

8 comentários:

NS disse...

encontrei um relato da época interessante em www.viriatoteles.net

filhote disse...

Falou-se da Festa do Avante, esse exemplo de organização, solidariedade e cultura.

Não posso deixar de aqui escrever que um dos maiores orgulhos da minha carreira de músico foi actuar no palco da Festa do Avante. Como Pedro e os Apóstolos.

Foi no Verão de 1997. O nosso primeiro disco tinha sido editado há pouco tempo, e por isso não tivemos direito ao palco principal, mas sim, ao palco daquele pavilhão/tenda enorme situado na zona mais baixa do recinto - não me recordo do nome.

Posso dizer que foi um sucesso. Actuámos durante hora e meia para uma "casa cheia" por uns 3.000 espectadores. No encore, lembro-me como se fosse hoje, tocámos "Drive My Car" dos Beatles! Foi uma festa!!!

Jack Kerouac disse...

Chama-se Palco 1º de Maio, e é o 2º em termos de importância. Posso te dizer que foi onde actuou Sergio Godinho á 2 anos, por exemplo. Não vi esse teu concerto, infelizmente, mas a oferta é sempre muita, e por vezes é difícil optar.

Um disse...

The Band, na biografia "This Wheel's On Fire", têm uma curiosa apreciação da sua passagem pela festa do Avante.

ié-ié disse...

E o meu amigo não quererá fazer um post com essas impressões da Band? Eu não tenho o livro... Seria uma boa!

LT

filhote disse...

Amigo Hugo, quero partilhar o que estou a ouvir neste momento...
"We Shall Overcome-Pete Seeger, Recorded Live at His Historic Carnegie Hall Concert, June 8, 1963"... fabuloso... trata-se da edição original stereo "360 sound" da Columbia (CS 8901)do próprio ano de 63!!!

Que som!!!

filhote disse...

E, caro Um, também estou à espera desse texto sobre The Band e a sua passagem pela Festa do Avante!

alexandra ferreira disse...

Boa Tarde,
Tenho um deste 3000 exemplares (o n.º 2803). Está em bom estado, quase sem uso, Contém 1 LP, o livro program,a e folheto com textos da gravação e fotos. Vendo... Aceito propostas de preço para alexandra.ferreira44@gmail.com