O Billy vestia à Ivy League como se tivesse acabado de sair de Yale - estatura média, cabelo preto encaracolado. Tinha ar de quem nunca se tinha pedrado na vida, de quem nunca se metera em sarilhos.
Entrei a medo no gabinete dele, sentei-me à frente da secretária e ele tentou arrancar-me alguns factos, como se eu tivesse que lhos dar logo ali e sem mais.
Pegou num bloco de notas e num lápis e perguntou-me de onde é que eu era. Disse-lhe que era do Illinois e ele anotou.
Perguntou-me se já tinha tido outro trabalho e respondi-lhe que já tinha tido uma dúzia de empregos, até conduzira uma vez uma carrinha de padaria.
Anotou tudo e perguntou-me se havia mais alguma coisa. Disse-lhe que já tinha trabalhado nas obras e ele perguntou-me onde.
- Em Detroit.
- Já viajaste um bocado, não?
- Pois.
Perguntou-me àcerca da minha família, de onde eram. Disse-lhe que não fazia ideia, que tinham morrido, há muito tempo.
- Como era a tua vida em casa?
Disse-lhe que tinha sido corrido.
- O que é que o teu pai fazia?
- 'lectricista.
- E a tua mãe, como era?
- Dona de casa.
- Que tipo de música é que tocas?
- Música folk.
Que género de música é a música folk?
Disse-lhe que eram canções que vão passando e se apanham por aí. Detestava este tipo de perguntas. Achei que podia ignorá-las. Billy parecia que tinha dúvidas a meu espeito e cá por mim tudo bem. De resto, não me apetecia responder às perguntas e não sentia necessidade de explicar o que quer que fosse a ninguém.
- Como é que chegaste aqui?
- Vim à boleia num comboio de mercadorias.
- Quer dizer, comboio de passageiros?
- Não, comboio de mercadorias.
- Quer dizer, num vagão de carga?
- Isso, num vagão de carga. Como num comboio de mercadorias.
- Ou isso, num comboio de mercadorias.
"Crónicas - Volume I", Bob Dylan, Ulisseia, 217 págs. €10.49
Entrei a medo no gabinete dele, sentei-me à frente da secretária e ele tentou arrancar-me alguns factos, como se eu tivesse que lhos dar logo ali e sem mais.
Pegou num bloco de notas e num lápis e perguntou-me de onde é que eu era. Disse-lhe que era do Illinois e ele anotou.
Perguntou-me se já tinha tido outro trabalho e respondi-lhe que já tinha tido uma dúzia de empregos, até conduzira uma vez uma carrinha de padaria.
Anotou tudo e perguntou-me se havia mais alguma coisa. Disse-lhe que já tinha trabalhado nas obras e ele perguntou-me onde.
- Em Detroit.
- Já viajaste um bocado, não?
- Pois.
Perguntou-me àcerca da minha família, de onde eram. Disse-lhe que não fazia ideia, que tinham morrido, há muito tempo.
- Como era a tua vida em casa?
Disse-lhe que tinha sido corrido.
- O que é que o teu pai fazia?
- 'lectricista.
- E a tua mãe, como era?
- Dona de casa.
- Que tipo de música é que tocas?
- Música folk.
Que género de música é a música folk?
Disse-lhe que eram canções que vão passando e se apanham por aí. Detestava este tipo de perguntas. Achei que podia ignorá-las. Billy parecia que tinha dúvidas a meu espeito e cá por mim tudo bem. De resto, não me apetecia responder às perguntas e não sentia necessidade de explicar o que quer que fosse a ninguém.
- Como é que chegaste aqui?
- Vim à boleia num comboio de mercadorias.
- Quer dizer, comboio de passageiros?
- Não, comboio de mercadorias.
- Quer dizer, num vagão de carga?
- Isso, num vagão de carga. Como num comboio de mercadorias.
- Ou isso, num comboio de mercadorias.
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